Ola Gandhi e demais colegas
desta lista ... OBM-L,

O estudante Paulo Santa Rita agradece a referencia !

O nosso principal problema de contagem e a hipotese do continuo ... qualquer que seja um eventual insight sobre contagem, me parece que ele sera tanto mais valido e o seu desenvolvimento justificavel se de alguma maneira contribuir para o esclarecimento desta questao.

O problema da hipotese do continuo e a primeira tentativa de se lancar alguma luz no universo muito pouco conhecido da cardinalidade dos conjuntos não enumeraveis. De fato. NO QUE RESPEITA AS SUAS CARDINALIDADES, nos podemos dividir os conjuntos em dois grandes blocos : no primeiro bloco, colocamos os enumeraveis; no segundo, os não enumeraveis. A rigor, no primeiro bloco, há um único conjunto, o conjunto dos numeros naturais. E no segundo ?

No conjunto dos conjuntos não enumeraveis existem diversas cardinalidades. Em tese, ao menos uma quantidade enumeravel delas, representada pela suposta sequencia cantoriana de “alefes”, vale dizer, ALEFE1, ALEFE2, ... Quando nos provamos - digamos, usando o raciocinio da diagonal de cantor - que um conjunto e não enumeravel nos estamos apenas exibindo o mais elementar e quase único conhecimento sobre esse tipo de conjunto. Em verdade, uma tal prova e uma confissao de ignorancia :

“O conjunto e infinito e não admite uma bijecao com N mas eu não sei identificar qual alefe corresponde a sua cardinalidade”

Assim, toda prova desta natureza e intrinsecamente incompleta e nos nos damos satisfeito simplesmente porque esta ignorancia e tipica do nosso tempo. O ideal e que para cada ALEFE da sequencia de Cantor tivessemos um CONJUNTO PADRAO e pudessemos provar algo proximo de ...

TEOREMA 1 : A todo conjunto infinito corresponde um único conjunto padrao com o qual ele pode manter uma bijecao.

Se esta ideia pudesse ser desenvolvida de alguma forma, N seria o primeiro e mais simples conjunto padrao, correspondente a primeira cardinalidade infinita. Bom, a priori, isso se parece apenas a um “sonho de uma noite de verao” ...

Mas, alem de ser o nosso mais importante problema de contagem, a hipotese do continuo NAO E e uma questao diafana ou transcendente que não guarda vinculacao direta com a nossa praxis. Para ver isso claramente, considere :

Um conjunto A de funcoes analiticas, duas a duas distintas, definidas em C ( C e o conjunto dos numeros complexos ) tal que para cada z pertencente a C fixado, o conjunto { f(z), f variando em A} seja enumeravel.

Pergunto : A e um conjunto enumeravel ?

E respondo propondo um exercicio :
Prove que se a HIPOTESE DO CONTINUO e falsa, entao qualquer A sera sempre um conjunto enumeravel. Se, porem, a HIPOTESE DO CONTINUO e verdadeira, entao existe ao menos um conjunto A não enumeravel.

Maravilha, não ? A HIPOTESE DO CONTINUO, este ser hibrido, tal como a quimera da mitologia grega, tem realmente diversas facetas, uma das quais e estar proxima a nos sem nos a percebermos ... mais que isso, como Godel e Cohen provaram que a HIPOTESE DO CONTINUO e independente dos demais axiomas da Teoria dos conjuntos, vale dizer, tanto faz supormos que ela e verdadeira ou falsa, a “natureza” do conjunto A descrito acima se torna altamente problematico ( ou emblematico ? )

A) Ele esta definido atraves de uma propiedade clara. Pelo AXIOMA DA ESPECIFICACAO (aussonderungsaxion) da teoria dos conjuntos ele esta bem definido. B) O que se dizer de um conjunto cuja cardinalidade depende de uma propriedade que pode ser valida ou não ? Que e enumeravel e nao-enumravel ao mesmo tempo ? No minimo, que não esta bem definido ...

Esses paradoxos sao idiossincrasias tipicas da Teoria dos conjuntos ... E nao me parece que qualquer interpretacao particular desta teoria podera ter carater peremptorio sobre estas questoes que tangenciamos... Se muito, uma particular interpretacao pode ter carater pratico e/ou didatico.

Se conseguissemos visualizar os CONJUNTOS PADROES a que nos referimos acima nao so a natureza da cardinalidade do conjunto A ja aludido estaria esclarecida como tambem a hipotese do continuo. Ora, se estes padroes existem, eles devem emergir da analise do processo de contagem... Deve existir, portanto, alguma propriedade da contagem que ainda nao percebemos e que, trazida a plena luz, nos permitira ver estes padroes.

Uma das construcoes bem conhecida dos numeros naturais parte do CONJUNTO VAZIO.

Nos colocamos 0={}. A seguir, 1={0}={{}}. E mais : 2={0,1}={{},{{}}} e assim sucessivamente. Todo numero natural sera igual ao conjunto dos seus predecessores ( vEJA : Paul Halmos, NAIVE SET THEORY, SPRINGER VERLAG ). Existe um pressuposto nesta construcao. Qual seria ?

EXISTE UM UNICO CONJUNTO VAZIO

Este pressuposto e consistente com a interpretacao combinatoria de BINOM(N,0). Nos colocamos:

BINOM(N,0)=1

Pois de um conjunto com N elementos so podemos tirar UM UNICO conjunto com 0 elementos, o conjunto vazio, que e unico pela teoria dos conjuntos. De BINOM(N,0)=1 tiramos 0!=1

Portanto, a existencia do CONJUNTO VAZIO e a sua unicidade e uma base nao so da construcao dos numeros naturais ( o primeiro "padrao" ou primeira cardinalidade ) como tambem de uma imaginavel interpretacao combinatoria ... Seria possivel de alguma maneira flexibilizar este pressuposto para construir outros padroes alem e diferente dos naturais ?

Esse questao que estou me(nos) propondo nao me parece, a priori, de forma alguma simples. Ela requer uma analise muito mais cuidadosa do que a que eu vou fazer aqui. EU APENAS VOU ESBOCAR A IDEIA QUE ME OCORRE NESTE MOMENTO. O que me parece ser o criterio que indicara sucesso ou nao nesta viagem mental e a possibilidade de dizer alguma coisa interessante que tangecie de alguma forma a HIPOTESE DO CONTINUO.

O conjunto vazio referencia a cardinalidade, tal como entendemos. Um conjunto sem elementos, e vazio. A cardinalidade e uma propriedade universal de todo conjunto. Dado um conjunto nao vazio. Os seus elementos podem ter AFINIDADES ou nao. Baseado em algum criterio, podemos dizer que os elementos de um conjunto nao tem afinidades, tem portanto zero afinidades, tem portanto um vazio de afinidades.

Um vazio de afinidades parece ser algo diferente de um vazio de cardinalidade. Existiria assim dois conjuntos vazios. Para um dado conjunto, existiria o seu numero cardinal e o conjunto das afinidades de seus elementos. Exemplo :

conjunto A ={joao,maria}
Afinidades associadas a A ={{ mesma idade, mesma cor, mesma altura }}

conjunto B={pedro,marta}
Afinidades associadas a B = {{ }}    ( sem afinidades )

Seria necessario agora construir um conjunto de axiomas que regulassem a relacao entre estas duas categorias de conjuntos : os conjuntos e suas afinidades. Mas e certo que poderiamos passar a interpretar combinatoriamente :

BINOM(N,0)=2

Pois sempre podemos construir um conjunto com N elementos e sem afinidades e, como anteriormente, retirar um unico conjunto com cardinalidade zero.



Esta mensagem toca em assuntos dificeis e importantes, mas e absolutamente despretensiosa. Vejam-na apenas como um curta e rapida viagem mental na qual tentei levar alguns de voces. Mas e certo que se fechermos os olhos e dermos liberdade a nossa imaginacao, muitos universos surgem a nossa frente. Esse carater de investigacao e contato com o desconhecido que sabemos que existe em outro plano e que encerra exuberante beleza e parte viva e real da Matematica. E tambem, parece-me, o que nos da maior motivacao ...

Um Abraco a Todos !
Paulo Santa Rita
3,2010,110406




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To: <obm-l@mat.puc-rio.br>
Subject: [obm-l] Re: [obm-l] RE: [obm-l] dúvida fatorial
Date: Mon, 3 Apr 2006 13:09:49 -0300

Eu havia imaginado vagamente (a tempos atrás)
tudo o que o professor Paulo
colocou nesta mensagem (Show de Bola).
  Só que não tinha exemplos concretos nem clareza
de idéias e também nem citações suficientes
para explicitá-las como as que foram por ele colocadas.

   A moral disso tudo é que devemos sempre
QUESTIONAR aquilo que nos é ensinado e da maneira
como é ensidado, pois podemos frequentemente nos
deparar com situações práticas onde a teoria precisa
ser ligeiramente adaptada e/ou a interpretação IPSIS
LITERIS da teoria pode tornar inviável a sua aplicação.
 O caso das geometrias não euclidianas são um exemplo
prático deste caso.


"WHAT I CAN'T CREATE I CAN'T UNDERSTAND"
-- RICHARD FEYNMAN.

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