SERMÃO DA MONTANHA

(6)

 

Na limpidez da tarde, reboa mais esta frase:

-  Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão saciados!

Confiantes nestas palavras do Mestre, os homens não precisarão clamar, desesperadamente, como Hamleto, contra “os desprezos do mundo, as injustiças do opressor, as afrontas do orgulhoso, a insolência dos altos funcionários, as lentidões dos juízes, os pontapés que os sábios sofrem dos tolos, as ingratidões dos amigos”... Há, agora, uma esperança!

Não quer isto dizer que a injustiça desapareça da Terra. Pois se os homens não se compreendem nem se conhecem, como poderão julgar?

A vida é um tribunal em que, ao mesmo tempo, somos juiz em nosso foro e réus no foro alheio. Condenamos e somos condenados a cada passo. A presunção de cada qual não tem limites e ninguém há que se não dê por isento das ações e intenções que no seu próximo aponta e desaprova. Em conseqüência de tal vaidade, lavra em todo o orbe o imenso desconforto. A Terra abrasa em sede de justiça. Ateria-se o fogo das revoltas, o incêndio das revoluções e das guerras. Escrevem-se volumes e volumes, atulham-se as bibliotecas, onde mofa o orgulhoso Pensamento, e os governos sucedem-se, os sistemas revezam-se, sem que nenhum alvitre dirima as contendas humanas.

A injustiça prolifera, de superiores esmagando subordinados; de iguais prejudicando seus pares; de inferiores urdindo contra os de cima; e, como se não bastassem tantos desacertos, erigem-se partidos contra partidos, classes contra classes, cidades contra cidades, países contra países.

Esse espetáculo não é suficiente para o tormento da humanidade. O homem encontra diariamente a injustiça na rua, na repartição, na escola, na praça comercial, na imprensa, nas assembléias e tribunais; o impropério daquele transeunte, o mau humor daquele funcionário, o despacho capcioso exarado num requerimento. Tudo isso compõe o quadro geral dos desacertos a que ninguém se pode dar por eximido; mas o pior são as sem razões dos a quem o homem ama e por quem tudo faz com fidelidade de alma.

Essa espécie de sofrimento não atinge, entretanto, os extremos limites da dor, porque há mais, e mais doloroso; e é quando, tendo-se dado alguém inteiramente a outrem, se sente, de súbito ou devagar, repelido e até transformado em objeto de ironia. E isso, que parece absurdo e monstruoso, é muito mais comum do que supomos. Acontece diariamente, em milhares de episódios dos quais nos chegam notícias em número diminuto. Dentro da cidade que habitamos, em nosso rua, em nossas relações, há uma infinidade de casos como esse: mães e pais desprezados pelos filhos, esposas pelos esposos, irmãos por irmãos, amigos por amigos. Dores caladas ou dores clamantes, dores de corações feridos pela injustiça.

*

Triste mundo! É abrir os olhos e contemplá-lo: a arrogância, o orgulho, a frieza, o desdém, a brutalidade, a intransigência, a injúria, a calúnia, o latrocínio, o cinismo, horrenda procissão dos espectros do Mal...E os sem pão e os sem teto, e as viúvas espoliadas, e os órfãos sem arrimo, e os velhos sem consolo, e as prisões sem motivo, e os desterros por ódio, e as sentenças injustas, e a angústia daqueles a quem se tapou a boca, para que não reclamem, e sofrem o peso dos libelos mentirosos!

Toda a Terra está devorada por uma sede e uma fome de Justiça, que roem as entranhas da Humanidade. Essa labareda, no entanto, nem sempre é límpida: mistura-se com ódio, que também é injustiça; mescla-se ao ressentimento, que também é uma forma de julgar, e julgar mal.

A sede e a fome de Justiça, a que Jesus se refere, são as que exprime a mais alta aspiração da Verdade e da Harmonia. É a ânsia pela reconciliação do Homem com Deus, para que se torne possível a paz na Terra.

Jesus é o encontro de todos os humanos, o idioma segundo o qual todos se entendem, a aliança definitiva dos corações.

Continua.......

(De “Vida de Jesus”, de Plínio Salgado – Capítulo Divisor das Águas – Sermão da Montanha)

 

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