Questão 201 de “O Livro dos
Espíritos”
Ignorar o sexo em nossa edificação espiritual seria
ignorar-nos.
Urge, no entanto, situá-lo a serviço do amor, sem que o amor se
lhe subordine.
Imaginemo-los ambos, na esfera da personalidade, como o rio e o
dique na largueza da terra.
O rio fecunda.
O dique controla.
O rio espalha forças.
O dique policia-lhes a
expansão.
No rio, encontramos a
Natureza.
No dique, aprendemos a
disciplina.
Se a corrente ameaça a estabilidade de construções dignas,
comparece o dique para canalizá-la proveitosamente, noutro nível.
Contudo, se a corrente supera o dique, aparece a destruição, toda vez
que a massa líquida se dilate em
volume.
Igualmente, o sexo é a energia criativa, mas o amor necessita
estar junto dele, a funcionar por leme seguro.
Se a simpatia sexual prenuncia a dissolução de obras morais
respeitáveis, é imprescindível que o amor lhe norteie os recursos para
manifestações mais altas, porquanto, sempre que a atração genésica é
mais poderosa que o amor, surgem as crises de longo curso, retardando o
progresso e o aperfeiçoamento da alma, quando não lhe embargam os passos
na loucura ou na frustração, na enfermidade ou no
crime.
Tanto quanto o dique precisa erguer-se em defensiva constante, no
governo das águas, deve guardar-se o amor em permanente vigilância, na
frenação do impulso emotivo.
Fiscaliza, assim, teus próprios
desejos.
Todo pensamento acalentado tende a expressar-se em
ação.
Quase sempre, os que chegam ao além-túmulo sexualmente
depravados, depois de longas perturbações renascem no mundo, tolerando
moléstias insidiosas, quando não se corporificam em desesperadora
condição inversiva, amargando pesadas provas como conseqüências dos
excessos delituosos a que se
renderam.
À maneira de doentes difíceis, no leito de contenção, padecem
inibições obscuras ou envergam sinais morfológicos em desacordo com as
tendências masculinas ou femininas em que ainda estagiam, no elevado
tentame de obstar a própria queda em novos desmandos
sentimentais.
Ama, pois, e ama sempre, porque o amor é a essência da própria
vida, mas não cogites de ser
amado.
Ama por filhos do coração aqueles de quem, por enquanto, não
podes partilhar a convivência mais íntima, aprendendo o puro amor
fraterno que Jesus nos legou.
Mas, se a inquietação sexual te vergasta as horas, não te decidas
a aceitar o conselho de irresponsabilidade que te inclina a partir
levianamente “ao encontro de um homem” ou “ao encontro de uma mulher”,
muitas vezes em perigoso agravo de teus
problemas.
Antes de tudo, procura Deus, na oração, segundo a fé que
cultivas, e Deus que criou o sexo em nós, para engrandecimento da
criação, na carne e no espírito, ensinar-nos-á como
dirigi-lo.
(De “Religião dos Espíritos”, de Francisco Cândido
Xavier, pelo Espírito Emmanuel)