Minha crise com o Software Livre

Crise com a liberdade, ao final de contas é disso que o Software Livre é filho. 
Cada dia me deparo com mais lucidez é que talvez não esteja assumindo ele 
completamente. Digo isso porque talvez não esteja assumindo completamente a 
minha própria liberdade. A Liberdade é a nossa escravidão, como dizia o velho 
Sartre. Não há como fugir dela, tudo na vida é escolha. Entre sim e não, a 
abstenção é escolha também. Escolher é a essência humana e acreditar na 
possibilidade de poder não escolher é ingenuidade.

Hoje Kant me ensinou que a minha liberdade reside na contra mão dos meus 
desejos, algo que disparou o gatilho para este texto. Quando a ação é fruto do 
desejo, esta não precisa de nenhuma reflexão, não há valor moral numa decisão 
tomada por afeto. Se você tiver que arriscar sua vida por alguém que ama, fará 
porque o sente fazer. Quando não há nenhum desejo, salvar alguém se torna uma 
decisão pensada, fruto da razão.

Você pode se perguntar: o que isso tem a ver com Software Livre? A resposta é 
clara: assumir Software livre é justamente tomar decisões que vão contra o 
desejo. Quem não desejaria usar o computador sem ter que se preocupar com essa 
tal de liberdade? Porque num mundo onde o Microsoft Word impera, torna-se muito 
desconfortável utilizar o LibreOffice, seira muito mais prazeroso usar o 
software onde o .docx não dá pau.

Confidentemente, Software Livre é dor. Se você imaginasse as voltas que tenho 
que dar para me relacionar com o mundo proprietário, talvez achasse loucura ou 
risse da minha cara. Claro que o riso, dentre muitos sinais, poder ser da 
ignorância (sim, soa um pouco prepotente). Faço o que faço porque penso. Penso 
e concluo que para mim o bem supremo de uma vida não é o prazer. Se assim o 
fosse, raciocínio seria dispensável, pois os animais conseguem obter prazer por 
instinto, então instinto nos bastaria (vide Kant e Rousseau). Logo, se fico na 
contramão do meu instinto é porque a liberdade para mim é bem maior.

Mas assim mesmo titubeio. Tenho drivers da Nvidia no desejo de jogar Batman 
Arkham Knight no Archlinux. Só neste exemplo, temos: proprietário, 
proprietário, misto. Ah, é claro que tenho Windows para outros jogos não 
GNU/Linux. Nem vou adentrar em serviços online, pois a coisa iria se estender 
demais. Chegamos ao clímax da explicação da minha crise. Estaria eu correto em 
afirmar que defendo a minha liberdade diante de tantas exceções que abro em 
relação a ela?  Deveria eu abster-me de todos os prazeres e comodidades do 
Software Proprietário em função da minha liberdade? Se entendo minha liberdade 
como o bem supremo, não seria incorreto deixar de obter a sua plenitude?

Como tudo na vida o que não faltam são perguntas.

By Jeison

http://jeison.net/blog/2015/03/31/minha-crise-com-o-software-livre/




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