Prezado Arthur,

Admiro sua coragem e sinceridade, e também a clareza com que expõe seus pontos 
de vista. Essas qualidades facilitam o trabalho de seus críticos.

Permita-me discordar de você, uma vez mais, em particular em relação à sua 
enumeração de dois supostos filósofos:

1. Fritjof Capra; e
2. Krishnamurti.

Confissão de um cético que já foi crédulo: quando eu tinha uns 13 anos, mais ou 
menos, li aquele livro o "Tao da Física". Fiquei impressionado ao descobrir, 
entre aqueles para os quais o livro era dedicado, ninguém menos do que Don 
Juan, o inescrutável personagem de Carlos Castañeda!

Também fiquei surpreso com a descrição dada por Capra logo no início de seu 
trabalho de uma experiência extra-sensorial!

Esses relatos fantásticos deixam qualquer adolescente extasiado. Não tenho 
vergonha de admitir que fui um Aprendiz de Feiticeiro. Segui a "Ordem 
Operacional" dos “Ensinamentos de Don Juan" ao pé da letra. Decorei todos 
aqueles passos. Acreditava piamente que me tornaria um "Homem de Conhecimento". 
Também pratiquei muito o exercício de silenciar "a voz do pensamento" (sem 
êxito). E não consegui me transformar em um corvo, provavelmente porque no 
Brasil é difícil encontrar as mesmas drogas usadas por Castañeda no México! :)

Quando encontrei "el diablero" Don Juan entre os honrados Mestres de Fritjof 
Capra, acreditei estar diante de uma "conexão cósmica"!

Resumo da Ópera: a credulidade faz muitas vítimas.

Vendedores de mistérios como Fritjof Capra ou místicos ligeiramente refinados 
como Krishnamurti podem deixar muitas pessoas contentes, satisfeitas por 
poderem acreditar em histórias sensacionais, principalmente quando tais 
histórias são aparentemente referendadas pela pseudo-ciência.

Tese (sem demonstração): ressuscitar o misticismo oriental, opondo-o à tradição 
judaico-cristã do ocidente, com o pretexto de elaborar uma visão “holística” 
sobre fatos desconcertantes da mecânica quântica, é apenas uma forma banal e 
barata de apagar Hegel (a dialética) da História, como se necessitássemos de 
uma faculdade perceptiva a mais.

Termino com um belo artigo do cético militante Carl Sagan:

"Hans, o inteligente Cavalo Matemático

Nos primeiros anos deste século, havia na Alemanha um cavalo que podia ler, 
fazer cálculos e exibir profundos conhecimentos de política mundial. Ou assim 
parecia. O cavalo era chamado o Inteligente Hans. Seu proprietário era o Sr. 
Wilhelm von Osten, um berlinense idoso cujo caráter era tal, segundo se dizia, 
que a possibilidade de fraude estava fora de questão. Delegações de distintos 
cientistas examinaram a maravilha eqüina e confirmaram que era genuína. Hans 
podia responder as questões matemáticas que lhe eram apresentadas por meio de 
batidas em código de suas pernas dianteiras, e às questões não-matemáticas, 
balançando a cabeça para um lado e para outro ou para cima e para baixo, da 
forma que é convencional no Ocidente. Por exemplo, alguém dizia: “Hans, quanto 
é duas vezes a raiz quadrada de nove menos um?” Depois de uma pequena pausa, 
Hans levantava devidamente a dianteira direita e batia cinco vezes no chão. 
Seria Moscou a
 capital da Rússia? A cabeça balançava na horizontal. Seria por acaso São 
Petersburgo? A cabeça oscilava na vertical.

A Academia Prussiana de Ciências enviou uma comissão, chefiada por Oskar 
Pfungst, para fazer uma inspeção mais direta. Osten, que acreditava 
fervorosamente nos poderes de Hans, recebeu a missão com prazer. Pfungst notou 
algumas regularidades interessantes. Às vezes, quanto mais difícil a questão, 
mais tempo Hans levava para responder; ou quando Osten não sabia a resposta, 
Hans também não sabia; ou quando Osten estava fora da sala, ou quando o cavalo 
estava de olhos vendados, não havia resposta certa. Porém, outras vezes Hans 
dava respostas certas mesmo em outros lugares, cercado por gente estranha, e 
ainda que Osten estivesse fora não só da sala, mas da cidade.

A solução acabou por tornar-se clara. Quando a questão matemática era colocada, 
Osten tornava-se ligeiramente tenso, com receio de que Hans desse pancadas de 
menos, mas logo que Hans atingia o número certo, Osten, inconsciente e 
imperceptivelmente, assentia e relaxava – imperceptivelmente para virtualmente 
todos, menos para Hans, que era recompensado pelos acertos com um torrão de 
açúcar. Mesmo grupos de pessoas incrédulas observavam com atenção os movimentos 
da pata de Hans tão logo a questão era colocada e faziam gestos e expressões de 
aprovação quando o cavalo atingia o número correto de batidas. Hans era 
completamente ignorante em matemática, mas muito sensível a dicas 
inconscientes. Sinais similares eram imperceptiovelmente transmitidos ao cavalo 
quando se colocavam questões verbais.

O Inteligente Hans foi apelidado com propriedade, pois era um cavalo que havia 
condicionado um ser humano, descobrindo depois que outros seres humanos que ele 
nunca havia encontrado também lhe proporcionavam as dicas necessárias. A 
despeito, porém, das conclusões corretas de Pfungst, histórias similares sobre 
cavalos, porcos e gansos que lêem, calculam e entendem de política continuam a 
incomodar os crédulos de muitas nações.”

Carl Sagan – O Romance da Ciência (Broca’s Brain) – Ed. Francisco Alves, pp. 
64-65.



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