Direto da Ciência <http://www.diretodaciencia.com/>
Site mostra que pós-graduação brasileira publica em 485 periódicos
predatórios
<http://www.diretodaciencia.com/2017/11/17/site-mostra-que-pos-graduacao-brasileira-publica-em-485-periodicos-predatorios/>
Publicado por Maurício Tuffani
<http://www.diretodaciencia.com/author/admin/>
*Lançado neste mês por três professores, Preda Qualisdetecta revistas
acadêmicas acusadas de não seguirem padrões científicos*

–
MAURÍCIO TUFFANI,
Editor

Pelo menos 485 periódicos acusados de recorrer a más práticas editoriais
são usados no Brasil por professores, pesquisadores e pós-graduandos,
registra o site *Preda Qualis <http://predaqualis.netlify.com/>*, lançado
neste mês por três docentes da USP, Unesp e UFABC. Essas publicações estão
na plataforma de dados online Qualis Periódicos
<http://qualis.capes.gov.br/>, do governo federal, que reúne e classifica
cerca de 26,5 mil títulos e serve para orientar pesquisadores, professores
e pós-graduandos a escolher de revistas acadêmicas para publicar seus
trabalhos.

O objetivo do Preda Qualis, afirmam os autores da iniciativa, é “contribuir
para o aperfeiçoamento dos critérios de avaliação dos programas de
pós-gradução e do sistema Qualis”, que integra as atividades de avaliação
da pós-graduação brasileira pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal
de Nível Superior (Capes), do Ministério da Educação.

Dos 485 periódicos “potencialmente predatórios”, 67% foram classificados
nos estratos A e B do Qualis, em vez de serem listados no nível C,
destinado a publicações consideradas inadequadas, afirmam os autores da
iniciativa, Paulo Inácio Prado
<http://ecologia.ib.usp.br/let/doku.php?id=engl:prado:start>, do Instituto
de Biociências da USP, Roberto André Kraenkel
<http://www.ift.unesp.br/users/kraenkel/>, do Instituto de Física Teórica
da Unesp, e Renato Mendes Coutinho
<http://professor.ufabc.edu.br/~renato.coutinho/>, do Centro de Matemática,
Computação e Cognição da UFABC.

Embora considerem “baixa” a proporção de periódicos predatórios do Qualis –
os 485 títulos detectados correspondem a 1,8% dos 26.477 registrados na
plataforma –, os criadores do novo site entendem que “há uma grande
vulnerabilidade do sistema de avaliação da CAPES à invasão por este tipo de
publicação”.


Ponderações

Logo no início de sua apresentação, os criadores do Preda Qualis advertem
que sua lista de títulos potencialmente predatórios “não é uma palavra
final e está em constante revisão, devendo ser usada como subsídio para
avaliações caso a caso e a critério dos autores e instituições”. E
acrescenta:

*O fato de um artigo ser publicado em uma revista potencialmente predatória
não significa que este artigo seja de má qualidade. Um dos prejuízos
causados pelos periódicos predatórios é justamente potencialmente afetar a
credibilidade de tais artigos.*

O *Preda Qualis*, está aberto para sugestões de leitores, afirmam Prado,
Kraenkel e Coutinho, que também pedem para serem informados sobre quaisquer
problemas encontrados no site.

Os periódicos predatórios são revistas editadas por empresas que exploram
sem rigor científico o modelo de publicação de artigos acadêmicos em acesso
livre, que é mantido por meio da cobrança de taxas de autores ou pelo
custeio por parte de instituições científicas.

Tanto no acesso livre como no modelo tradicional, mantido por assinaturas
anuais ou pela cobrança por artigo baixado pela internet, os periódicos
considerados “legítimos” demoram meses e até mais de um ano para analisar e
aceitar artigos, ou rejeitá-los. Os publishers predatórios não só reduzem a
poucas semanas o intervalo entre a apresentação e a aceitação de artigos,
mas também são menos seletivos e rigorosos nesse processo.

“Quanto mais artigos eles aceitam e publicam, mais dinheiro eles fazem. A
prática de autores que fazem pagamentos aos periódicos criou muita
corrupção na publicação acadêmica”, afirmou para a *Folha*
<http://mauriciotuffani.blogfolha.uol.com.br/2015/03/09/pos-graduacao-brasileira-aceita-201-revistas-predatorias/>
em
2015 o biblioteconomista Jeffrey Beall <http://scholarlyoa.com/about/>,
professor da Universidade do Colorado em Denver, que lançou em 2011
sua lista de “potenciais, possíveis ou prováveis publishers predatórios” em
seu blog *Scholarly Open Access*, desativado em janeiro deste ano
<http://www.diretodaciencia.com/2017/01/18/listas-de-editoras-e-periodicos-predatorios-somem-da-internet-mas-aqui-estao-as-copias/>
.


‘Acontecimento auspicioso’

“Acho essa iniciativa excelente! Espero que seja bem sucedida. O Qualis
efetivamente funciona como uma ‘lista branca’. Por isso, é uma grande
responsabilidade ter certeza de que exclua periódicos predatórios”, afirmou
Jeffrey Beall. “Esses cientistas estão efetivamente defendendo a ciência”,
disse ele sobre os criadores do novo site.

“Acho que os autores estão oferecendo um ótimo serviço, ajudando o Qualis a
melhorar”, afirmou Beall referindo-se ao *Preda Qualis*. “O número
[detectado] 485, ou 1,8%, é pequeno, mas não demora para que pouco veneno
arruine um poço”, acrescentou.

Para o geógrafo Marcos Pedlowski, da Universidade Estadual do Norte
Fluminense (UENF), um dos raros pesquisadores brasileiros a se posicionar
frequentemente sobre o problema dos predatórios, o lançamento do Preda
Qualis é  um acontecimento auspicioso para a comunidade científica
brasileira, pois no oferece uma primeira ferramenta para saber mais sobre
esse tipo de publicação acadêmica.

“Alguns poderão dizer que este não seria o melhor momento para o lançamento
deste tipo de ferramenta, na medida em que enfrentamos uma grave crise de
financiamento que afeta a capacidade dos pesquisadores brasileiros de
seguir publicando nos mesmos níveis da última década. Eu já penso que este
é o melhor momento, na medida em que teremos como ter escolhas claras de
onde não publicar pesquisas que custam bastante aos contribuintes
brasileiros”, afirmou Pedlowski.

“Ao mesmo tempo, poderemos nos mover da falsa dicotomia entre quantidade e
qualidade na publicação de artigos científicos para nos concentrar em
publicar nas melhores revistas, sejam elas de editoras tradicionais ou de
acesso aberto”, acrescentou.

“Minha expectativa é que os colegas que estão lançando o *Preda Qualis* não
se desanimem com as eventuais críticas e mesmo oposição ao seu trabalho. É
que os desafios que estão sendo postos no enfrentamento ao crescimento
exponencial das revistas predatórias não podem esperar mais para serem
atacados de frente”, disse o professor da UENF.


Quase nada a declarar

Questionada por *Direto da Ciência* por meio de sua assessoria de imprensa,
a Capes laconicamente respondeu com a nota transcrita a seguir em sua
íntegra.

*São classificados no estrato C os periódicos predatórios identificados na
maioria das áreas para que o título permaneça visível e dessa forma
deixamos claramente sinalizado para os programas, que a produção publicada
nesse tipo de periódico não será considerada.*

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