Voltando ao assunto “Lógica”, quero destacar aqui um artigo importante do nosso 
caro amigo, Professor Evandro sobre o desenvolvimento da Lógica no Brasil:

Título: “O desenvolvimento da lógica no Brasil:
 da herança ibero-portuguesa aos primórdios do século XIX”

Resumo:
“Que lógica foi ensinada no Brasil durante o século XIX? Foi ela desenvolvida 
formalmente? Que relações
mantiveram a lógica, a filosofia e as ciências? Considerando o contexto da 
lógica ibero-européia dos séculos
XVI-XVIII, quais dos seus aspectos foram identificados nas manifestações de 
lógica encontradas no Brasil?
Qual era o papel da lógica neste contexto? Com efeito, os intelectuais 
brasileiros, tal como seus pares europeus
esperavam que a lógica sustentasse as ciências e a racionalidade, provendo-lhes 
uma teoria geral da
argumentação e da verdade, do método e da ciência. Aqui como lá, a compreensão 
de lógica subjugou a abordagem formal.”

https://www.academia.edu/22716711/O_desenvolvimento_da_lógica_no_Brasil_da_herança_ibero-portuguesa_aos_primórdios_do_século_XIX

É um artigo importante. Evandro faz uma análise da História que em muitos 
pontos difere da minha. Mas, como justamente estamos falando de História, não 
bastam nossas hipóteses explicativas, é preciso apoiar os argumentos em fatos 
empíricos principalmente. E nesse trabalho há muita informação fundamental.

Vale a pena, ademais, ressaltar uma percepção que ele tem e com a qual estou 
plenamente de acordo: antes do século XX não faz sentido separar a Filosofia 
feita no Brasil daquela feita em Portugal. Mesmo com a independência, as nossas 
tradições acadêmicas continuam as mesmas por cerca de cem anos. E o ensino da 
Lógica aqui era o que havia em Portugal. 

(Aqui, podemos acrescentar, terá sido a geração do professor Newton da Costa,  
Oswaldo Chateaubriand e Oswaldo Porchat que introduziu aqui uma visão mais 
contemporânea e colocou o Brasil como uma liderança na área.)

Não se entende, porém, o que foi a vida acadêmica lusófona no século XIX sem 
examinar os séculos anteriores. Pois bem, neste artigo, Evandro aponta que um 
dos pontos centrais de conflito que afetam o estudo da Filosofia e da Lógica 
foi a recepção ambígua das ideias iluministas em Portugal. Este mesmo 
apontamento aparece em outros trabalhos históricos, como, por exemplo, Luís 
Carlos Villalta que no seu “Usos do Livro no Mundo Luso-Brasileiro sob as 
Luzes: Reformas, Censura e Contestações” diz o seguinte:

“A partir da ascensão de D. José I, “o sábio rei” do poema em epígrafe1, ao 
trono português, em 1750, Sebastião José de Carvalho e Mello, “o immortal 
Carvalho”, Conde de Oeiras (1759) e, depois, Marquês de Pombal (1770), 
tornou-se uma espécie de côn- sul, nos moldes romanos. E, com este “sol 
brilhante”, a Coroa portuguesa ingressou mais  rmemente na Era das Luzes, 
desenvolvendo uma política reformista em várias áreas, da economia à educação, 
passando pela censura. A Coroa portuguesa, sob o Reformismo Ilustrado, fez uma 
incorporação seletiva das ideias das Luzes, rechaçando aquelas que ameaçavam as 
prerrogativas absolutistas do trono, o domínio colonial e a religião. Com isso, 
a Ilustração constituiu, ao mesmo tempo, referência e alvo de ataque.”

Havia também neste período, conforme Villalta lembra, uma atitude que hoje se 
chama de anticientificismo e que igualmente funcionava de modo ambíguo. Esse 
anticientificismo persistiu bastante tempo no Brasil, se é que não subsiste 
ainda na atualidade.

Para mim, o que o artigo do professor Evandro traz é algo que já analisei na 
minha tese, mas acerca dos períodos moderno e medieval. A minha análise é a 
seguinte: quando as condições de ensino e pesquisa estão boas e estáveis, todas 
mudanças por que passa uma ciência ou disciplina são movidas por questões 
internas à própria pesquisa. Quando as condições externas à produção acadêmica, 
todavia, estão deterioradas, é a própria deterioração que força rupturas.

Há contextos intermediários: quando as condições materiais para o ensino e a 
pesquisa estão entre não tão ruins e nem tão boas, digamos, estão melhorando um 
pouco, são questões culturais gerais, inclusive políticas, que direcionam o 
desenvolvimento da disciplina. Portugal sob a ditadura de Pombal estava nesse 
pé: era a classe dirigente política que ditava para a comunidade acadêmica o 
que devia ler e o que devia não ler e com quais ideias podia trabalhar. Houve 
um progresso, mas controlado e por isso mesmo muito limitado.

Quem quiser entender mais essa minha análise, pode ler o exemplar da minha 
tese, que lá encontrará mais detalhes, embora não fale especificamente sobre o 
mundo lusófono:

https://www.academia.edu/36690102/Dissenso_Lógico_Mudanças_de_Paradigma_e_Pluralismo


Dize à sabedoria: Tu és minha irmã...
Provérbios 7:4

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