MAURÍCIO TUFFANI, "DIreto da Ciência"
http://www.diretodaciencia.com/2017/12/14/uma-saida-para-pesquisadores-vitimas-de-periodicos-predatorios/

O fato não é recente, mas certamente é novidade para muitos
pesquisadores. E é uma boa notícia para autores que alegam que não
sabiam que estavam lidando com periódicos predatórios ao enviar um
artigo para publicação. É possível, dentro de determinadas condições,
publicar novamente o trabalho em outra revista, mesmo que a predatória
se recuse a retirá-lo, segundo orientação do Comitê de Ética da
Publicação (Cope).

O assunto veio à baila na segunda-feira (11) no artigo “When Authors
Get Caught in the Predatory (Illegitimate Publishing) Net”, publicado
no site The Scholarly Kitchen por Phaedra Cress, editora-executiva do
Aesthetic Surgery Journal.

Cress relata um caso do ano passado, quando o Cope foi consultado por
um pesquisador que afirmou que não conhecia a má reputação de um
periódico que lhe enviou um convite para envio de artigos e para o
qual encaminhou um manuscrito para avaliação. O autor afirmou que se
surpreendeu com a publicação do trabalho sem qualquer evidência de ter
sido realizada a revisão por pares e que solicitou a remoção do artigo
por e-mail e correspondência registrada, mas que não foi atendido.

O pesquisador enviou o mesmo trabalho para avaliação de outro
periódico, explicando o que aconteceu. O editor-chefe entendeu que
poderia publicar o artigo, pois o autor nem sequer havia assinado
cessão de direitos autorais para o periódico predatório. O Cope
concordou e publicou sua recomendação sobre o caso (“Withdrawal of
accepted manuscript from predatory journal”).

Pagou, publicou

Jornalista especializada em publicações na área de ciências da saúde,
Cress já foi diretora da Associação Mundial de Médicos Editores
(Wame), entidade que em fevereiro deste ano conclamou publicamente as
instituições acadêmicas a conter o avanço dos periódicos predatórios,
recomendando-as a identificar integrantes seus listados como editores
ou membros do corpo editorial dessas publicações e exigir sua
desfiliação (“Pesquisador que publica em periódico predatório nem
sempre é vítima”).

Os periódicos predatórios são revistas editadas por empresas que
exploram sem rigor científico o modelo de publicação de artigos
acadêmicos em acesso aberto, que é mantido por meio da cobrança de
taxas de autores ou pelo custeio por parte de instituições
científicas.

Tanto no acesso aberto como no modelo tradicional mantido por
assinaturas anuais ou pela cobrança por artigo baixado pela internet,
os periódicos considerados “legítimos” chegam a demorar meses e até
mais de um ano para analisar e aceitar artigos, ou rejeitá-los. Os
publishers predatórios não só reduzem a poucas semanas e até mesmo a
poucos dias o intervalo entre a apresentação e a aceitação de artigos,
mas também deixam de seguir nesse processo os padrões de seleção e
rigor científico da publicação acadêmica. É o “pagou, publicou”.


Proliferação

O número de artigos dos periódicos publicados por publishers
predatórios cresceu de cerca de 53 mil em 2010 para 420 mil em 2014,
ou seja, cresceu sete vezes  em quatro anos, segundo estudo de Cenyu
Shen e Bo-Christer Björk, da Escola Hanken de Economia, na Finlândia,
publicado em outubro de 2015 pela revista BMC Medicine.

Neste ano, dez dias após o citado comunicado da Wame com sua
recomendação às instituições acadêmicas (“Identifying Predatory or
Pseudo-Journals”), David Crotty, diretor editorial da Oxford
University Press,  em seu artigo “Predatory Publishing as a Rational
Response to Poorly Governed Academic Incentives”, reiterou que está se
tornando cada vez mais claro que não só muitos acadêmicos sabem o que
estão fazendo ao enviar artigos para periódicos predatórios, mas
também que universidades, instituições de pesquisa e agências de
fomento estão assistindo ao crescimento dessas publicações sem tomar
nenhuma atitude.

A notícia do cerco aos periódicos predatórios chegou ao New York Times
em 30 de outubro deste ano com a reportagem “Many Academics Are Eager
to Publish in Worthless Journals”, que foi reproduzida em português no
site da Folha de S.Paulo com o título “Para inflar currículos,
pesquisadores publicam em revistas caça-niqueis”. No texto, a
jornalista Gina Kolata ressaltou que muitos dos autores  que publicam
nesse tipo de revista muitas vezes são cúmplices, e não vítimas.


Predatórios no Qualis

No Brasil, pelo menos 485 periódicos acusados de recorrer a más
práticas editoriais são usados por professores, pesquisadores e
pós-graduandos, segundo o site Preda Qualis, lançado em novembro por
três docentes da USP, Unesp e UFABC. Essas publicações estão na
plataforma de dados online Qualis Periódicos, da Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), que reúne e
classifica cerca de 26,5 mil títulos e serve para orientar
pesquisadores, professores e pós-graduandos a escolher de revistas
acadêmicas para publicar seus trabalhos.

Dos 485 periódicos “potencialmente predatórios”, 67% foram
classificados nos estratos A e B do Qualis, em vez de serem listados
no nível C, destinado a publicações consideradas inadequadas, afirmam
os autores da iniciativa, Paulo Inácio Prado, do Instituto de
Biociências da USP, Roberto André Kraenkel, do Instituto de Física
Teórica da Unesp, e Renato Mendes Coutinho, do Centro de Matemática,
Computação e Cognição da UFABC.

Embora considerem “baixa” a proporção de periódicos predatórios do
Qualis – os 485 títulos detectados correspondem a 1,8% dos 26.477
registrados na plataforma –, os criadores do novo site entendem que
“há uma grande vulnerabilidade do sistema de avaliação da CAPES à
invasão por este tipo de publicação”.
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Walter Carnielli
Centre for Logic, Epistemology and the History of Science and
Department of Philosophy
State University of Campinas –UNICAMP
13083-859 Campinas -SP, Brazil
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