com aquele papo de "experimenta, depois, quando você quiser,
é só parar ..." e eu fui na dele. Primeiro ele me ofereceu
coisa leve, disse que era de "raiz", "da terra", que não
fazia mal, e me deu um inofensivo disco do "Chitãozinho e
Xororó" e em seguida um do "Leandro e Leonardo". Achei
legal, coisa bem brasileira; mas a parada foi ficando mais
pesada, o consumo cada vez mais freqüente, comecei a chamar
todo mundo de "Amigo" e acabei comprando pela primeira vez.
Lembro que cheguei na loja e pedi:
- Me dá um CD do Zezé de Camargo e Luciano.
Era o princípio de tudo!
Logo resolvi experimentar algo diferente e ele me ofereceu
um CD de Axé. Ele dizia que era para relaxar; sabe, coisa
leve... "Banda Eva", "Cheiro de Amor", "Netinho", etc. Com o
tempo, meu amigo foi oferecendo coisas piores: "É o Tchan",
"Companhia do Pagode", "Asa de Águia" e muito mais.
Após o uso contínuo eu já não queria mais saber de coisas
leves, eu queria algo mais pesado, mais desafiador, que me
fizesse mexer a bunda como eu nunca havia mexido antes,
então, meu "amigo" me deu o que eu queria, um Cd do
"Harmonia do Samba". Minha bunda passou a ser o centro da
minha vida, minha razão de existir. Eu pensava por ela,
respirava por ela, vivia por ela!
Mas, depois de muito tempo de consumo, a droga perde efeito,
e você começa a querer cada vez mais, mais, mais . . .
Comecei a freqüentar o submundo e correr atrás das paradas.
Foi a partir daí que começou a minha decadência. Fui ao show
de encontro dos grupos "Carametade" e "Só pra Contrariar", e
até comprei a Caras que tinha o "Rodriguinho" na capa.
Quando dei por mim, já estava com o cabelo pintado de loiro,
minha mão tinha crescido muito em função do pandeiro, meus
polegares já não se mexiam por eu passar o tempo todo
fazendo sinais de positivo.
Não deu outra: entrei para um grupo de Pagode. Enquanto
vários outros viciados cantavam uma "música" que não dizia
nada, eu e mais 12 infelizes dançávamos alguns passinhos
ensaiados, sorriamos e fazíamos sinais combinados.
Lembro-me de um dia quando entrei nas lojas Americanas e
pedi a coletânea "As Melhores do Molejão". Foi terrível!! Eu
já não pensava mais!! Meu senso crítico havia sido
dissolvido pelas rimas "miseráveis" e letras pouco
arrojadas.
Meu cérebro estava travado, não pensava em mais nada. Mas a
fase negra ainda estava por vir. Cheguei ao fundo do poço,
no limiar da condição humana, quando comecei a escutar
"Popozudas", "Bondes", "Tigrões", "Motinhas" e "Tapinhas".
Comecei a ter delírios, a dizer coisas sem sentido. Quando
saia a noite para as festas pedia tapas na cara e fazia
gestos obscenos. Fui cercado por outros drogados, usuários
das drogas mais estranhas; uns nobres queriam me mostrar o
"caminho das pedras", outros extremistas preferiam o
"caminho dos templos".
Minha fraqueza era tanta que estive próximo de sucumbir aos
radicais e ser dominado pela droga mais poderosa do mercado:
a droga limpa.
Hoje estou internado em uma clínica. Meus verdadeiros amigos
fizeram a única coisa que poderiam ter feito por mim. Meu
tratamento está sendo muito duro: doses cavalares de Rock,
MPB, Progressivo e Blues. Mas o meu médico falou que é
possível que tenham que recorrer ao Jazz e até mesmo a
Mozart e Bach.
Queria aproveitar a oportunidade e aconselhar as pessoas a
não se entregarem a esse tipo de droga. Os traficantes só
pensam no dinheiro.
Eles não se preocupam com a sua saúde, por isso tapam sua
visão para as coisas boas e te oferecem drogas. Se você não
reagir, vai acabar drogado: alienado, inculto, manobrável,
consumível, descartável e distante; vai perder as
referências e definhar mentalmente.
Em vez de encher a cabeça com porcaria, pratique esportes e,
na dúvida, se não puder distinguir o que é droga ou não,
faça o seguinte:
- não ligue a TV no Domingo a tarde;
- não escute nada que venha de Goiânia ou do Interior de São
Paulo;
- não entre em carros com adesivos "Fui ... ";
- se te oferecerem um CD, procure saber se o suspeito foi ao
programa da Hebe;
- ou se apareceu no Sabadão do Gugu;
- mulheres gritando histericamente são outro indício;
- não compre nenhum CD que tenha mais de 6 pessoas na capa;
- não vá a shows em que os suspeitos façam gestos ensaiados;
- não compre nenhum CD cuja capa tenha nuvens ao fundo;
- não compre qualquer CD que tenha vendido mais de 1 milhão
de cópias no Brasil; e
- não escute nada cujo autor não consiga uma concordância
verbal mínima.
Mas, principalmente, duvide de tudo e de todos.
A vida é bela!
Eu sei que você consegue!
Diga não às drogas!
Este relato é de um viciado arrependido que não quis se
identificar.
Obrigado.
(texto atribuido a Luis Fernando Verissimo - ?)
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McFly
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