Brasil um pais de Tolos ---------- Forwarded message ----------
http://www.cidadebiz.com.br/conteudo_detalhes.asp?id=52843&iduser=17312 ANTONIO MACHADO Correria para capitalizar Petrobras expõe exaustão do Estado para apoiar o pré-sal e o crescimento Acionistas privados entram com dinheiro vivo, único que importa à estatal, e o governo, com papéis de divida do Tesouro 27/8/2010 - 18:25 - Antonio Machado A correria do governo para fechar o processo de capitalização da Petrobras não está bem explicada pelas razões factuais, que focam os investimentos para a exploração do pré-sal. O atraso de algumas semanas ou meses não faria diferença para uma operação prevista a entrar em produção a partir de 2014 e, em regime, na outra década. A imensa riqueza submersa na plataforma continental do país, nas contas da Petrobras, deverá adicionar até 2020 mais 3 milhões de barris/dia à produção diária atual de 2 milhões, e será quase toda exportada – se a relação do consumo interno de energia por unidade de produto correr abaixo do crescimento esperado da economia. Em termos líquidos, abatida a demanda doméstica, estima-se que o saldo para exportação será amplamente favorável, mas condicionado à expansão da oferta de etanol, às novas hidrelétricas, às fontes alternativas, como eólica e solar, e a um plano de racionalização do consumo de energia em todos os níveis nem sequer iniciado. Sem a sintonia perfeita da matriz energética, o petróleo que sair do pré-sal será aqui mesmo queimado. Basta que a economia cresça à base de 5% ao ano até 2020 e não mude o padrão do consumo corrente de derivados do petróleo. A exportação líquida, ai, será residual. É meio como hoje. Sem problema para a Petrobras, se puder casar a receita de exportação com suas despesas em dólares, realizando em reais mesmo o grosso de seu resultado. Problema será do país, pois se frustrará em tal cenário a grande alavanca para a construção de maciços superávits externos - o capital para catapultar a economia ao patamar de nação desenvolvida. E isso na mesma década em que as grandes potências poderão encolher em relação aos emergentes. A equação do pré-sal, por tudo isso, é muito mais complexa do que sugere a retórica ufanista do governo. Admita-se, porém, que será conforme o previsto, com ingressos tão volumosos que problema será impedir a valorização do real. Se ela já leva a balança comercial hoje a encolher, com o pré-sal o real apreciado poderá arruinar a agricultura de exportação e a indústria instalada no país. O antídoto é o fundo soberano, criado para reter parte da receita em divisas, aplicá-las fora do país e destinar a renda obtida em investimentos sociais, infraestrutura e inovação tecnológica. No papel, tudo é belo No papel, tudo fica uma beleza. A maioria dos políticos, quando o novo regime de exploração passou pelo Congresso, se embriagou com o potencial da riqueza enterrada em alto mar, e foram à luta pela partilha dos royalties aos estados e municípios. Não há registro de apreensão para entender a dificuldade oceânica que a Petrobras enfrentará para escarafunchar o pré-sal e o custo da empreitada. Pelos próximos vinte anos, o pré-sal será mais salgado que doce, já que, para virar dinheiro, primeiro a Petrobras terá de investir pesado – US$ 214 bilhões entre 2010 e 2014, e é só para começar. E será bem sucedido se tais investimentos não sugarem as demandas de capital para expansão de outros setores, já limitadas pelo virtual esgotamento da capacidade de emprestar do BNDES e pelo teto baixo, pelo menos por enquanto, do mercado nacional de capitais privados. O caixa público aguou O fato de o governo capitalizar a fatia majoritária do Estado no capital da empresa com a emissão de títulos de dívida pelo Tesouro – a contrapartida financeira da cessão onerosa de até 5 bilhões de barris de petróleo das reservas da União a serem ainda exploradas -, enquanto os acionistas privados entram com dinheiro vivo, único que importa à Petrobras, expõe a carência do funding público. O governo exigiu da Petrobras mais do que ela pode investir com a geração de caixa, lucros retidos e a capacidade de se endividar. E o fez acumulado a outros megaprojetos que também vão exigir - além do que já requer a própria dinâmica da aceleração do crescimento – um volume de investimentos recorde, só comparável, como relação do PIB, ao do último ciclo de expansão acelerada, nos anos de 1970. Outro modelo econômico Essa não é uma questão estritamente financeira, mas de modelo do crescimento que se quer. A polêmica da capitalização da Petrobras mostra que o financiamento público é limitado. É preciso trazer o capital privado para tais iniciativas, e redirecionar a ênfase do crescimento movido pelo consumo para o impulsionado pela dinâmica do investimento. Isso implica moderar o ritmo do gasto público e as facilidades do crédito ao consumo. Se tal transição for suave e lenta, pouco se notará. Mas será outro modelo de economia. O lixo ou a redenção A transição para um ciclo acelerado do investimento possivelmente encontrará resistências, e exigirá extrema habilidade política do novo governo. Quem está agarrado ao Estado não vai querer ceder um centavo. Nunca cedeu pacificamente. Esse veto explícito poderá ser contornado, se o gasto público crescer abaixo do ritmo de expansão do PIB, mas sem encolher em termos reais. Dá para fazer sem doer. Importa considerar também que o problema não se deve a Lula nem a quem o suceder. Qualquer um encontraria tais obstáculos. Eles são inerentes ao tamanho estreito da economia quando surge a tendência de pleno emprego. No passado, quando havia a asfixia cambial, quem fosse governo pisava no freio, gerando o tal para—anda responsável pelas décadas perdidas. A década que vai começar não pode também acabar no lixo.