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sem comentários
a diferença entre um jornalista e um palpiteiro de lista...

Elio Gaspari - Página 6
   O computador-polvo da Receita de Mauá
ELIO GASPARI

*ELIO GASPARI*

Se todas as instituições funcionarem na velocidade habitual, a quebra do
sigilo fiscal do tucanato poderá chegar à primeira condenação (pífia) em
2015, pois esse é o balanço do mensalão de 2005. Ou não irá a lugar algum,
como o episódio dos aloprados de 2006. Mesmo com o vigor e a celeridade das
instituições americanas, o caso Watergate, ocorrido durante a campanha
presidencial de 1972, custou o mandato a Richard Nixon dois anos depois, por
ter atrapalhado a investigação.

Só em 1974 um de seus colaboradores foi para trás das grades.

A imprensa expôs o crime, mas a quadrilha foi detonada por um juiz rápido e
pelos procuradores, socorridos por 43 jovens advogados, entre eles Hillary
Rodham, mais tarde, senhora Clinton.

No dia 30 de setembro do ano passado, com uma procuração falsa, o contador
Antonio Carlos Atella obteve na Delegacia da Receita de Santo André cópias
das declarações de imposto de renda de Veronica Serra de 2008 e 2009.
Descoberto o ilícito, informou que jamais pertenceu a qualquer partido:
“Tenho nojo de política.” Mentira: era filiado ao PT (de Mauá) desde 20 de
outubro de 2003. Segundo uma nota divulgada pelo presidente do PT paulista,
Edinho Silva, a filiação de Atella jamais se consumou, porque seu nome fora
grafado como “Atelka”.

Falso. Com a grafia correta, sua filiação foi registrada na 217ª Zona
Eleitoral. Petista, Atella é irmão de petista e cunhado de petista, de uma
família de fundadores do partido no município.

Coisa esquisita, daquelas que o MP gosta: oito dias depois da coleta das
declarações de Veronica Serra, ocorreu um novo ataque aos seus dados, bem
como às contas de cinco grão tucanos e um parente torto de José Serra, na
Delegacia de Mauá.

No dia 3 de abril de 2009, o analista tributário Gilberto Souza Amarante,
funcionário da Receita Federal em Formiga (MG), entrou na base cadastral de
Eduardo Jorge Caldas Pereira. Amarante é filiado ao PT desde 2001. O
cadastro só libera informações triviais, como o número do CPF e o telefone
da pessoa e Amarante diz que buscava um homônimo.

Esquisito, mas um exame de seu computador poderá esclarecer a dúvida. Se
tiver procurado por outros “Eduardo Jorge”, pode-se acreditar nele. Senão,
não.

Tomando-se por verdadeiras as palavras das funcionárias da Receita cujas
senhas e computadores foram usados para quebrar sigilos, aparecem novas
esquisitices. Uma deixava a senha sobre a mesa. Outra emprestava-a a uma
subordina da. O ataque ao sigilo das contas de Veronica Serra teria ocorrido
no seu horário de trabalho. Os outros, enquanto a mesma servidora almoçava
com o marido, pelo 15º aniversário de casamento. Nesse computador-polvo da
Delegacia de Mauá, entre 1º de agosto e 8 de dezembro de 2009, deram-se
2.949 acessos a dados cadastrais ou sigilosos. De acordo com o regime de
trabalho da servidora, seriam dez acessos por hora. Esquisito, mas
disseramlhe que o polvo “ligava sozinho”.

Durante vinte horas a Receita e o Ministério da Fazenda sustentaram que
Veronica Serra assinara uma procuração solicitando a retirada de suas
declarações de renda. A informação de que Atella tinha o perfil de um
delinquente já estava disponível na burocracia federal.

ELIO GASPARI é jornalista.

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