Enviado por Lucia Hippolito - 6.9.2010 | 17h18m eleições 2010 Vale tudo, até desmoralizar a Receita Federal
No mais recente episódio de quebra de sigilo realizada dentro de entidades da administração pública federal, salta aos olhos a leviandade e o descaso com que o governo vem reagindo ao assunto. Até agora, o governo Lula está tratando da quebra de sigilo como um problema eleitoral e vem dando a ele respostas eleitorais. "Não foi o PT", brada o presidente do partido, José Eduardo Dutra. "Ninguém da campanha de Dilma está envolvido", afirma candidamente um dos coordenadores, José Eduardo Cardoso. Em 2009, quando ocorreu o "malfeito", "eu não era nem candidata", retruca Dilma Rousseff, numa declaração das mais estapafúrdias. Não só ela já era candidata há muito tempo, como José Serra também era. Mas o problema é institucional. Abala a credibilidade de uma instituição do Estado brasileiro, a Receita Federal. Receita que é subordinada ao Ministério da Fazenda, cujo titular, o ministro Guido Mantega, saiu-se com essa: "Vazamento sempre houve". Como assim, Excelência?! O secretário da Receita não vai ser demitido? O ministro não vai declarar que uma rigorosa investigação vai pôr fim a essas irregularidades? Não, nada disso. Para proteger a candidata e sua campanha, o ministro dá sua importante parcela de contribuição para desmoralizar a Receita Federal. O prejuízo que isto causa ao Estado brasileiro é incalculável. O nível de desconfiança do cidadão em relação ao Estado, que já não é baixo, cresce barbaramente quando ocorrem episódios como esses. O cidadão se sente indefeso, desprotegido. Sua vontade é sonegar, não entregar mais ao Estado a guarda de seus segredos, de sua privacidade. Mas em vez de se preocupar em zelar por uma instituição que está sob seu comando, o ministro da Fazenda joga lenha na fogueira: "Vazamento sempre houve". Convenhamos, Excelência! Devemos concluir que o Estado brasileiro transformou-se numa peneira, onde tudo vaza? Vazam os dados pessoais de milhões de jovens inscritos no Enem. Vazam os dados bancários do caseiro Fracenildo. Vazam as despesas pessoais da falecida primeira-dama Ruth Cardoso e do ex-presidente Fernando Henrique. Vazam dados fiscais de membros do PSDB e de contribuintes sem militância política. A Caixa Econômica Federal teve grande prejuízo de imagem quando foi violado o sigilo bancário do caseiro Francenildo, a mando do então ministro Palocci -- ou de seus amigos, que queriam agradá-lo. Agora, a Receita Federal é apanhada em escândalo de violação de dados sigilosos, e o máximo que o governo declara é, através de seu ministro da Fazenda, que "vazamento sempre houve". Isto não prejudica apenas a Receita. Lança um manto de suspeição sobre vários órgãos do Estado brasileiro, que guardam dados sigilosos dos cidadãos. Estado que não está cumprindo suas funções a contento. Em: http://oglobo.globo.com/pais/noblat/luciahippolito/ Carlos Antônio.