http://www.eduardosan.com/2015/03/25/software-inimigo-do-estado/

Software Inimigo do Estado

O ano é 1998 e o protagonista, o famoso ator Will Smith, está sentado em uma 
mesa de café. Discute com uma mulher a entrega de evidências que podem ajudar 
seu cliente, uma vez que era advogado. Alguns minutos depois está fugindo 
enlouquecido pela cidade acusado de vários crimes que não cometeu, e até mesmo 
sua família passa a crer que pode ser culpado. Seu crime? Saber demais, mesmo 
sem saber do que realmente sabia.

O filme narra a saga de uma situação que parecia completamente ficcional para a 
maioria das pessoas no ano de 1998: o Governo mantém total controle sobre tudo 
e todos utilizando equipamentos de vigilância eletrônica, muitos deles ilegais. 
Até que um pouco mais tarde surge o incrível Jack Bauer e mostra na nossa cara 
como essa vigilância acontece em nível global. Claro, era uma ficção apenas que 
costumava ver com meu pai. Ele acreditava cegamente que tal situação nunca 
seria possível. Afinal, como pode um Governo monitorar a tudo e a todos?

Uma emblemática fala do filme Inimigo do Estado resume um sentimento que 
parecia surreal à época:

    A única liberdade que resta é a de pensamento, e talvez seja o suficiente.

Um pouco mais tarde surge o grande Edward Snowden que descreve como a 
vigilância acontece em nível global e continuamos achando que não é conosco. 
Dessa vez ninguém se preocupou em negar, apenas em acusá-lo de traidor, 
“cagueta” e outras coisas interessantes. A novidade? Estavam espionando a 
Presidenta do Brasil. Sim, liam os e-mails da Presidenta e tudo o que ela 
enviava para todos os seus Ministros. Como? Ela usava uma suíte de Correio 
proprietária da Microsoft.

Vale uma pausa para explicar um pouco sobre o significado da liberdade. Não vou 
discorrer muito sobre o tema, mas você pode se divertir buscando por aqui tudo 
o que já escrevi. Em geral a liberdade só é percebida quando sentimos falta 
dela, ou seja, quando somos impedidos de fazer algo que queremos por não 
estarmos de posse da mais absoluta e plena liberdade. Nossa Presidenta se fez 
de bravinha quando percebeu que tinha perdido a liberdade e soltou um Decreto 
para defender a Segurança Nacional, mas isso é assunto para outra oportunidade. 
O ponto que quero levantar aqui é: ela já sabia.

Sim, ela já sabia pois conheço pelo menos três pessoas que enviaram 
recomendações à Presidência da República para substituir a ferramenta de e-mail 
proprietária. O motivo era óbvio: como é possível tratar assuntos de interesse 
da Segurança Nacional com ferramentas cujo código-fonte é fechado é são 
produzidas por outros países?

E você, que está aqui lendo essa mensagem, você também sabe. Você sabe porque 
muita gente já te falou, mas você não acreditou né, porque afinal, é aquele 
bando de malucos seguidores do Stallman. São aqueles que ficam implicando com o 
que você coloca no seu computador. Tem até um maluco lá da Paraíba que “ousou” 
atacar o seu facebook sagrado. Como ele pode fazer isso, não é mesmo? Mas deixa 
eu te contar um segredo: eles estão te usando. E você sabe, mas não liga, 
porque né, o face é sagrado.

O ser humano tem uma capacidade incrível de se acomodar, principalmente quando 
vai ficando velho. E confesso: estou acomodado. Mas antes de falar de mim, 
gostaria de contar uma história que se confunde um pouco com a do início do 
Governo PT na esfera Federal (infelizmente, acredito eu). Era uma história de 
um grupo de pessoas que, notando algumas dessas coisas malucas, perceberam que 
esse negócio de Software Livre era importante para o país e começaram a se 
mexer. No começo eram iniciativas isoladas; depois um movimento foi surgindo, 
que culminou no Fórum Internacional de Software Livre. Durante algum tempo o 
FISL poderia ser considerado um dos maiores eventos de Software Livre do mundo.

Contudo, com o passar do tempo, o FISL também se acomodou. O motivo é simples: 
antigamente era basicamente um encontro de técnicos e entusiastas do tema, mas 
o povo foi ficando mais, digamos, “engajado”. O que era pra ser uma organização 
em torno do tema Software Livre (em negrito aqui) acabou se tornando um 
encontro de políticos que orbitam ao redor do tema Software Livre. O ser humano 
é político, eu sou político, você é político, mas as organizações devem servir 
às pessoas e seus princípios, e não o contrário. Apesar de saber que estou 
desagradando algumas pessoas ao escrever isso, a Associação Software Livre pode 
defender várias coisas hoje, até mesmo o Fórum Internacional de Software Livre, 
mas já faz muito tempo que não defende o Software Livre em si. Por quê? Porque 
o sistema hoje trabalha para manter o próprio sistema, como já dizia o sábio 
Capitão Nascimento. Os ideais da OSI, já bem explanados pelo amigo Anahuac, 
prevaleceram sobre a defesa da liberdade inexorável e indispensável sobre todos 
os aspectos do software.

É nesse momento que devemos aplaudir as iniciativas diferentes, como a do 
Coordenador Geral do FLISOL Brasil, Thiago Paixão. Contrariando muitos 
interesses que não sabemos bem quais são, teve a coragem de soltar uma 
recomendação para que não se instale Ubuntu no FLISOL em 2015. Por quê, você 
deve estar se perguntando. A resposta é simples: porque Ubuntu não é Livre! É 
surreal termos que explicar porque não queremos a instalação de software 
privativo no Festival Latino Americano de Instalação de Software Livre. Sim, 
Ubuntu não é Livre, e nada mais justo que não instalá-lo em um festival a favor 
da liberdade de software, mas é preciso pensar fora da caixa. Não se trata 
apenas de uma pura e simples recomendação ou birra com a Canonical: é uma 
contra revolução. É uma resposta aos que foram absorvidos pelo sistema, ao 
dizer pra eles que não aceitamos acordos pela manutenção do sistema. Se o jogo 
se tornou contra nós continuaremos lutando sozinhos, mas pelo menos olharemos 
para o lado sabendo quem está de verdade conosco.

O Software privativo é inimigo do Estado, e não somente do Estado nacional do 
Brasil, mas da ideia de Estado pregada pela democracia. O software privativo é 
uma arma de controle, das mais eficientes já elaboradas pela humanidade, e ao 
utilizá-lo você concorda em ser subserviente. Digo mais: quem usa software 
privativo ou promove a sua utilização é Inimigo do Estado, não se preocupa com 
a liberdade e trata apenas de seus interesses egoístas. Somos todos Inimigos do 
Estado em algum ponto, pois nos utilizamos de ferramentas e serviços 
proprietários quando nos é conveniente. A pergunta que fica é: e agora que você 
tomou a pílula azul? O que você vai fazer? De que lado está?

Por Eduardo Santos

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Anahuac de Paula Gil

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