Se a educação rural fizesse os "deveres de casa"...os problemas da
agricultura estariam solucionados 
Polan Lacki 
 
No mundo globalizado  existe um macrofator que, no final das contas,
determina o êxito ou o fracasso econômico dos produtores rurais; todos
os demais fatores, reais ou imaginários, são menos importantes. Este
macrofator chama-se eficiência, dentro e fora das porteiras das
propriedades rurais. Aliás, os agricultores que já são eficientes, têm
rentabilidade, são competitivos e simplesmente não necessitam de
ajudas paternalistas. Os mais problemáticos, dependentes e vulneráveis
são, coincidentemente, os mais ineficientes. Na América Latina, os
governos não têm - e não terão em um futuro previsível - condições de
compensar as ineficiências desses agricultores através de subsídios e
outras ajudas paternalistas. Insistir na generalização e perpetuação
dessas compensações significaria perder tempo, pois tal possibilidade
é nula. Em vez de subsidiar os ineficientes, deveremos educá-los para
que eles mesmos se transformem de ineficientes e dependentes em
eficientes e emancipados. Entr
 etanto, só teremos êxito nesta
empreitada emancipadora se abandonarmos os eufemismos e enfrentarmos,
com determinação e coragem, "a causa das causas" que está originando
as ineficiências desses agricultores. Esta causa está dentro do
sistema de educação rural, isto é, nas escolas fundamentais rurais,
nas escolas agrotécnicas, nas faculdades de ciências agrárias e nos
serviços de extensão rural.
 
Uma verdade que deve ser dita, sem "dourar" a pílula
 
 A principal razão pela qual esses agricultores estão fracassando
economicamente é que eles não sabem produzir, administrar nem
comercializar com eficiência; não por culpa deles, evidentemente. Não
sabem fazê-lo porque, com honrosas exceções, o mencionado sistema de
educação rural não proporcionou - e continua não proporcionando - aos
agricultores os conhecimentos adequados às necessidades do mundo
contemporâneo, o qual, ao ser altamente competitivo, exige que os
agricultores sejam muito eficientes. Então, sejamos objetivos: se as
principais causas dos problemas desses agricultores estão nas
ineficiências do sistema de educação rural, é lá que deverão ser
adotadas as medidas corretivas para eliminá-las. Conseqüentemente, o
referido sistema deve assumir, como sua, a tarefa de corrigir as suas
debilidades e imperfeições. Deverá fazê-lo "de baixo para cima e de
dentro para fora", sem esperar por macrodecisões políticas e recursos
adicionais; mesmo porque algumas dessas sempre de
 sejadas "ajudas externas" são
inviáveis e outras simplesmente prescindíveis. 
 
Proposta estratégica: Substituir as dispersas, efêmeras e excludentes
ajudas paternalista-dependentes por uma estratégia
educativo-emancipadora de dependências. Ou seja, oferecer aos
habitantes rurais uma educação, formal e não formal, cujos conteúdos
os próprios educandos possam aplicar na correção das suas
ineficiências e na solução dos seus problemas, com menor ajuda
governamental, pois esta é decrescente e, para a grande maioria dos
agricultores, simplesmente inexistente.
 
Proposta executiva: Para concretizar esta estratégia
educativo-emancipadora, será necessário adotar apenas as seguintes
medidas:
 
1. Exigir que as escolas agrotécnicas e faculdades de ciências
agrárias formem extensionistas que tenham real capacidade
teórico-prática de corrigir as ineficiências dos produtores rurais,
pois são elas as principais causas dos seus fracassos econômicos.
Essas escolas não podem continuar ignorando que, enquanto se queixam
de insuficiência de recursos orçamentários, estão desperdiçando em
grande parte os que já possuem, porque estão formando egressos para o
desemprego.Tampouco podem ignorar que, em grande medida, o desemprego
de extensionistas existe porque os seus egressos não respondem às
necessidades dos empregadores e dos agricultores. Isto significa que a
principal causa desse desemprego não necessariamente é a demanda
insuficiente do mercado de trabalho, e sim a oferta inadequada das
escolas agrotécnicas e das faculdades de ciências agrárias. Na
verdade, a agricultura do mundo contemporâneo está "pedindo aos
gritos" uma enorme quantidade de extensionistas "corretores das
  ineficiências e solucionadores
dos problemas" existentes no meio rural; entretanto, a oferta
educativa não está sendo capaz de satisfazer tal demanda. Isto ocorre,
em primeiro lugar, porque as "receitas" que essas escolas estão
ensinando não são compatíveis com os "ingredientes" que a maioria dos
agricultores possui; em segundo lugar, porque a formação que os
educandos estão recebendo é excessivamente teórica, com mínimas
oportunidades para que os estudantes desenvolvam a criatividade e as
habilidades práticas. Essas escolas, em vez de entediar os alunos com
excessivos e irrelevantes conteúdos teóricos nas salas de aula, devem
ensinar-lhes a produzir, administrar e comercializar com eficiência,
produzindo, administrando e comercializando com eficiência. E devem
executar este "ensinar e aprender fazendo" preferentemente lá onde os
problemas ocorrem, isto é, nas propriedades, nas comunidades, nas
agroindústrias e nos mercados rurais. Essas habilidades práticas eles
devem adquirir enquanto estão nas escolas e
  não, como ocorre com demasiada
freqüência, vários anos depois de formados, às custas dos erros que
cometem com os agricultores. 
 
2. Exigir que as escolas fundamentais rurais ( do primeiro ao oitavo
ou nono ano ) "agriculturalizem" e "ruralizem" os seus conteúdos
educativos; que proporcionem aos seus alunos uma educação que
desenvolva as suas potencialidades latentes e que eleve o seu
ego/auto-estima/autoconfiança/desejo de superação. Uma educação que os
energize e "empodere", para que adquiram a vontade e a capacidade de
corrigir, eles mesmos, os erros que os habitantes rurais cometem nos
seus lares, nas suas propriedades e comunidades rurais. Ao egressar
das referidas escolas fundamentais, os jovens rurais deverão: I) -
estar conscientes de que eles mesmos podem e devem assumir uma maior
participação/parcela de responsabilidade/compromisso na correção das
ineficiências e na solução dos problemas que ocorrem no meio rural;
II)- possuir a motivação e as competências ( conhecimentos,
habilidades e atitudes ) que lhes permitam assumir, com eficiência,
este novo e fascinante desafio de autodesenvolvimento;
  e III) - estar aptos a buscar,
selecionar e adquirir novos conhecimentos para se manter sempre
atualizados.
 
3. Exigir serviços de assistência técnica e/ou de extensão rural-
SATER -que: Em primeiro lugar, contem com os extensionistas cujo
perfil foi descrito no item 1; com aptidões e atitudes mais 
pragmáticas e construtivas que lhes permitam: I)-diagnosticar as
causas elimináveis que estão originando os problemas dos produtores;
II)- identificar as potencialidades e oportunidades existentes nas
propriedades rurais; III)-identificar e corrigir as ineficiências
cometidas e corrigíveis pelos produtores rurais e solucionar os
problemas que são solucionáveis pelos próprios agricultores.
Extensionistas que identificam causas não elimináveis pelos produtores
rurais, que solicitam recursos externos antes de utilizar
racionalmente aqueles que os agricultores já possuem, que em vez de
solucionarem, eles mesmos, os problemas reivindicam que outros o
façam, são extensionistas improdutivos e, por este motivo, sérios
candidatos ao desemprego. 
Em segundo lugar, que esses agentes de extensão disponham de meios
(veículos, combustíveis, diárias, etc.) para permanecer nas
comunidades rurais. Em certos casos será necessário que os executivos
dos SATER adotem a medida drástica de reduzir as suas estruturas
burocrático-operativas; e com os recursos poupados ofereçam aos
extensionistas os referidos meios. Será muito mais produtivo manter 50
extensionistas bem remunerados e capacitados educando no campo que
manter 100 agentes mal remunerados, não capacitados e desmotivados,
burocratizando nos escritórios, tal como, lamentavelmente,  está
ocorrendo há mais de 25 anos na maioria dos SATER estatais da América
Latina. Entretanto, para que essas adaptações possam ser executadas,
será necessário "desestatizar" os atuais SATER e delegar a sua
administração à instituições privadas sem fins lucrativos,
desburocratizadas e despolitizadas, como por exemplo as cooperativas e
outras entidades associativas que genuinamente representem os
  interesses econômicos dos
agricultores; porque a rigidez burocrática dos serviços estatais e as
nefastas interferências político-partidárias simplesmente inviabilizam
a adoção dessas medidas saneadoras e "eficientizadoras" nos serviços
estatais de extensão rural.
 
Felizmente, muitas dessas medidas corretivas podem ser adotadas pelos
próprios professores e extensionistas, em muitos casos sem necessidade
de recursos adicionais nem de macrodecisões políticas, mesmo que ambos
sejam desejáveis. Os documentos incluídos na Página web 
http://www.polanlacki.com.br    descrevem e demonstram "o que" e
"como" os próprios educadores (professores, extensionistas e diretores
das suas respectivas instituições) podem fazer para tornar-se, eles
mesmos, mais eficientes; e como, através da somatória das eficiências
individuais, podem melhorar a eficiência das suas respectivas
instituições.
 
Se o sistema de educação rural adotar apenas essas medidas
"eficientizadoras" e emancipadoras, dos seus educadores e das suas
respectivas instituições, os principais problemas da maioria dos
produtores rurais estarão resolvidos; e, o que é mais importante,
serão solucionados pelas próprias famílias rurais; sem paternalismo,
sem dependências e sem humilhações. Entretanto, se essas medidas não
forem adotadas - não tenhamos nenhuma dúvida - todo o discurso do
desenvolvimento rural com eqüidade, dos direitos humanos, da justiça
social e da inclusão dos excluídos, continuará sendo uma ingênua
manifestação de boas intenções ou, o que é muito pior, um vergonhoso e
lamentável deboche do sofrimento dos pobres rurais, pois o
paternalismo estatal demonstrou e continua demonstrando que não tem
condições de fazê-lo.  
(1) E-Mail:  [EMAIL PROTECTED]

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