NOVOS DIAS
“Doravante, disse Jesus, fica proibido amar com
ansiedade de ser amado e servir com a disposição de receber
pagamento.”
“Os roseirais se debruçarão sobre as janelas das
casas sorrindo pétalas exuberantes em participação da felicidade
doméstica. E os girassóis darão as costas às ruas e campos onde
florescem, esgueirando-se pelas frestas dos lares em festas, porque
haverá tanta claridade no reduto doméstico que a estrela Solar será
confundida com as constelações luminíferas, que explodirão, irisadas,
no ninho familiar.”
“Ficará proibido, também, que o bolo da amizade,
servido às pessoas, receba o fermento da
suspeita.”
“A partir de então, já não será necessário que
se fale de justiça com as palavras frias dos Códigos humanos. Cada um
usufruirá do discernimento com o qual respeitará todos os direitos
alheios entregando-se aos deveres que lhe cumpre
realizar.”
“Não mais haverá sofrimento. E quem sofrer não
se envergonhará disso, porque entenderá que toda dor recupera e
somente padece quem é devedor.”
“A piedade fraternal será transformada em flor
de solidariedade que converge em dever sem a necessidade dos estímulos
fortes.”
“Vicejará a liberdade sem punição. O revel
fruirá da bênção de ser livre e lutará, ele próprio, pela
reabilitação. Os animais e as aves não permanecerão em jaulas ou
gaiolas. O homem estará subordinado às leis do amor, respeitando o seu
irmão e todos os irmãos menores do bosque, do deserto e das planuras.
E dar-se-á ao bem doravante...”
Os
órfãos, os anciãos, os fracos, os enfermos constituirão oportunidade
para os aquinhoados com pais, os amparados pelos filhos, os
sustentados pela fortaleza, os resguardados pela saúde, o que impedirá
a miséria, a vergonha, o abandono, o sofrimento
desnecessário.”
“O lobo e o cordeiros pastarão juntos”, quanto a
borboleta e a abelha na mesma flor ou o regato e a fonte misturando as
águas, sem guerra nem
extermínio.”
“Os homens se fitarão nos olhos como as estrelas
que se espiam no velário da noite transparente, e o ar balouçando a
haste delicada da flor.”
“Os sorrisos dos pobres cantarão na melodia da
bondade dos ricos, quais palmeiras farfalhantes nos braços da
brisa.”
“Ninguém a sós... A solidão descerá ao auxílio
alheio e a atividade festiva correrá na direção da
soledade.”
“Ninguém mais chorará os seus mortos, nem
lamentará os seus vivos, nem se amargurará com as tristezas...
Irromperá uma orquestração de vozes no silêncio da saudade dos que
ficaram, encorajando os debilitados. Essas melodias levantarão os
enfraquecidos e todos
cantarão...”
“Doravante, ninguém engane ninguém, pois que se
estará enganando a si mesmo. Nem minta, nem ultraje, nem persiga mais.
Todos se dêem as mãos e confraternizem com as rosas, com os girassóis,
com as tardes coloridas, com os dias de cinza, com as noites
estreladas, com as aves e os animais, e os regatos, e as árvores,
compondo um quadro de amor perene, que se faça um perene feriado para
o mal.”
“Doravante,
disse o
Senhor,
e assim se fará nesses vindouros novos
dias.”
(De: “No longe do
jardim”, de Divaldo Pereira Franco, pelo Espírito
Eros)