Estava claro que isso aconteceria.

C.A.

      12/10/2009
     
      A conta do desequilíbrio
     
      Editorial
     
     

                 
            A anunciada intenção do governo federal de desacelerar as 
restituições do Imposto de Renda das pessoas físicas pago a mais na fonte, 
confirmada pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, e rechaçada posteriormente 
pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, diante da repercussão negativa da 
notícia, chama a atenção para uma rotina do setor público. 

            O problema de caixa do governo tem razões múltiplas, mas só 
alcançou dimensões de impasse por uma razão muito simples: é mais fácil tentar 
transferir automaticamente a conta para uma classe média sem poder político do 
que enfrentar as pressões por reajustes salariais de categorias funcionais 
organizadas. Obviamente, essa prática não tem como ser tolerada.

            Descontinuada ao longo do ano, a devolução do Imposto de Renda pago 
a mais não chega a configurar atraso, pois a Receita Federal não tem qualquer 
compromisso de seguir à risca prazos assumidos mais no plano político. 

            Ainda assim, fica difícil para o contribuinte aceitar o fato de o 
mesmo país que se mostrou capaz de passar da condição de devedor à de credor do 
Fundo Monetário Internacional (FMI) estar sem recursos suficientes em caixa, a 
ponto de precisar punir ainda mais o contribuinte pessoa física. 

            Por isso, independentemente da forma como as divergências internas 
serão enfrentadas, é inaceitável que o contribuinte, já às voltas com uma carga 
tributária a cada ano mais excessiva, possa ser ainda mais prejudicado.

            Em parte, uma das razões do desequilíbrio financeiro enfrentado 
hoje é o fato de o Planalto ter decidido atacar a desaceleração imposta ao 
setor produtivo pela crise econômica global com a desoneração de bens de 
consumo cujas vendas dependem em geral de financiamento de longo prazo. 

            A providência assegurou os resultados pretendidos, fazendo com que 
a arrecadação menor pudesse ser compensada pela continuidade nas vendas e 
permitindo ao país se antecipar na saída da crise. 

            A normalização da arrecadação de impostos, porém, não ocorreu na 
mesma velocidade da retomada da produção e a estimativa é de que isso só vá 
ocorrer em novembro. Nada disso, porém, justifica a opção por soluções 
simplesmente por serem mais práticas.

            O contribuinte não tem por que arcar com o custo de um descompasso 
entre receita e despesa para o qual não contribuiu, como ocorreria numa 
eventual desaceleração das restituições do Imposto de Renda. 

            O que o governo federal precisa fazer é enfrentar o problema pelo 
lado das despesas, reduzindo os gastos de custeio e os determinados por 
reajustes salariais de categorias mais influentes de servidores. 

            Não há outra forma de garantir o equilíbrio das contas públicas sem 
prejudicar quem já se encontra há algum tempo sufocado por tanto imposto.
           
              
            Zero Hora / RS - Editorial
           
     


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