Em 28 de outubro de 2014 13:00, Omar Kaminski <internetle...@gmail.com>
escreveu:

> Falando em lei, e a do software livre, aquela de 1999 que passou a
> abranger também os formatos abertos na última versão?
>
> Já são QUINZE ANOS de tramitação.
>


E talvez tramite mais quinze... :(

Acho que não estamos na melhor direção com esta lei, é muito difícil ela
pegar porque obrigar órgãos públicos e pessoas a usar coisas que elas não
querem ou não estão acostumadas só atrai mais resistência. E na primeira
oportunidade as coisas são logo revertidas, prova disso são os anos todos
patinando nessas ações dentro do governo e relatos recentes de
descontinuidades que a gente vê e várias delas são citadas aqui mesmo na
lista.

Temos discutido bastante ultimamente no Interlegis uma abordadem diferente
para o software livre no governo que na nossa visão seria mais exequível,
que é virar o foco para o lado do desenvolvimento e não (prioritariamente)
do uso. Desenvolvimento de software livre está meio que negligenciado no
governo e achamos que se a lei, em vez de regulamentar o uso, deveria
exigir que todos os softwares desenvolvidos por órgãos públicos sejam
obrigatoriamente disponibilizados como software público.

Isso, somado a estrutura já existente em torno do portal do software
público e de normativos como a IN04, faria com que todas as soluções
desenvolvidas pelo governo fossem compartilhadas, em vez de serem
redesenvolvidas e/ou recontratadas e, progressivamente, faria também com
que o uso de sofware livre nos órgãos públicos se tornasse comum, quebrando
as resistências aos poucos e abrindo espaço também para o uso de outras
soluções livres em outros nichos.

Nossa base de raciocínio vem da nossa prática de 14 anos desenvolvendo e
destribuindo softwares livres para o legislativo brasileiro, e fazendo isso
por meio de adesão, sem obrigar nada a ninguém. Hoje já temos mais de 1500
instalações de nossos produtos em uso pelas Câmaras Municipais e
Assembleias Legislativas hospedadas no Interlegis, sem contar as que o
pessoal baixa e usa por conta própria, e por conta desse contato com esses
softwares, filosofia e comunidade o uso de soluções livres nas casas
legislativas está se tornando muito comum, bem como a participação e
colaboração da comunidade no desenvolvimento deles[1], a ponto de já
haverem casas que estão rodando 100% soluções livres/abertas.

Como sempre fiz parte de times de desenvolvimento de software e participo
de comunidades de software livre desde o começo do movimento, sempre senti
uma maior valorização que a comunidade dá ao *uso* de software livre
(entendo que isso atrai mais gente por ser mais abrangente/inclusor e é
mais sedutor pelo retorno financeiro imediato), e isso também se reflete
nas suas ações junto ao governo. Mas acontece que para o software livre
poder ser usado, primeiro ele tem que ser *desenvolvido*, e por isso acho
que o desenvolvimento deve ser valorizado na proporção merecida.

Portanto, para encurtar a prosa, eu e meus colegas achamos que nosso foco
deveria ser em impulsionar uma lei que obrigue os órgãos públicos a
disponibilizarem todo o software desenvolvido/financiado/melhorado por
eles, fazendo valer o preceito de que tudo o que é gerado por um órgão
público é um bem público, e como tal deve ser tratado, sem história de
sigilo ou segredo de Estado, pois, se fosse assim, o Linux, OpenSSL,
OpenPGP, etc. não estariam sendo usados em missão crítica inclusive em
coisas sigilosas, e eles são softwares livres e bem feitos.

Abraço,

[1] https://colab.interlegis.leg.br

-- 
Jean Ferri
http://about.me/jeanferri
_______________________________________________
psl-brasil mailing list
psl-brasil@listas.softwarelivre.org
http://listas.softwarelivre.org/cgi-bin/mailman/listinfo/psl-brasil
Regras da lista:
http://wiki.softwarelivre.org/bin/view/PSLBrasil/RegrasDaListaPSLBrasil
SAIR DA LISTA ou trocar a senha:
http://listas.softwarelivre.org/mailman/options/psl-brasil

Responder a