Mas essa é para o Ruoso ... rotulamos o que não compreendemos!! Em 20/01/09, Marco Lima <braun.l...@gmail.com> escreveu: > > Agora sou eu !! > > Antes de nada é preciso saber o que é conhecimento ... e o que é ciência, > prática e metodologia !!! =) e isso é básico !!! antes de falar sobre coisas > mais do que se pode falar ... > > Em 20/01/09, Marco Lima <braun.l...@gmail.com> escreveu: >> >> Só repassando ... >> >> *Daniel Ruoso* daniel em ruoso.com >> <psl-ce%40listas.softwarelivre.org?Subject=Software%20Livre%20%3D%3FISO-8859-1%3FQ%3FN%3DC3O%3F%3D%20%3D%3FISO-8859-1%3FQ%3F_%3DE9%3F%3D%0A%09socialismo%20%28Was%3A%20Re%3A%20%5BPSL-CE%5D%20Software%20livre%20%3D%3FISO-8859-1%3FQ%3F%3DE9%3F%3D%0A%09Socialismo%3F%29&In-Reply-To=673ab4f30901172136w7114b05fva1a7c920d433915c%40mail.gmail.com> >> *Segunda Janeiro 19 11:57:42 BRST 2009* >> >> - Mensagem anterior: [PSL-CE] Software livre é Socialismo? >> >> <http://listas.softwarelivre.org/pipermail/psl-ce/2009-January/006884.html> >> - Próxima mensagem: Re: Software Livre NÃO é socialismo (Was: Re: >> [PSL-CE] Software livre é Socialismo?) >> >> <http://listas.softwarelivre.org/pipermail/psl-ce/2009-January/006901.html> >> - *Mensagens classificadas por:* [ date >> ]<http://listas.softwarelivre.org/pipermail/psl-ce/2009-January/date.html#6895> >> [ >> thread >> ]<http://listas.softwarelivre.org/pipermail/psl-ce/2009-January/thread.html#6895> >> [ >> subject >> ]<http://listas.softwarelivre.org/pipermail/psl-ce/2009-January/subject.html#6895> >> [ >> author >> ]<http://listas.softwarelivre.org/pipermail/psl-ce/2009-January/author.html#6895> >> >> ------------------------------ >> >> Em Dom, 2009-01-18 às 02:36 -0300, Roberto Parente escreveu: >> >* Pessoal, >> *>* No PSL-Brasil tem tido um debate bem legal sobre a >> *>* (in)compatibilidade do Software Livre com o Sistema Capitalista. >> >> >> *>* Em determinado post apareceu um link para esse artigo do Jornal do >> *>* Inverta. >> *>* Como disse o Autor, o Título foi mais para chamar atenção dos >> *>* leitores, mas achei o texto muito bom e esclarecedor. >> >> >> * >> Bom, lá vamos nós para mais uma polêmica. >> >> Vamos começar pela parte mais fácil. "O que é socialismo?". Para além de >> toda a tradição marxista, o socialismo pode ser entendido, do ponto de >> >> vista de Engels, que diz (não me lembro a frase exata) "de cada um o >> >> quanto pode, para cada um o quanto precisa". Essa é uma definição >> bastante ampla, que consegue encaixar desde o socialismo libertário até >> >> o stalinismo, com suas devidas extensões do conceito, mas de uma forma >> >> ou de outra, ela está ligada à dupla Marx e Engels, e dessa forma não >> pdoe-se deixar de ligar à dois conceitos fundamentais da teoria >> marxista: >> >> 1) A luta de classes é o motor da história >> 2) A oposição entre capital e trabalho é a contradição fundamental do >> >> captitalismo. >> >> Mesmo para os socialistas não marxistas, é muito comum que a questão da >> oposição entre capital e trabalho continue sendo vista como um ponto >> >> central, mesmo que não seja mais o ponto fundamental (a principal >> >> discordância entre os socialistas marxistas e não-marxistas está na >> supervalorização que a teoria marxista dá às condições materiais de uma >> determinada época, tanto que Marx nomeou sua teoria de "materialismo >> >> >> histórico", como pode-se ver n'"A Ideologia Alemã". >> >> Mais importante que a teoria marxista, do ponto de vista da história dos >> movimentos de "esquerda" é o "marxismo", que não tem necessariamente >> >> >> relação com Marx. Um exemplo interessante é a maneira como muitos >> "marxistas" utilizam o termo "dialética" como se ele fizesse parte do >> vocabulário de Marx, mas na verdade, dialética é um conceito de Hegel, >> >> >> para quem Marx dedicou tantas críticas. O "marxismo" como conhecemos >> hoje na verdade tem Lenin como sua principal influência, e daí divide-se >> entre os Marxistas-Leninistas-Stalinistas (tendo o PCdoB como principal >> >> >> referência) e os Marxistas-Leninistas-Trotskistas (Uma parte do PT, o >> PSOL e o PSTU sendo os mais relevantes no Brasil). Depois disso a coisa >> ainda divide-se entre Marxistas-Leninistas-Trotskistas-Mandelistas e >> >> Marxistas-Leninistas-Trotskistas-Morenistas. Mas todos eles ainda fiéis >> >> ao ponto central de que a contradição fundamental do capitalismo é a >> oposição entre capital e trabalho. >> >> Dentro desse espectro, a principal referência ideológica foi, mesmo que >> >> com certas críticas (feitas apenas internamente), a União das Repúblicas >> >> Socialistas Soviéticas, que até o final da década de 80 ainda era a >> grande esperança dos marxistas ao redor do mundo. Não é a toa que a >> >> queda do muro de Berlin representou a maior "baixa" dos movimentos de >> >> "esquerda" ao redor do mundo, e coincidiu com o avanço do chamado >> "neo-liberalismo". Era o fim da bi-polarização, o capitalismo tinha >> >> vencido. 20 anos depois a queda das torres gêmeas é visto >> >> emblemáticamente como o sinal de que o imperialismo americano também não >> é a única opção, mas isso é outra história. >> >> Na américa latina temos uma situação muito particular que é a >> >> coincidência entre a decadência da URSS e a decadência dos regimes >> >> militares latino-americanos, o que acabou criando uma bandeira >> alternativa para esses movimentos que cada vez menos poderiam olhar para >> a URSS como o "socialismo real". A "Democracia" passou a ser a nova >> >> >> marca da esquerda latino-americana, como se o fato do "proletariado" não >> ter chegado ao poder fosse um reflexo da falta de democracia no país, e >> que isso seria uma tendência natural em um país realmente democrático. >> >> >> Democracia e socialismo passaram a ser então indissociáveis (até como >> negação ao regime autoritário soviético). >> >> É preciso entender, no entanto, que democracia representa mais do que >> "voto", democracia significa "igualdade de oportunidades", de modo que >> >> >> qualquer indivíduo possa interferir nos rumos da sociedade em iguais >> condições. As políticas afirmativas existem inclusive para garantir >> essas igualdades de oportunidades. É claro que o voto é sim o maior >> emblema da Democracia, mas os estatutos, as regulamentações, as >> >> >> previsões de direitos são tão importantes quanto o próprio voto na >> manutenção da democracia. "igualdade de oportunidades" se torna bem >> próximo de "de cada um o quanto pode para cada um o quanto precisa". >> >> >> >> Quem já participou de movimento estudantil, ou já acompanhou movimento >> sindical sabe da relevância que se coloca à igualdade de oportunidades >> inclusive na gestão das decisões, todos devem ter igualdade de >> >> oportunidades em decidir o futuro da organização, muitas vezes chegando >> >> a extremos que costumamos chamar de "democratismo". >> >> Dito isso, vamos ao outro lado da moeda: o que é o Software Livre? >> (enquanto movimento ideológico, acho que o que é Software Livre por si >> >> todo mundo sabe aqui, né?) >> >> >> Para entendermos as bases ideológicas por trás do Software Livre, >> precisamos começar antes de existir software livre, que é mais ou menos >> na época em que também não existia software proprietário. >> >> >> Olhando do ponto de vista social, temos dois grupos muito interessantes, >> >> o SHARE e o DECUS. Esses dois grupos compartilhavam código simplesmente >> porque as leis de direito de autor e de direito de cópia não se >> >> aplicavam ao desenvolvimento de software. Software era entendido da >> mesma forma que qualquer publicação científica, estava lá fazendo parte >> >> do conhecimento humano (isso nas décadas de 50 e 60). >> >> Na década de 70, o custo do hardware e do software começaram a se >> >> inverter em proporção, e começou a surgir uma oportunidade de negócio na >> venda em escala desse software. Alguns laboratórios começaram a >> >> restringir o compartilhamento de informação entre os seus >> desenvolvedores. É nessa época que o Bill Gates lança a emblemática >> >> "Open Letter to Hobbyists", onde a contradição entre o novo significado >> e o velho significado de software ficam evidentes. >> >> >> Na década de 80 acontece a grande virada, onde a lei de direito de autor >> >> se firma como regulamentação para software. Surge então tanto o software >> proprietário quanto o software livre. Isso é um aspecto muito importante >> >> para o entendimento dessa questão. O software proprietário é uma >> >> novidade, e o movimento "software livre" é uma resposta a isso. Ainda na >> década de 80, a usenet vira um centro de compartilhamento de software >> >> "não regulado", mostrando também que nem tudo foi para os dois extremos, >> >> uma série de pessoas continuou trabalhando com software na perspectiva >> de que ele deve ser compartilhado, mas sem aderir a um "movimento". >> >> >> É nesse ponto que existe uma questão emblemática: Em nenhum momento >> >> Richard Stallman em seu manifesto GNU ou os desenvolvedores de >> ferramentas como diff, rn ou patch (os dois últimos tendo sido >> desenvolvidos por Larry Wall) estavam questionando a oposição entre >> >> capital e trabalho. Talvez o fato de Richard Stallman ter se demitido do >> >> MIT pudesse remeter à luta de classes, mas ele é uma excessão nesse >> sentido. A maior parte dos outros desenvolvedores contribuiu como >> voluntário ou no exercício da sua profissão, nenhuma luta de classes aí. >> >> >> >> Por outro lado, uma outra influência ideológica muito forte, o que os >> americanos chamam de "libertarianism" (que não se pode confundir com >> socialismo libertário), teve sim uma grande relevância nesse processo. É >> >> >> preciso lembrar-se que o Iluminismo é a base do Liberalismo. O >> Iluminismo lutou contra o "index" da igreja católica de então porque o >> conhecimento é a chave para o desenvolvimento de uma sociedade livre. >> >> >> Uma boa parte (e digo dessa forma porque foi isso que ouvi em >> entrevistas, durante a minha pesquisa) dos desenvolvedores que estão por >> trás do X e de uma série de ferramentas são assumidamente >> "libertarians". >> >> >> >> Libertarians aqui no sentido de: "Enlightenment ideas of individual >> liberty, constitutionally limited government, and reliance on the >> institutions of civil society and a free market to promote social order >> >> >> and economic prosperity were the basis of what became known in the 19th >> century as liberalism. While it kept that meaning in most of the world, >> modern liberalism in the United States began to mean a more statist >> >> >> viewpoint. Over time, those who held to the earlier liberal views began >> to call themselves market liberals, classical liberals or libertarians." >> >> *********** >> O que significa que não só o software livre não é incompativel com o >> >> >> capitalismo, como a principal influência ideológica desse movimento é o >> neo-liberalismo, como gostamos de chamar os "libertarians" aqui no >> Brasil. >> *********** >> >> Também contrariando a dimensão da "Democracia", tão importante para o >> >> >> "Socialismo" contemporâneo, a comunidade software livre explicitamente >> rejeita a democracia, não há nenhuma intenção para que se dê igualdade >> de oportunidade de influência nas decisões, muito pelo contrário, a >> >> >> desigualdade é o principal mecanismo de defesa da comunidade software >> livre. Quem contribui mais decide mais, quem não contribui não decide. >> >> E não interessa se o "desenvolvedor" se torna um grupo que tem mais >> >> >> poder de decisão nos futuros do software livre, do ponto de vista da >> comunidade software livre, é melhor assim: "want a bug fixed, send a >> patch". >> >> Isso ajuda a entender porque muitas vezes uma boa idéia que é mandada >> >> >> por um usuário a uma lista de discussão simplesmente não repercute. Isso >> não significa que não seja uma boa idéia, significa simplesmente que >> nenhum desenvolvedor se motivou com ela, de forma que quem submeteu a >> >> >> idéia fica desafiado a prová-la como boa idéia. E na hora que ela >> estiver implementada e realmente se mostrar interessante, os outros >> desenvolvedores irão aderir a ela, mas nada disso irá se decidir em uma >> assembléia. >> >> >> >> *** >> >> Em resumo, o que é muito chocante nessa história toda é ter que ver toda >> a esquerda latino-americana (e eu digo isso porque sempre me considerei >> "de esquerda", mesmo que anarquista) tendo que bater palmas para um >> >> >> movimento que tem por base ideológica aquilo que essa mesma esquerda >> mais atacou nos últimos anos, o Neo-liberalismo. *clap* *clap* >> >> A propósito, a minha monografia que trata desse tema dentre outras >> coisas está em: >> >> >> http://antropologia.codigolivre.org.br/debian/Monografia.pdf >> >> daniel >> >> >> >> >> >> >> Em 20/01/09, Filipe Saraiva <filip.sara...@gmail.com> escreveu: >>> >>> Não sei por que deveria lutar pelo socialismo primeiro para viabilizar >>> o software livre. >>> >>> >>> Eu concordo contigo, Glauber. Na verdade, acho que o movimento >>> software livre não deveria enveredar por este rumo. Apesar de >>> respeitar a esquerda tradicional, socialista marxista, muitos dos >>> movimentos que a tomam como ideologia dominante estancaram no tempo. >>> Estão por aí, muitos esperando a revolução chegar, sem fazerem nada, >>> se movimentarem, sem entenderem a atual situação social em que o mundo >>> chegou. >>> >>> Não estou querendo dizer que as condições sociais melhoraram, que não >>> precisamos mais de sindicatos, que não existe mais espaço para >>> manifestações... nada disso, apenas sinalizo que muitos movimentos >>> tornaram-se anacrônicos em suas práticas e concepções. >>> >>> Abraços, >>> >>> Em 19/01/09, Glauber Machado Rodrigues >>> (Ananda)<glauber.rodrig...@gmail.com> escreveu: >>> >>> > 2009/1/19 Roberto Parente <betim.pare...@gmail.com> >>> > >>> >> Como eu disse, o Software Livre pode existir dentro do capitalismo, >>> senão >>> >> talvez nem estaríamos discutindo. Porém, o que falo é dele existir em >>> sua >>> >> plenitude, das relações de compartilhamento, da não concentração do >>> >> desenvolvimento na mãos de poucos e etc... >>> >> >>> > >>> > Exato. Inclusive eu acho que a experiência de sucesso do software livre >>> irá >>> > transformar o capitalismo de tal forma que o que vai restar não vai >>> lembrar >>> > muito o capitalismo original. Acredito que o SL será um dos agentes de >>> > mudança. Não tem nenhum "mas primeiro", e sim um "e aí então...". >>> > >>> > Não consigo pensar que seja mais fácil acabar com o conceito de >>> "propriedade >>> > privada" antes do conceito de "propriedade intelectual". Por isso acho >>> mais >>> > fácil se tornar popular ao sair gritando na rua "compartilhem seus >>> programas >>> > com estranhos" do que "compartilhem todo seu patrimonio com estranhos". >>> Não >>> > sei por que deveria lutar pelo socialismo primeiro para viabilizar o >>> > software livre. >>> > >>> > -- >>> > Glauber Machado Rodrigues >>> > PSL-MA >>> > >>> > jabber: glau...@jabber-br.org >>> > >>> > música livre é bem melhor: >>> > http://www.jamendo.com >>> > >>> >>> >>> >>> -- >>> Filipe Saraiva >>> ************************************** >>> Meu blog: http://www.liberdadenafronteira.blogspot.com/ >>> >>> Bacharelando em Ciências da Computação >>> Universidade Federal do Piauí >>> >>> Diretor de Inclusão Digital >>> Executiva Nacional dos Estudantes de Computação - ENEC >>> >>> Projeto Software Livre - Piauí - PSL-PI >>> _______________________________________________ >>> PSL-Brasil mailing list >>> PSL-Brasil@listas.softwarelivre.org >>> http://listas.softwarelivre.org/mailman/listinfo/psl-brasil >>> Regras da lista: >>> http://twiki.softwarelivre.org/bin/view/PSLBrasil/RegrasDaListaPSLBrasil >>> >> >> >> >> -- >> >> Marco Lima >> braun.l...@gmail.com >> >> "Ter acesso ao conhecimento é um dever de todos; transmitir conhecimento é >> um dever de quem tem." >> >> "Na visão do hacker, o sentido da vida está em dedicar-se a uma paixão. >> Esta paixão é, na realidade, uma atividade significativa, inspiradora e >> prazerosa para o indivíduo, seja ela rotulada como "trabalho" ou como >> "diversão." >> > > > > -- > > Marco Lima > braun.l...@gmail.com > > "Ter acesso ao conhecimento é um dever de todos; transmitir conhecimento é > um dever de quem tem." > > "Na visão do hacker, o sentido da vida está em dedicar-se a uma paixão. > Esta paixão é, na realidade, uma atividade significativa, inspiradora e > prazerosa para o indivíduo, seja ela rotulada como "trabalho" ou como > "diversão." >
-- Marco Lima braun.l...@gmail.com "Ter acesso ao conhecimento é um dever de todos; transmitir conhecimento é um dever de quem tem." "Na visão do hacker, o sentido da vida está em dedicar-se a uma paixão. Esta paixão é, na realidade, uma atividade significativa, inspiradora e prazerosa para o indivíduo, seja ela rotulada como "trabalho" ou como "diversão."
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