Vanice Cioccari SÃO JOSÉ DOS CAMPOS,
São Paulo. Durou 3 minutos e 33 segundos o sonho de ver um foguete brasileiro colocar em
órbita um satélite nacional. Foi o tempo de vôo do segundo protótipo do Veículo
Lançador de Satélites (VLS), lançado ontem às 16h40m do Centro de Lançamento de
Alcântara (Maranhão), que colocaria em órbita o Satélite de Aplicações
Científicas-2 (Saci-2).
Como na primeira tentativa, realizada em 97, foguete e satélite foram literalmente
pelos ares. Há dois anos, o primeiro protótipo do "VSL" foi destruído 65
segundos após o lançamento por causa da falha num dos quatro motores do sistema de
propulsão. Desta vez, a falha foi no segundo estágio do foguete. O quinto motor não
funcionou.
- É um episódio lamentável, havia muita expectativa, mas a busca da autonomia
espacial brasileira continua. Creio que não diminui o apoio das autoridades e da
sociedade. Sou otimista, passando o impacto, vamos prosseguir - disse o diretor do
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Márcio Nogueira Barbosa, que acompanhou
pelo telão a tentativa frustrada do duplo lançamento.
O prejuízo foi de pelo menos R$ 8,6 milhões. A construção do foguete, desenvolvido
pelo Centro Técnico Aeroespacial (CTA), custou R$ 7 milhões. O custo do
"Saci-2", feito pelo Inpe, foi de R$ 1,6 milhão. O primeiro satélite da
série, o "Saci-1", foi lançado em 14 de outubro por um foguete chinês e até
hoje não entrou em funcionamento.
Ao contrário de 97, o lançamento do foguete começou bem. No primeiro estágio, os
quatro motores propulsores funcionaram e houve a separação de todos como estava
previsto. Na sede do Inpe, funcionários e técnicos comemoraram, acompanhando pelo telão
a operação. A euforia acabou 3 minutos e 33 segundos depois com a informação do Centro
de Alcântara: "Infelizmente, o segundo estágio (motor) não acendeu e a segurança
do vôo destruiu o foguete".
- Isso vai fazer com que o Programa Espacial Brasileiro altere seus rumos. As equipes
do Inpe e do CTA ficaram um pouco baqueadas, mas vão continuar o trabalho - afirmou o
diretor do Inpe.
Está previsto o lançamento de mais quatro protótipos do "VLS". Segundo
Barbosa, o próximo lançamento deve ser em 2001. O terceiro foguete terá a missão de
levar ao espaço o satélite franco-brasileiro, que começará a ser construído em maio
de 2000. O novo satélite, que está sendo desenvolvido em parceria com a França, é a
seqüência da série de satélites de pequeno porte iniciada com o "Saci-1" e
"Saci-2". Em 2000, não há previsão de lançamento.
As pesquisas para o desenvolvimento da chamada Missão Espacial Completa Brasileira
(MECB) começaram em 1965 e envolveram cientistas do Instituto de Aeronáutica e Espaço
(IAE), vinculado ao Centro Técnico Aeroespacial (da Aeronáutica), e do Inpe, ambos em
São José dos Campos.
A tecnologia desenvolvida para a construção dos foguetes e dos satélites rendeu
outros frutos além do domínio da ciência espacial. A indústria nacional desenvolveu
materiais como colas especiais e aços de alta qualidade, necessários à construção de
foguetes e satélites, que são usados com outras finalidades e exportados. O aço
ultra-resistente para a estrutura de motores de foguetes chegou a ser selecionado para a
fabricação de trens de pouso de aviões da Boeing americana.
O Brasil também passou a produzir propelente sólido (mais energético do que a
gasolina e usado em foguetes). A produção do propelente e de outras substâncias
capacitou o Brasil a fabricar uma variedade de tintas, borrachas sintéticas e colas
especiais.
COLABOROU Ana Lúcia Azevedo