Duas curiosidades adicionais sobre Pseudo-Scotus:

Primeiro não se sabe se se trata do mesmo autor ou de vários.

Segundo que, supondo-se ser o mesmo indivíduo, sua contribuição mais famosa
não é o princípio EFQ, mas um paradoxo relativo à noção de validade.
Supostamente, o paradoxo funcionaria como o do mentiroso:

[A] 1=1 ∴ Argument [A] is not valid.

Lancemos a hipótese [H]: [A] is valid.

Supondo-se que [A] seja válido: então  não é possível que a premissa seja
verdadeira (ou, de modo mais geral, receba um valor designado) e a
conclusão não. Mas, 1=1 é o caso, donde a conclusão recebe um valor
verdadeiro (ou, de modo mais geral, designado). Mas, a conclusão diz que
[A] não é válido. Aqui os defensores de [A] como um paradoxo não enxergam
uma demonstração por redução ao absurdo, que provaria que [H] é falsa. Se o
argumento  [A] não é válido, então, para eles, a premissa é verdadeira e a
conclusão falsa, logo o argumento é válido e assim por diante, como no
paradoxo do mentiroso.

Será que uma tautologia '1=1' e uma proposição como 'Argument [A] is not
valid' têm o mesmo estatuto numa lógica, de forma que a última pudesse ser
acarretada pela primeira?

É uma questão de fazer uma revisão das contribuições de Pseudo-Scotus e ver
até onde elas estão corretas.

Em 5 de janeiro de 2013 16:26, Joao Marcos <botoc...@gmail.com> escreveu:

> [Retornando ao "subject" anterior, mais esclarecedor.]
>
> > Esse é realmente um texto-chave para aquilatar paraconsistência lato
> sensu
> > em Aristóteles. Tive o primeiro contato com esse texto em 2005, quando
> > preparava um curso de história da lógica que ministrei aqui na
> Universidade
> > Estadual de Maringá.
>
> Sobre este assunto parece importante também levar em consideração ao
> menos o competente texto de Lukasiewicz sobre "o princípio da
> contradição em Aristóteles".
>
> > O resultado do Estagirita é surpreendente e o fato de ter ficado tanto
> > tempo sem ser debatido resulta, provavelmente, de um certo viés
> equivocado
> > na interpretação da lógica de Aristóteles, excessivamente
> > clássico. Apresento uma proposta de interpretação e contextualização
> desse
> > texto num paper de 2008, que publiquei com a professora Itala.  Segue o
> > link:
> >
> >
> http://www.periodicos.ufsc.br/index.php/principia/article/view/1808-1711.2010v14n1p71
>
> Uma curiosidade: você classificaria também o viés de Lukasiewicz, que
> vocês analisam no artigo de vocês, como "excessivamente clássico"?  E
> o que você acha do livro de Fred Seddon criticando a abordagem
> lukasiewicziana?
>
> > Em minha tese - que logo estará pronta - conto melhor essas e outras
> > histórias. Outro equívoco dessa história é atribuir o ex falso ao
> > Pseudo-Escoto.
>
> É de fato interessante esclarecer isso.  Parece-me absolutamente
> essencial, neste sentido, ler com carinho o livro de Andrés
> Bobenrieth, "Inconsistencias ¿Por qué no? Un estudio filosófico sobre
> la lógica paraconsistente".  Andrés mostra como uma reedição dos
> comentários dos Analíticos Anteriores/Primeiros Analíticos tornaram
> visível o princípio do Pseudo-Escoto, atribuído erroneamente a João
> Duns Escoto (1266-1308), nos doze livros da Opera Omnia, 1639
> (reimpresso em 1968), e aponta para a conjectura moderna mais
> plausível sobre a autoria destes livros, que os liga a João da
> Cornuália, por volta de 1350.
>
> Abraços,
> Johannes Marcus
>
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