OS
DOUTORES DA LEI
Ai
de vós, intérpretes da lei, porque tomastes a
chave da ciência; contudo, vós mesmos
não
entrastes e impedistes os que
estavam
entrando — (Lucas,
11:52)
Compete aos homens dirigir os homens, sendo que as mãos de
Deus orienta a todos. Os faraós e imperadores, os reis e príncipes de
todas as épocas, tanto quanto os cientistas e religiosos sobrecarregam,
quase sempre, os ombros da humanidade por eles dirigida, com todas as
espécies de fardos, sendo que eles não querem nem tocá-los. Se algumas
vezes se compadecem dos sofredores, de outras feitas destroem todas as
oportunidades de esperança e consolo. O chicote e a masmorra têm sido os
instrumentos de quase todos eles, e o modo pelo qual aplicam o guante
dessas dores mudam com o tempo, mas nunca deixam de sobrecarregar os
ombros frágeis dos que sofrem e choram em busca de
justiça.
Quem já encontrou a lei da reencarnação, nas suas deduções íntimas,
chegou à conclusão da verdade proclamada por Jesus: “Ao que tem muito será
dado; e ao que não tem, o que possui lhe será
tirado”.
Os dirigentes mencionados eram homens dotados de muitos valores,
espíritos que conquistaram, através da reencarnação, neste ou em outros
planetas, qualidades inerentes aos cargos que assumiram na Terra. Ao se
desviarem, em alguns pontos, dos seus mandatos, o povo só recebeu o que
merecia. A Inteligência Divina nunca permitiu injustiça, na hora em que o
porteiro do carma coletivo anuncia o excesso de carga. Nessa hora, o mundo
espiritual, em nome de Deus, se faz presente para ajudar a humanidade,
como se fosse a misericórdia. O peso a mais é realmente colocado nos
ombros frágeis, mas a bondade do Criador não deixa que pese acima do
necessário, mais do que as forças possuídas pelos
devedores.
Àquele que tem, mais será dado. Quem tem mais compreensão, receberá
mais, pois ela vai ampliando com o exercício diário. Quem possui a ciência
das coisas receberá mais, através do esforço, a todo momento, para
aprender mais. Quem tem amor, receberá mais amor. Dessa forma, entendemos
que os dirigentes estão ocupando os lugares sob a permissão
divina.
Se em algum momento a ciência, a religião e a política abusaram do
poder, praticando injustiça, entravando o progresso ou impedindo os
liderados de penetrarem nas portas da felicidade, se enganaram, porquanto
os planos de Deus nunca mudam com a ignorância dos homens. Certamente que
aquelas ações foram aparentes, e aquele que confia no Senhor desanuvia a
mente e o coração, tomando tudo o que o destino lhe enviou como sendo o
melhor para o seu
progresso.
O mundo espiritual é um regulador justiceiro. No momento exato
computa a cada um somente o que está à altura de receber. Quem conhece
essas verdades não teme o que pode acontecer no amanhã, por já ser dotada
da certeza de que Deus é o Pai Celestial, que nunca dá pedras aos filhos
que merecem pão, nem serpentes aos que buscam peixe. Quem confia em Deus
sofre menos.
Procurando analisar os apontamentos de Lucas, ficamos,
inicialmente, emaranhados em um grande complexo de culpa. Não somos todos
nós, porventura, intérpretes da lei? Quando tomamos caminhos diferentes,
usando para isso a ciência da palavra, sofremos as conseqüências, e quando
o sofrimento nos visita pelas bênçãos do carma, achamos que todos os que
vivem no mundo são devedores, que algum dia também irão pagar suas
faltas.
A nossa inferioridade nos faz crer que o padecimento dos outros é
que nos conforta quando sofremos. Muitas vezes, quando as forças do saber
e do coração não nos favorecem a entrada nas portas do bem-estar e da
tranqüilidade de consciência, o que nos resta de habilidade usamos no
sentido de que os outros também não entrem por
elas.
Compete, sim, aos homens o dever de dirigir seus semelhantes.
Todavia, é bom para todos, tanto dirigidos quanto dirigentes que cada um
responda pelo que fizer, de positivo ou negativo, acima ou abaixo de seu
nível de ação. E quem não puder viver retamente, cumprindo fielmente seus
deveres, que se esforce para
isso, porque não somos feitos para errar
eternamente.
Se alguém bate às portas da libertação, que ainda não conseguimos
alcançar, não o impeçamos; ajudemo-lo a entrar e esperemos a nossa
vez.
Se não somos um deles, não acusemos os doutores da lei, porquanto
neles existe alguma coisa de útil para
todos.
Sejamos bons, honestos e caridosos, porque se os homens não
reconhecerem, a justiça de Deus é
infalível:
Ai de vós, intérpretes da lei, porque tomastes a chave da
ciência; contudo, vós mesmos não entrastes e impedistes os que estavam
entrando.
(De “O Mestre dos Mestres”, de João Nunes Maia,
pelo Espírito
Miramez)