Bom, eu estava lendo a lista, e vi este belo problema. E fiquei
pensando como fazer. Dando uma "espiada" nas soluções (principalmente,
vendo como cada um pensava em resolver !), eu vi que o buraco era bem
mais embaixo. Hoje de manhã, eu tentei fazer uma coisinha ou outra, e
acabei de ver uma solução. Eu não vou negar que ela foi um pouco
influenciada pelo Ponce (porque usa ângulos !), mas ela tem o mérito
de fazer umas contas, e mostrar o poder de "variáveis implícitas".

Aproveitando o enunciado do Ponce :

> Existe uma sala quadrada de lado L.
> Em um dos lados existe uma porta do tamanho da parede, ou seja, L.
> Portanto uma das paredes e' so' a porta.
> Chame esse quadrado (sala) de ABCD, e seja o segmento AB a porta.
> Essa porta, ela se abre de um jeito particular: o ponto A da mesma
> segue em linha reta pelo segmento AB, enquanto o ponto B dela segue
> reto pelo segmento BC.
> Portanto, quando ela abre, ela varre certa area de dentro da sala.
> Qual o valor dessa area?

Bom, acho que todo mundo já fez o desenho da situação... e eu fiz ao
contrário (eu botei a porta pra "subir" no eixo x = 1, e não x = 0,
como todo mundo). Isso não muda nada, mas vai mudar um pouquinho a
notação. (eu desenhei AB a base, e orientei "trigonometricamente" os
vértices, e assim o C ficou sendo o (1,1), e não o A = (0,1) e B=(0,0)
e C=(0,1) como na solução do Ponce, eu acho)

Vamos lá : a porta está em y = 0, e sobe pela reta x = 1. Seja t (de
theta) o ângulo que a tal porta faz com a base AB num dado instante.
Seja x um ponto que está "pra lá" do ponto de encontro, ou seja, x >
(1 - cos t). Como a gente tem um triângulo retângulo, de lados cos t e
sin t, com ângulo em B = (1,0), o ponto de encontro com AB é ( 1 - cos
t , 0). A altura acima do ponto x sobre a porta é sin t * (x - (1 -
cos t)) / cos t = tg t * (x + cos t - 1) (por uma semelhança dos
triângulos retângulos, o mais chatinho é ver o x - (1 - cos t), mas
depois de ter achado o 1 - cos t antes, fica até natural. Muito bom,
equação chatinha essa, não ? Vai ficar pior ! Vamos achar a altura
máxima em x. Basta derivar em relação a t nesta equação (e é aí que
fazer cos t, sin t é melhor do que usar uma coordenada linear na base,
porque vai dar uns polinômios e raizes muito chatos... eu comecei
assim...). Mas a equação é legal de derivar em t :
sec^2 t (x + cos t - 1) + tg t (-sin t) = 0, ou seja (x + cos t - 1) =
cos t * sin^2 t

Pronto, a gente tem x. Pra achar a área, basta integrar a altura em x
no ponto ótimo. Mas isso é muito difícil, porque implica resolver a
equação em t. E é aí que entra a mágica das funções implícitas : é bem
claro (mas se convençam disso por vocês mesmos) que entre 0 e pi/2 um
theta corresponde a um "x ótimo" e inversamente, um x corresponde a um
"t ótimo". Pronto, em vez de calcular integral de 0 a 1 de h(x) dx, a
gente escreve x como função de t, e integra (mudando o limite da
integral). E vai ficar bem legal, porque tem montes de coisas que vão
simplificar (pra começar, o (x + cos t - 1) que vai embora !)

integral de 0 a pi/2 de h(x(t)) d (x(t)) = integral de 0 a pi/2 tg t
*(cos t * sin^2 t) d (x(t))

Pausa para calcular d (x(t)) :
dx - sin t dt - 0 = (-sin t)sin^2 t + cos t * 2sin t cos t => dx = sin
t - sin^3 t + 2 cos^2 t sin t = (sin t)(1 - sin^2 t + 2 cos^2 t) = sin
t * 3 cos^2 t.

E agora, é só juntar tudo, e correr pro abraço :
integral de 0 a pi/2 sin t / cos t * cos t * sin^2 t * sin t * 3 cos^2
t dt = integral de 0 a pi/2 3 cos^2 t sin^4 t dt

Bom, pra integrar isso, é só usar fórmulas de "arco - duplo", cos^2 t
= (1 + cos 2t)/2. Como a integral é de 0 a pi/2, qualquer integral de
cos 2t vai integrar de 1 a -1, e vai dar zero. Portanto, basta
calcular o termo sem cos 2t !

3 integral de 0 a pi/2 (1 + cos 2t)/2 * (1 - cos^2 t)^2 dt =
3 integral de 0 a pi/2 (1 + cos 2t)/2 * (1 - 2cos^2 t + cos^4 t) dt =
3 integral de 0 a pi/2 (1 + cos 2t)/2 (1 - 2(1 + cos 2t)/2 + (1 + cos
2t)^2/4) dt =
3 integral de 0 a pi/2 (1 + cos 2t)/2 (1 - (1 + cos 2t) + (1 + 2cos 2t
+ cos^2 2t)/4) dt =
3 integral de 0 a pi/2 (1 + cos 2t)/2 (-cos 2t + (1 + 2cos 2t + cos^2
2t)/4) dt =

lembrando de desprezar os termos em cos 2t puros, e cos^3 2t que somam
zero de 0 a pi/2 (depois de fazer a distributiva !):

3 integral de 0 a pi/2 1/2 ((1 + cos^2 2t)/4) + (cos 2t)/2 (-cos 2t +
(2cos 2t)/4) dt =
3 integral de 0 a pi/2 1/8 + (cos^2 2t)/8  + (cos 2t)/2 (-cos 2t)/2 dt =
3 integral de 0 a pi/2 1/8 + (cos^2 2t)/8  - (cos^2 2t)/4 dt =
3 integral de 0 a pi/2 1/8 - (cos^2 2t)/8 dt =
3 integral de 0 a pi/2 1/8 - (1 + cos 4t)/2/8 dt =

E como pro 4t vai ser a mesma coisa do 2t (dessa vez, dá a volta
inteira no círculo)

3 integral de 0 a pi/2 1/8 - 1/16 dt = 3 * pi/2 * 1/16 = 3pi/32
(Ufffffffffffaaaaaaaaaaa, deu certo !)

A solução parece grande (mas uma vez que se chega na integral, é bem
fácil, é só longo de escrever), mas achei ela bonitinha pela mudança
de variáveis que inverte a função altura(x, theta), usando o x(theta)
em vez de theta(x) (que é o que a gente poderia querer calcular) e que
torna tudo isso factível. ( E bom, esta é puramente "não-geométrica",
e eu gosto de ver onde quando dá pra fazer sem usar muitas retas
mágicas, ou idéias do Ponce :D)

Abraços,
-- 
Bernardo Freitas Paulo da Costa

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Instruções para entrar na lista, sair da lista e usar a lista em
http://www.mat.puc-rio.br/~obmlistas/obm-l.html
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