----- Original Message -----
Sent: Wednesday, November 10, 1999 3:35
PM
Subject: Re: Artigo Aloysio Bondi
-----Mensagem Original-----
Enviada em: Quarta-feira, 10 de
Novembro de 1999 12:17
Assunto: Artigo Aloysio Bondi
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Depois
do petróleo, o dilúvio.
Aloysio Biondi
Em meados de agosto,
quando o Real já havia começado a despencar outra vez, um grande banco
internacional, o ING Barings, divulgou relatório aconselhando seus
clientes investidores a vender os títulos do governo e empresas
brasileiras. Motivo: o risco de "calote", já que a divida do Tesouro
passa dos 400 bilhões de reais e, como os juros aqui
dentro estão(estavam) na casa dos 22 por cento, isso significa uma carga
de juros de uns 90 a 100 bilhões de reais por ano. Ou, arredondando, uns
10 bilhões de reais por mês. Impossível pagar. Tudo o que o governo faz é
emitir "papagaios" novos, isto é, apenas aumenta a dívida.
Explosivamente. A iniciativa "agressiva" do Barings - escondida pela
imprensa pátria, como sempre - apenas tornou publica a desconfiança que
os banqueiros internacionais continuaram a alimentar em relação ao
Brasil. Desmentindo totalmente a famosa "reconquista da credibilidade
internacional" alardeada pelo governo e seus porta-vozes, no primeiro
semestre do ano os bancos internacionais emprestaram apenas 3,5 bilhões
de dólares a empresas brasileiras (isto e, às nacionais e também às
multinacionais). Ou, atenção, cinco vezes menos os 17,5 bilhões de
dólares concedidos em igual período de1998. Esses dados e fatos
ressuscitam a pergunta: por que o FMI e Clinton insistem em ser
tolerantes com o Brasil, mantendo políticas de apoio ao pais, mesmo
quando e evidente que a situação econômica continua em franca
deterioração e sem possibilidade de reversão (ninguém consegue
pagar juros de 10 bilhões de reais por mês)?
A única resposta
possível continua a mesma, a saber: FMI e EUA estão apenas esticando a
corda do governo FHC, tentando adiar o ponto de ruptura que fortaleceria
a oposição, com um objetivo - conseguir que, antes do dilúvio,novas
privatizações sejam feitas. Ou, mais precisamente, que haja novas
desnacionalizações nos setores de exploração do petróleo e geração
de energia elétrica (atenção, repetindo: o governo dos EUA não vendeu
suas empresas de energia elétrica, ao contrário do que se
pensa).
Para quem torce o nariz a essa hipótese, classificando-a de
demasiado fantasiosa: o governo FHC, como quem não quer nada, já anunciou
uma nova rodada de leiloes para "vender" as áreas do território nacional
em que a Petrobrás descobriu jazidas fabulosas - e inclui também os
campos de petróleo submarinos, o que não estava previsto. Vergonha
vergonhosa.
O brasileiro tem vergonha de parecer ufanista, na base
do por-que-me-orgulho-do-meu-pais. Talvez por isso o brasileiro não
tenha colocado na cabeça até hoje que o Brasil possui realmente os campos
de petróleo mais fantásticos do mundo. Parece vergonhoso pela Petrobrás
em fase de exploração e que tem poços capazes de produzir 10.000 barris
por dia. Cada poço. É um numero fantástico, sim, e um recorde mundial,
sim, e que somente encontra concorrentes, com poços capazes de produzir
7.000, 8.000 barris por dia, no Irã, Kuwait, Iraque... O que significam
10.000 barris por dia? A 20 dólares o barril, isso significa o
faturamento de 200.000 dólares, em um único poço. Em um dia. Ou 6 milhões
de dólares por mês. Ou 70 milhões de dólares no ano. Por poço. Uma das
jazidas da Petrobrás na bacia de Campos, Estado do Rio, tem 25 Poços
faturados em cada poço, eles rendem 1,75 bilhão (bilhão, com a letra "b")
por ano. Ou, para arredondar, 2 bilhões de dólares por ano. Ou,
ainda, o equivalente a 4 bilhões de reais por ano. Respire fundo, agora:
são esses campos de petróleo absolutamente fantásticos, os mais
produtivos do mundo, que o governo FHC já começou a doar as
multinacionais, com a ajuda da imprensa. No primeiro leilão, realizado há
poucas semanas, o presidente da David Zylbersteyn, teve a bárbara coragem
(ou outro nome qualquer) de pedir um "preço simbólico" de 50.000 a
150.000 e "mil"com a letra "m", mesmo) reais às "compradoras" dessas
áreas. O governo usou uma desculpa para tentar justificar esses preços
sórdidos: o mercado mundial estaria em baixa, com super oferta de
petróleo. Acontece que desde janeiro os preços do petróleo duplicaram -
d-u-p-l-i-c-a-r-a-m de 10 para 20 dólares o barril. Ao longo de meses
essa informação foi ignorada pela grande imprensa (faca você mesmo um
teste, com seus amigos e família: verifique quantos ficaram sabendo dessa
duplicação). A verdade foi escondida para que a sociedade não discutisse
os preços pedidos pelo governo - ou o que seria mais importante ainda,
discutisse a própria política de privatização do petróleo nacional. Mais
claramente: se as jazidas são as mais fantásticas do mundo, se os lucros
que elas vão proporcionar são fabulosos, por que o governo FHC não
vende ações da Petrobrás a milhões de brasileiros, juntando-se
dinheiro para acelerar as explorações e gerar empregos ? Os EUA e o FMI
não deixam?
Ah, sim: no primeiro leilão, algumas jazidas foram
compradas por 150 milhões, isto é, mil vezes o preço de 50.000 pedido
pelo governo. A imprensa apresentou esse resultado como algo fantástico.
Não é. Continua a ser ninharia. Esmola para povo índio. Basta ver que
esses campos petrolíferos podem faturar 2 bilhões de dólares, ou 4
bilhões de reais, por ano. Em um ano. Contra 150 milhões de reais. Uma
única vez. As oposições precisam mobilizar a sociedade brasileira contra
o novo assalto ao petróleo nacional programado pelo governo FHC, Clinton,
FMI.
Os números, escandalosamente anunciadores, estão aí.
PS:
O presidente FHC diz que a economia está estável, o IBGE diz que o
PIB está estável... A indústria paulista já havia recuado 7 por cento no
1º semestre, e desabou 15 por cento em julho na comparação com
1998. Setores com maior queda? Telecomunicações e equipamentos para
energia elétrica. Isto é, as multinacionais "compradoras" das antigas
estatais continuam a importar tudo. Desempregam, aqui dentro. E continuam
a torrar dólares, afundando ainda mais o Brasil. A desnacionalização
levou o Brasil de volta ao passado. Voltou a ser uma republiqueta
dependente. Ou colônia?
Aloysio Biondi
jornalista.
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