Por ti junto aos jardins cheios de flores novas me doem os
perfumes da primavera. Esqueci o teu rosto, não me lembro de tuas
mãos, como beijavam os teus lábios? Por ti amo as brancas estátuas
adormecidas nos parques, as brancas estátuas que não têm voz nem
olhar. Esqueci tua voz, tua voz alegre, me esqueci dos teus olhos.
Como uma flor a seu perfume, estou atado à tua lembrança
imprecisa. Estou perto da dor como uma ferida, se me tocas me
farás um dano irremediável. Não me lembro mais do teu amor e no
entanto te adivinho atrás de todas as janelas. Por ti me doem os
pesados perfumes do estio: por ti volto a espreitar os signos que
precipitam os desejos, as estrelas em fuga, os objetos que
caem.
Pablo Neruda
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