Na boa, se eu soubesse onde está um seqüestrador desses que tivesse feito
isso comigo, meu pai, mãe, esposa, etc. ele não ficaria vivo por muito
tempo.

 

Mas antes, claro, ele seria torturado. Por muito menos tempo, mas de forma
muito mais intensa, para compensar.

 

Justiça? Tá bom. Faço-a eu mesmo.

 

Nem que depois vá pra delegacia e diga “fui eu mesmo”. Mas um cara desses
não ficaria impune.

 

[]s

Sandro Campos Mancini

 

 

De: goldenlist-L@yahoogroups.com [mailto:[EMAIL PROTECTED] Em
nome de AKA
Enviada em: segunda-feira, 24 de março de 2008 10:50
Para: [EMAIL PROTECTED]; goldenlist-L@yahoogroups.com
Assunto: [gl-L] Artigo de 2/3/ 08 - Memórias de um sequestro ....

 

repasso pois conheco a autora

 

----- Original Message ----- 

 

     Amigos: 


Domingo, dia 2/3, O Globo publicou uma entrevista com um terrorista
sequestrador Tupamaro, que foi um dos algozes de meu avô embaixador Aloysio
Gomide quando ele foi sequëstrado em 1970. Ficamos indignados pelo tom de
saudosas e casuais reminiscências de um passado remoto, como se fosse sobre
algo que hoje seria tratado como quase uma mera infantilidade. 
  
Meu pai escreveu a carta abaixo, publicada dia 05/03/2008 no Jornal O Globo
no Rio de Janeiro, para que pelo menos os principais pontos da verdadeira
história fossem conhecidos. 
  
Sintam-se livres para repassá-la, caso achem que vale a pena. 
  
Gostaria que a verdade chegasse ao maior número possível de pessoas. 
  
Abraço, 
  
Maria Carolina 
  
  


  _____  



  

Senhor Redator:

Com relação ao artigo de domingo 02 de março, "Memórias de um seqüestro que
abalou Brasil e o Uruguai", a aparentemente simpática e singela estorinha do
contador David Cámpora, seqüestrador e terrorista aposentado,
convenientemente omite que meu sogro, Embaixador Aloysio Gomide, foi
violentamente arrancado do convívio dos seus e que, para tal, ainda
ameaçaram seu filho de três anos com uma arma na cabeça. Recebeu coronhadas,
foi drogado e levado a seus cativeiros, todos eles subterrâneos,
permanecendo por sete meses de pijama trancado em um cubículo com paredes
forradas com jornais e infestado de baratas, sem ver a luz do sol. 

Sofreu dois fuzilamentos simulados, e era constantemente ameaçado de morte
por seus carcereiros. 

Sua libertação foi resultado da intensa campanha realizada por minha sogra,
Dona Apparecida Gomide, uma dedicada dona de casa e mãe de família que,
tirando forças não se sabe de onde, saiu à luta por seu marido. Com a ajuda
dos apresentadores Flávio Cavalcanti e Abelardo Barbosa, o Chacrinha, e
outros amigos, antigos e novos, conseguiu levar seu desesperado grito por
socorro ao povo brasileiro.  Mulher religiosa e destemida, jamais esmoreceu
na intransigente defesa de seu marido, sendo importuna e inconveniente com
Ministros de Estado e com outras autoridades do governo de então, no Brasil
e no Uruguai, mesmo com o Presidente Médici. Sua presença e insistência,
constante e veemente, era um problema para aqueles que queriam esquecer a
situação de seu marido. Alguns conhecidos faziam o possível para evitar
serem vistos com ela em face da repercussão do caso. 

Por sua conta fez contatos com os seqüestradores. O resgate foi pago com as
generosas contribuições do povo brasileiro, inclusive dos mais humildes, e
com as parcas economias de uma família de classe média com seis filhos
pequenos. O dinheiro foi recolhido, transportado e posto nas mãos dos
terroristas por leais amigas de D. Apparecida.

Durante seus sete meses de cativeiro meu sogro, em estrita honra a seu dever
de diplomata brasileiro, jamais se manifestou em contra de seu governo,
apesar de constantemente instado e ameaçado por seus seqüestradores. Pude
ler as cartas da época a sua mulher. Sabedor que a morte o esperava, pois
seu companheiro de cela Dan Mitrione fora assassinado, preocupava-se muito
com a situação de sua família sem a sua presença. 

Homem profundamente religioso, jamais foi acometido pela desesperança ao
longo dos sete meses de seu cativeiro subterrâneo. Seu silêncio, mesmo
depois de 37 anos, é o protesto de alguém que superou a barbaridade que lhe
foi imposta e que prefere recolher-se ao seio de sua família, em vez de
manifestar sua indignação quando terroristas da época são tratados como
heróis por representantes do povo que pagou por seu resgate. Por exemplo,
quando a Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro homenageou, em medos dos
anos 80, o terrorista-chefe dos Tupamaros, Raul Sendic. 

É  ultrajante que parte de nossa história seja esquecida, omitida ou
convenientemente deturpada para adequar-se à torta ideologia em moda. Fatos
são orwellianamente "ajustados" para criar uma realidade alternativa. Quando
vítimas, alegadas vítimas e pseudo-vítimas da ditadura estão sendo
compensadas com indenizações milionárias e generosas pensões - com direitos
até para não nascidos - como ficam os que sofreram as conseqüências do
terrorismo?  

Por esses motivos, a bem de esclarecer as novas gerações sobre a realidade
do ocorrido, ou pelo menos para que tenham uma pontada de dúvida ao ler
relatos históricos de terroristas, é que evidencio esses fatos.

Atenciosamente,

José Ricardo da Silveira

Foz do Iguaçu

Paraná

 

.


 

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