SUSPEITA

 

         Suspeita é a “crença desfavorável, acompanhada de desconfiança”, referente a alguma coisa ou a alguém. Mau juízo decorrente de idéia vaga, sem apoio legítimo, que, no entanto, se transforma em urze calamitosa, espraiando-se no campo mental e culminando por asfixiar os nobres ideais em que se devem sustentar as aspirações humanas.

         De maleável contextura, a suspeita, semelhante ao miasma sutil, se adensa e se avoluma, logrando vencer quem a cultiva.

         Normalmente, reflete o estado espiritual daquele que a agasalha.

         A consciência reta não lhe dá guarida, enquanto o sentimento atormentado padece-lhe a constrição, o estigma.

         Necessário cercear-lhe o avanço, porquanto, de fácil aceitação corrói as melhores estruturas, conseguindo exteriorizar-se em maledicência vinagrosa, que numa frase decepa uma existência digna e, num sorriso de mofa, ceifa as mais elevadas expressões de jovialidade e de progresso.

         A suspeita é a genitora do ciúme, que dela se nutre, passando de simples idéia leviana a obsessão tormentosa, geradora de alucinação e impulsionadora de crimes.

*

         Ninguém está imune à suspeita do próximo.

         Cada um vê uma paisagem conforme a cor das lentes que tem sobre os olhos. Assim, muitos fatos parecem o que melhor convém aos espectadores ou às suas personagens.

         Coarctado pela insidiosa suspeita dos levianos e maliciosos, não sintonizes os teus com os seus pensamentos enfermos.

         Insiste na perseverança das realizações a que te vinculas, sem permitir-te diminuir a intensidade que lhe conferes.

         Muitas vezes o que parece ser, verdadeiramente tem outra significação, que não pode ser apreendida de relance. Mesmo em acurada observação, fatos e coisas se expressam mais de acordo com o observador do que com a sua própria estrutura.

         Abre, assim, o espírito à tranqüilidade e não estaciones nos degraus da mágoa que a suspeita dos outros coloca à tua frente, nem te facultes a leviandade de suspeitar de ninguém.

         Quem erra, faz-se escravo do gravame que comete.

         O culpado, embora se disfarce, conhece a face do engano ou do crime perpetrado.

         Ninguém se evade da província da consciência culpada, antes de conseguiu o ônus da auto-recuperação.

*

         Não poucas vezes, no Colégio Galileu, quando medravam suspeitas e maledicências, o Mestre Irrepreensível conclamou ao amor integral e à confiança ilimitada.

         Por essa razão, toda a mensagem da Boa Nova está estruturada no perdão e na humildade, com que o cristão deve pavimentar o caminho da sua ascensão espiritual.

         ... E apesar de seguir sob a perniciosa suspeita de quase todos que O cercavam, Jesus permaneceu integérrimo, edificando o Reino de Deus, até mesmo quando traído e sacrificado, atestando do alto da Cruz ser o símbolo perene da suprema vitória do Espírito ilibado, como estímulo para os caminhantes da retaguarda, que somos todos nós.

         Guarda-te, portanto, na paz, sem suspeitar de ninguém.

(De “Celeiro de Bênçãos”, de Divaldo P. Franco, pelo Espírito Joanna de Ângelis)

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