PT=PSDB=PMDB=PP=...=...=... assim como
Lula=FH=Collor=Itamar=Sarney=...=...=...

C.A.

----- Original Message ----- 
From: "Fa" <fco...@uol.com.br>
To: <destinatarios-nao-revelados:>
Sent: Monday, November 23, 2009 6:30 AM
Subject: [gl-L] Especial Sarney de charges - PMDB: o retrato de um Brasil 
atrasado



Oi


Especial Sarney de charges
http://www.diogosalles.com.br/especial2009sarney.asp



PMDB: o retrato de um Brasil atrasado
Diogo Salles


Imagem: Sir Ney, por Millôr Fernandes
http://www.digestivocultural.com/upload/diogosalles/sarney.gif


Dentre as suas inúmeras particularidades, o Brasil sempre me chamou a
atenção para uma em especial: a de ser o eterno "país do futuro". Não me
entenda mal, sempre amei meu país, mas nunca compreendi bem se isso era
só um nacionalismo capenga ou se era uma espécie de síndrome de
vira-latas com o sinal invertido. Quantas gerações nasceram debaixo
desse mantra? Nem sei dizer. Sei que todas elas cresceram e amadureceram
com a percepção de uma realidade diferente. E, ainda assim, a esperança
continuava se renovando a cada filho nascido aqui. Acontece que, nos
últimos anos, esse sentimento vem ganhando força de uma outra forma:
pela primeira vez, o mundo lança um olhar diferente (curioso, talvez)
para o Brasil. Agora, sob o título de "país emergente", de siglas como
"G20" e "BRIC" e de logomarcas como "Rio 2016" somos vistos por outra
perspectiva aos olhos estrangeiros.

Por outro lado, nossas últimas manchetes desconstroem toda essa imagem
que o Brasil quer forjar no exterior: o presidente do Senado mandando
seu amigo desembargador expedir um mandado de censura prévia ao jornal O
Estado de S. Paulo, um helicóptero abatido a tiros por traficantes no
Rio de Janeiro e uma aluna de minissaia sendo ameaçada de estupro por um
batalhão de homo sapiens numa "universidade" em São Paulo. Isso sem
falar que a mesma "universidade", quando resolveu expulsar alguém,
expulsou a aluna... Não adianta esconder: antes de ser qualquer coisa, o
Brasil é o país da contradição, é um conjunto de oxímoros. Se de um
lado, estamos conquistando nossa cidadania internacional (nas palavras
do presidente), de outro, o nosso noticiário político-policialesco
desmente tudo, desencavando fósseis de nossa mentalidade retrógrada,
provinciana, quase medieval. O mundo lá fora está querendo saber: "que
país é o Brasil?". Talvez já tenha passado da hora de nos fazermos a
mesma pergunta.

É inquestionável o fato de que o Brasil mostrou um amadurecimento
institucional importante desde o impeachment de Fernando Collor em 1992.
De lá para cá, adquirimos uma estabilidade que nunca havíamos
experimentado ― principalmente no aspecto econômico. Como já escrevi
aqui, por pior que sejam as crises econômicas, elas vêm e vão, e a roda
continua girando. Nossa crise, como frisei, é sempre política. Outro
dia, Lula, em uma de suas divagações à imprensa, comemorava o fato de o
Brasil não ter "trogloditas de direita" na disputa presidencial. É uma
constatação óbvia, mas o presidente fez questão de esquecer que os
"trogloditas" ficaram todos empilhados entre seu partido e o PSDB, já
que nunca tiveram grandes chances de chegar ao poder desde a queda da
ditadura militar. E de 1994 para cá não vemos um candidato de direita
com qualquer chance de chegar sequer ao segundo turno. Assim, PT e PSDB
(ambos com origens na esquerda), se tornaram os partidos hegemônicos no
Brasil. E, assim que chegaram ao poder, migraram para o centro, com o PT
se transformando numa espécie de centro-esquerda (muito mal ajambrada,
por sinal) e o PSDB num partido de centro, ou extremo centro (alguém
falou "em cima do muro"?).

Hoje, a polarização entre os dois partidos é bastante clara no discurso,
mas tal debate não se confirma na prática. O que ambos justificam como
"pragmatismo", numa ampla "coalizão", é na verdade uma gosmenta geleia
partidária, com aluguel de ideologias para todos os gostos. Se os
tucanos se aliaram ao DEM (ex-PFL, ex-Arena), os petistas se aliaram ao
PP (dos mega-reaças Maluf e Severino Cavalcanti) e ao PR (ex-PL). No
jogo bruto de "alianças espúrias" com os "trogloditas de direita", deu
empate. No jogo retórico, ambos apontam o outro lado como "amigos dos
banqueiros" ― mais um empate (bom para os bancos, que continuam
lucrando, lucrando...). No jogo do "caixa dois" eleitoral e nos
milionários contratos arranjados com as empreiteiras, adivinhe só, jogo
empatado mais uma vez. Pois é, PT versus PSDB é mesmo um clássico
eletrizante.

As militâncias que me desculpem, mas foram dois governos que se
complementaram ― muito mais do que ambos os lados gostariam de admitir.
Depois de 15 anos, para mim, ficou tudo muito claro: um lado privilegia
reformas estruturais e puxa a sardinha para as "empresas parceiras",
garantindo-lhes robustos contratos. O outro, puxa para as centrais
sindicais, aninhando-a na burocracia estatal e investindo mais forte em
programas sociais. Gostem ou não, as diferenças entre os dois partidos é
meramente cosmética. O resumo da ópera bufa é que o poder se reveza
entre a "turma dos amigos do PT" e a "turma dos amigos do PSDB".

Lula e FHC governaram o país por quatro mandatos. Só que, para isso, não
abriram mão da "Realpolitik" ― que aqui ficou conhecida como
"governabilidade". Se os "troglôs" não dispõem mais de força política
própria (que sorte a nossa!) e se conformaram em ser meros coadjuvantes,
quem seria capaz de patrocinar essa governabilidade postiça do governo
petistucano?

Eis que chegamos ao PMDB, o partido que explica nossa forma de fazer
política como nenhum outro: vazio de projetos para o país, lotado de
projetos pessoais. O partido que antes brandia a bandeira da oposição à
ditadura militar e agora não quer largar o osso. Quem ambiciona o poder,
buscará inevitavelmente essa "aliança". A razão é muito simples e
estratégica: as bancadas do PMDB são sempre as maiores no Congresso e em
Assembleias locais e, portanto, necessárias para se obter a tal
"governabilidade". FH e Lula aprenderam isso na marra. Quando não há um
candidato próprio, os peemedebistas posicionam suas diferentes facções
ao lado dos candidatos mais fortes e apenas esperam despontar o
vencedor. Assim, sem precisar fazer muito esforço, estarão no poder,
qualquer que seja o resultado. Do outro lado do balcão, ele estará
sempre de braços abertos para fechar um ótimo negócio . O preço? Cargos,
verbas, emendas, e o que mais houver na "agenda pragmática".

Esse é o modelo PMDB e, consequentemente, o modelo do Brasil:
personalista, clientelista, fisiológico, atrasado. Se o apoio não pode
ser negociado, a saída é comprá-lo com uma teta estatal. Aqui, arrota-se
meritocracia, mas pratica-se o mais desavergonhado compadrio. No jogo da
"brodagem" não há perdedores. Todos levam o seu. Se algo der errado,
basta justificar que todos jogam o jogo, assim, não haverá condenações.
Quem questionar, será cooptado. Quem recusar a cooptação, será
intimidado. E quem não se intimidar ― se tiver sorte ―, será apenas
expurgado.

Assim, o PMDB tem sido o fiador da manutenção do status quo há 15 anos,
perpetuando um sistema de troca de favores que sempre contou com a
rubrica presidencial. Mesmo assim, as críticas eram tímidas, fragmentas.
Só que, em 2009, dois fatos contribuíram para uma reviravolta nesse
quadro. O primeiro foi a entrevista de Jarbas Vasconcelos à Veja. As
comportas foram abertas (e as palavras sempre pesam mais quando vem de
alguém de dentro do partido). O segundo foi a eleição de José Sarney
para a presidência do Senado Federal ― que a revista britânica The
Economist classificou como "vitória do semifeudalismo". Mesmo já tendo
50 anos de semifeudalismo nas costas, só agora Sarney ganhou os
holofotes que merecia, se tornando o porta-retrato do nosso atraso,
amarelado pelo tempo. Atos secretos, loteam ento de cargos, nepotismo,
funcionários fantasmas, desvios de verbas da Petrobras para a sua
"Fundação Sarney" e uma infinidade de escândalos fizeram dele o grande
personagem político do ano. Quando Sérgio Buarque de Holanda descreveu,
ainda em 1936, a figura do "homem cordial" em seu livro Raízes do
Brasil, jamais poderia supor que fosse existir um ator tão apropriado
para interpretá-lo... And the Oscar goes to: Sir Ney!

Mas o PMDB não é só o coronelismo de Sarney, não. É a impunidade de
Jader Barbalho, é o caciquismo de Orestes Quércia, é a homofobia de
Roberto Requião, é o puxasaquismo de Sergio Cabral Filho, é o cinismo de
Renan Calheiros, a lista não tem fim. E tanto PT quanto PSDB sabem que,
sem o PMDB, o país fica ingovernável, mas não percebem que, com ele,
fica tão ou mais ingovernáve l. Infelizmente, os ventos não sinalizam
que vá haver alguma mudança de direção em nossa "agenda pragmática".
José Serra e Dilma Rousseff, os candidatos petistucanos mais bem
posicionados nas pesquisas, já fecharam com o PMDB. Quer dizer, cada um
fechou com o seu naco do partido. Assim, ficou fácil predizer que,
qualquer que seja o vencedor das eleições de 2010, lá estará o mamute
peemedebista, retroalimentando uma base cheia de apetites por cargos,
verbas e favores. E o Brasil ainda continuará imerso em seu pântano
político, comprando (e vendendo) facilidades (e amigos).

Não sou tão catastrofista a ponto de dizer que a situação (e a oposição)
só vai piorar com o tempo. Só espero que, no futuro, haja um mínimo de
espírito público na política (que hoje é zero). Pena que, se isso
ocorrer mesmo, nossa geração não estará mais aqui para ver. Faço votos
para que os futuros eleitores do Brasil encontrem uma maneira diferente
de encarar a política: espero que troquem a atual obediência pela
vigilância, espero que transformem o atual medo dos poderosos em
cobrança por mais respeito com o dinheiro público. Não somos nós que
devemos temer os governantes. São eles que devem nos temer. Enquanto não
formos capazes de compreender isso, não seremos "o país do futuro". E,
parafraseando Millôr, enquanto tivermos essa cara de PMDB, continuaremos
condenados à esperança.



Diogo Salles
São Paulo, 17/11/2009

Retirado de
http://www.digestivocultural.com/colunistas/imprimir.asp?codigo=2936


Beijins
Fa
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"Barba no pescoço coça muito, principalmente quando não é a sua."
- rafinhabastos

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