SALVAÇÃO
MATRIMONIAL (3) (...) O Espiritismo tem
uma grande contribuição em favor da estabilidade matrimonial, mostrando-nos que,
a par dos imperativos da Natureza, defrontamo-nos, no casamento, com o desafio
da convivência, que parte de nosso aprendizado como espíritos
eternos.
Trata-se de uma necessidade evolutiva que lembra antigo recurso para
limpeza de pregos quando, por limitações tecnológicas, eles eram produzidos com
uma rebarba. Colocados num grande recipiente que ficava girando durante algum
tempo, os pregos atritavam-se uns com os outros e perdiam o indesejado
apêndice.
Além da eliminação das “rebarbas” produzidas pela nossa própria
inferioridade, a vida em família é, também, um ponto de referência que nos ajuda
a manter o contato com a realidade. As pessoas que vivem durante muito tempo
sozinhas enfrentam problemas neste sentido. Dificilmente um eremita evitará
excentricidades e esquisitices, por falta do referencial, de contato com pessoas
que possam apontar suas falhas, seus “desvios de perspectiva” na vivência e
apreciação das experiências humanas.
Há sonhadores que cultivam a idéia do amor romântico, da união com a alma
gêmea, imbuídos da idéia de que juntos serão infalivelmente “felizes para
sempre”, em gratificante convivência. Será tudo perfeito, desde o início, “amor
à primeira vista”, reencontro feliz de metades
eternas.
Muitos casamentos terminam quando os cônjuges descobrem, após a euforia
dos primeiros tempos, que a “alma gêmea” transformou-se em
“algema”. Só o amor-paixão, o amor-impulso
sexual, é instantâneo. O amor de verdade, o amor-sentimento profundo de
comunhão, é um projeto para a vida toda, que começa como tenra plantinha, com
florações fugazes de desejo que, para vingar e frutificar, pede empenho
diligente e consciente de duas pessoas que podem ter algumas afinidades mas,
essencialmente, são diferentes, em múltiplos aspectos — biológico, psicológico,
cultural, intelectual, emocional. A lista iria longe.
Se não há esse entendimento e a convivência vai mal os cônjuges
responsáveis, que pensam nos filhos, concordam que é preciso tentar salvar o
casamento. Recorrem, então, à religião, aos psicólogos, aos amigos, aos
conselheiros matrimoniais.
De fato o termo é esse: salvar o casamento, não apenas no sentido de
evitar a separação, mas, principalmente, no sentido de preservá-lo, de torná-lo
capaz de resistir aos desgastes da vida em comum. (...) (Extrato do capítulo em epígrafe do livro “Um jeito de ser feliz”, de
Richard Simonetti)
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