Oi Bruno,

Sobre seu ponto (1), concordo plenamente com o que você diz. Eu só quis, em 
minha mensagem, reforçar a ideia de que quando se inclui a  identidade na 
lógica, seu comportamento em entimemas será diferente daquele de quando se 
considera a identidade um conceito não-lógico.

Sobre seu ponto (2), não tenho muito a acrescentar. Nunca estudei a semântica 
bi-dimensional. Acredito no que você diz. 

Sobre seu ponto (3), sua impressão está correta, foi o que eu quis dizer mesmo. 
Mas veja que eu frisei que este é o caso apenas quando se admite que a 
identidade não é uma constante lógica. Neste caso não há outra opção para uma 
teoria da identidade (ou qualquer outra teoria) além de ser um conjunto de 
premissas (axiomas). Se temos pretensões para algum conceito maiores do que 
aquelas que cabem em uma axiomatização formal, temos só duas opções: ou o 
incluímos na própria lógica e (num sentido estrito) abandonamos a lógica 
clássica; ou admitimos que nosso conceito não é (ainda) formalizável e, neste 
caso, os métodos formais não vão nos ajudar muito a estudá-lo. Melhor abordá-lo 
discursivamente.

Se temos lógicas diferentes, ou concepções lógicas diferentes, isso vai afetar 
não só nosso entendimento dos conceitos lógicos, como também dos não-lógicos. 
Suponha que eu e você compartilhamos os mesmos axiomas sobre a identidade: 
Vx(x=x) e indiscernibilidade dos idênticos. Se você for um clássico e eu um 
intuicionista, teremos, mesmo assim, teorias distintas sobre a identidade.

Então eu concordo totalmente quando você diz que a “via da adoção por adição de 
premissas não é a única”. E ainda acrescento; ela não só não é a única via, 
como não é a via inteira. É só um pedaço. A lógica que adotamos contamina todos 
os conceitos que utilizamos.

Um abraço,
Daniel.
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Departamento de Filosofia - (UFRN)
http://danieldurante.weebly.com

> On 30 Apr 2021, at 09:19, bruno.ramos.mendonca 
> <bruno.ramos.mendo...@gmail.com> wrote:
> 
> Olá, Daniel:
> 
> Obrigado pela sua mensagem e perdão pela demora em responder.
> 
> 1. Sobre o caráter lógico da identidade. Pode ser razoável atacar a questão 
> por essa via mas aqui corremos o risco de cair em uma ladeira escorregadia: 
> também outras palavras presumivelmente lógicas podem ter a sua logicalidade 
> posta em questão. Além disso, o fato de que há variadas teoria da identidade 
> não é de saída um argumento contra a sua logicalidade. Também há diferentes 
> concepções do significado da negação, e, apesar disso, esse é certamente um 
> conceito lógico.
> 
> 2. Sobre o caráter não-clássico dessa concepção sobre identidade. Nós não 
> precisamos nos afastar do caso clássico aqui. Na verdade, o tratamento mais 
> tradicional apela a uma semântica bi-dimensional onde os mundos possíveis são 
> clássicos mas operam um duplo papel modal: em primeiro lugar, atribuem 
> conteúdos proposicionais a enunciados e, em segundo lugar, avaliam 
> aleticamente esses conteúdos. Com esse duplo papel modal pode-se definir com 
> independência modalidades epistêmicas (a priori, a posteriori) e semânticas 
> (analiticidade e sinteticidade).
> 
> 3. Fiquei com a impressão de que, na sua intervenção, você identifica "adoção 
> de uma teoria" com "adoção de um conjunto de premissas (que podem ser 
> entinemáticas)". Noto isso quando você diz:
> >> Agora, se a identidade não está na lógica, ela pode se comportar de outras 
> >> maneiras. Muitas abordagens diferentes sobre a identidade ficam 
> >> disponíveis. Neste caso, para avaliar qualquer argumento que envolva a 
> >> identidade, você precisará sempre incluir nas premissas do argumento os 
> >> axiomas da sua teoria da identidade. Nos contextos em que esta teoria da 
> >> identidade está clara, você pode omitir seus axiomas, transformando seu 
> >> argumento em um entimema.
> 
> No entanto (ainda que isso possa ser alvo de controvérsia filosófica) uma 
> teoria lógica também pode ser adotada. Porém, ela não é adotável do mesmo 
> modo que um conjunto de premissas ou hipóteses é adotável. A via da adoção 
> por adição de premissas não é a única possível, e talvez nem seja possível 
> quando falamos dos elementos lógicos que governam a validade dos nossos 
> argumentos.
> 
> Abraço
> Bruno

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