É exatamente assim que eu imagino mapping parties ciclísticas...
Sent to you by Nighto via Google Reader: Pedal exploratório urbano: Humaitá, Jardim Botânico e Horto via Diário de Uma Mulher de Ciclos by Mulher de Ciclos on 7/25/09 Um roteiro pronto, meticulosamente traçado, caiu de bandeja nas mãos da Mulher de Ciclos. O autor - que pediu para não ser identificado, mas que mesmo assim eu vou contar para vocês quem é - bolou um pedal exploratório urbano pelo coração da Zona Sul do Rio de Janeiro, por ruas e recantos que muitos cariocas desconhecem, inclusive a dupla de protagonistas da história. Assim partiram para realizar a empreitada. Além de traçar o roteiro, Monsieur Le Tradeaux também iria registrar os locais pelos quais passariam com sua incansável câmera. Estavam com uma sequência de três mapas, e o primeiro deles começaria pela Rua Viúva Lacerda, no Humaitá. Para chegar lá, uma volta na Lagoa Rodrigo de Freitas, mais vazia que o normal. Mérito do céu cinza, ameaçador. No fim da rua - uma grande ladeira de paralelepípedos - checariam se há passagem para a Rua Euclides Figueiredo. Não havia. No fim da subida, mata fechada, uma pracinha e entrada para uma trilha que não se sabe onde vai parar. Desceram e tomaram a Rua Vitório da Costa. Esta sim daria continuidade ao pedal, sempre subindo. Sucederam-se as Ruas Maria Eugênia e - finalmente - a Euclides Figueiredo, uma sequência de ladeiras de paralelepípedos. E aconteceu uma coisa estranha: uma leve vertigem tomou conta de Mulher de Ciclos toda vez que olhava para cima, para as subidas de pisos irregulares, cheias de limo e escorregadias da chuva. Um temor e uma certeza invadiram-lhe o peito: iria cair. Era certo, era ‘batata’. Haveria de cair, claro, como poderia ser diferente? Naquela ladeira íngreme, de paralelepípedos que mais pareciam barras de sabão. E se caísse, cairia para o lado direito, o lado que sempre caía, e bateria o mesmo joelho, já tão maltratado de inúmeras outras peripécias ciclísticas. Seu corpo todo tremia só de pensar em cair e bater seu joelho novamente, o que a desequilibrava ainda mais, e tornava a queda iminente. Começou a fazer uma associação inconsciente: ladeira de paralelepípedos = queda = bater o joelho direito = dor. Subitamente foi inundada por um horror medonho, um desespero, um pânico. Sentiu um bolo em sua garganta e sufocou. Não conseguia mais respirar: as golfadas de ar fresco de nada adiantavam, a garganta parecia obstruída. No topo da subida, explodiram os soluços, e ela rebentou em um choro doído e maltratado. Poucas vezes sentiu tanto medo em sua vida. Primeiro, medo da subida, de cair, de machucar o joelho, de sentir mais dor, de ter que parar de pedalar. Segundo, medo de sentir medo, toda vez que se visse na mesma situação. Desesperou-se: como poderia pedalar com medo? Não seria possível, teria que parar de pedalar? Não poderia conceber idéia mais terrível! Como sempre, Monsieur Le Tradeaux sabe todas as respostas e com uma só frase arrancou-a do estupor: O que houve, deixou a ‘Mulher de Ciclos’ em casa hoje? Foi a senha para ela se recompôr e não se entregar a seus medos. Não que ela não os tenha, muito pelo contrário: apenas tenta dia após dia não se deixar abater. Começou a olhar para as ladeiras de paralelepípedos com outros olhos: subir tornou-se um desafio, uma questão de honra. Voltou a encarar as subidas como sempre fez: com um certo respeito, um ligeiro temor e o sabor do desafio. Seguiram a desbravar o restante do percurso traçado. A idéia era percorrer os bairros de Humaitá, Jardim Botânico e Horto, por ruas secundárias nas encostas, passando assim por cima do Túnel Rebouças. De lá é possível ver boa parte da Zona Sul de outro ângulo: o telhado da Igreja Santa Margarida Maria e a Lagoa Rodrigo de Freitas; as vias expressas e o mundaréu de carros passando em alta velocidade para entrar no Túnel Rebouças, que liga a Zona Sul à Zona Norte da cidade, o Cristo Redentor logo acima. No fim da Rua Caio de Melo Franco, o mapa indica uma ligação com a Rua Engenheiro Alfredo Duarte, mas o Google Maps esquece-se de avisar que é… uma escadaria! O jeito foi retornar. Descem pela rua procurada, no fim da qual encontram uma simpática pracinha, Praça Luís Mignone, no mesmo lugar em que fica o fim de uma das compridas escadas. Chegam à Rua Maria Angélica e à Praça dos Jacarandás, de onde pegam a Rua Jardim Botânico e novamente a ‘civilização’. Antes, uma pequena pausa para observar (e fotografar) os pequeninos micos que alvoroçam a vizinhança e pulam carniça nos fios dos postes. Mudaram de mapa, agora era a vez do segundo. Sobem a Rua Benjamin Batista e descem pelas Ruas Itaipava e Faro, tornando a entrar na Rua Jardim Botânico, mas apenas para pegar a Rua Conde Afonso Celso. Ali o objetivo era passar na Pracinha Pio XI, velha conhecida, e rever a escadaria de azulejos, lindíssima. O cheiro que vinha de um dos prédios apressou os ciclistas. Alguém preparava um almoço, com um cheirinho daqueles de barriga roncar. Partiram com pressa e esfomeados para o mapa de número três, a explorar o bairro do Horto. Subiram a Rua Lopes Quintas até o final, passando pelos bistrôs, ateliês e pelas belas construções antigas que pululam no lugar. A descida é pela Rua Visconde de Itaúna, passando por uma simpática e larga praça, de nome impronunciável. Entram na Rua Sara Vilela, que por si só já valeu todo o passeio. A rua é sem saída, placas avisam desde o seu início. Mas não se engane que ela acabará logo.Uma sequência de subidas e descidas que fazem parecer que se irá chegar a algum lugar. E não é que realmente se chega? Pouco antes do fim da rua, sem saída, fica o acesso para a trilha que leva à Cachoeira dos Primatas. A placa informa: aquela área ‘urbana’ é também parte da Floresta da Tijuca, setor Serra da Carioca. Conhecer a trilha e a cachoeira ficou para outra ocasião, já que não havia com quem deixar as magrelas. Mas a vista já recompensa, e estende-se por boa parte da Lagoa Rodrigo de Freitas até o corredor de palmeiras centenárias do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, ao longe. Descem o Horto e chegam à Rua Pacheco Leão, lugar já bem conhecido: dá acesso a uma das mais ciclisticamente frequentadas subidas da Floresta da Tijuca, a Vista Chinesa. Parada rápida na Rua Estela - apenas o tempo que a fome permitiu - para conhecer uma senhorinha de seus oitenta e tantos anos, moradora há 55 anos da antiga vila de casinhas operárias do bairro. De simples casinhas geminadas em vila, os imóveis se valorizaram muito nos últimos anos, e agora novos proprietários adquiriam algumas das casas. Alguns as reformaram, mantendo seu aspecto original. Outros ‘deformaram’ a aparência do lugar, tal qual uma cicatriz que insiste em macular a vila, não perfeita, mas harmônica em sua irregularidade. Mulher de Ciclos não só gosta de contar histórias, mas também de ouví-las. Deixou-se ficar entretida, ouvindo mais um bocadinho, e vendo as fotos antigas, muito antigas. Mas por pouco tempo: apressaram-se a almoçar, o bobó de camarão na moranga e a caninha do Da Graça os esperavam. Escritora que se preze tem que fazer suas anotações em mesa de bar, bem lembrou Monsieur Le Tradeaux, que não deixa passar detalhe algum. E assim começou Mulher de Ciclos a rabiscar umas baboseiras quaisquer no versos dos mapas, claro, com a caneta do garçom. Só que o passeio ainda não estava no fim. A próxima parada era no ‘Lebrão’, para conferir a quantas andava o Leblon Jazz Festival. O lugar estava movimentado, cheio de gente bonita. Som mesmo, mal ouviram, mas decidiram convocar os demais intrépidos, deixar as bikes em casa, trocar de roupa e comparecer ao festival vestidos à paisana. A volta foi pela orla. Já que haviam visto tanta floresta, agora um pouquinho de maresia para desopilar os pulmões. Mas a história não acaba aqui. O ‘The End’ foi somente na segunda-feira, quando Mulher de Ciclos recebe por e-mail um vídeo, que lhe ensina uma bela lição. Veja aqui o vídeo. Depois de assistí-lo, decidiu mesmo se livrar de todos os seus lobos. Menos um que está sempre, mesmo quando longe, a seu lado: o seu querido Lobo da Estepe… E que venham as ladeiras de paralelepípedos! Things you can do from here: - Subscribe to Diário de Uma Mulher de Ciclos using Google Reader - Get started using Google Reader to easily keep up with all your favorite sites
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