Passageiro nos EUA fica sem assistência 

"Quem quiser voltar ao Brasil que compre passagem em outra compa-
nhia".  Foi essa a informação dada ontem a passageiros e à Folha 
no guichê da Varig no aeroporto JFK, em Nova York.

"A Varig faliu. Já era. Ninguém dá nenhuma satisfação. Ninguém quer 
falar. É um desamparo", diz Elaine Canelada, 34, que desde domingo 
espera para embarcar para São Paulo. "O pior é que eles continuam 
emitindo bilhetes", completa. Ela conta ainda ter conseguido, em 
vão, reserva na Delta Airlines, dada no escritório da Varig no 
Empire State Building.  "Só que a Delta não recebe".

Também com passagem da companhia americana, a paulista Patrícia 
Pacini, 35, esperava desde anteontem. "Não tem vôo. Ninguém vai 
embarcar. Ninguém volta mais ao Brasil."

De repente, no saguão do aeroporto, um grito. Em crise nervosa, 
uma mulher, que chora, é amparada por brasileiros que também não 
conseguem voar.

"Não tenho para onde ir. Estou em pânico, meu vôo era ontem pela 
manhã. Meu Deus, ajude-me. Nunca pensei que fosse ter um pesadelo 
desses", conta a gaúcha Marília Costa Mattos, 44, que tentava 
voltar para Porto Alegre.

O drama, no entanto, não era só dos brasileiros. Famílias para-
guaias se queixavam da falta de assistência. Antolina Yaffar, 72, 
e o marido, Basilicio, 69, diabético, tinham sete passagens em 
mãos, inclusive para crianças de 6 e 7 anos.  Outra paraguaia, 
Leonidas Silveira, 40, queixa-se em guarani.  A reportagem não 
entende, pede para traduzirem. Queria voltar a Assunção, também 
com sete passagens para marido e filhos pequenos e pré-adolescentes.


Vergonha

"Também sou paraguaia, quero falar", diz Aida Sosa, 52, que tentava 
voltar a seu país via São Paulo com os netos Isidro Rodriguez, 11, 
e Jorge Luis, 20. "Que vergonha para o Brasil."

"Ligamos no consulado. Dizem que não podem obrigar a Varig a voar 
nem podem nos dar dinheiro", reclama Jânio Vital, 40, na insistên-
cia de voltar a Belo Horizonte com cinco parentes.

"Não deram solução nenhuma. Mandaram-me para a TAM, mas disseram 
que, como a Varig não pagou a conta, não aceitariam mais", relata 
o brasileiro Sérgio Couto, 34. Tentava à toa voltar a São Paulo 
com mulher e duas filhas crianças.

Passageiros se queixam de que a Varig não paga hotel, transporte 
nem refeição a quem espera voltar ao Brasil ou precisar regressar 
a Manhattan. "Não tem dinheiro", diz um funcionário da companhia. 
A única esperança ontem ainda era a TAM. A empresa fazia reserva 
para lista de espera. Mas só para os tivessem bilhetes endossáveis, 
o que não era o caso da maioria. Quem se dispôs a pagar US$ 900 
(R$ 2.000) conseguiu voltar ontem nos vôos noturnos de outras 
aéreas.


[Folha de S.Paulo]















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