Armação à vista no Rio? Mauro Santayana - 25/6/2002
É melhor acreditar que os Ministros da Justiça e da Segurança Institucional estejam sendo sinceros, quando se declaram contra a decretação do Estado de Defesa no Rio de Janeiro - porque César Maia é tão confiável quanto uma moeda de três faces. Mas é muito suspeito que o Presidente Fernando Henrique tenha aceitado, de pronto, a hipótese de intervir no Estado do Rio de Janeiro. O Estado de Defesa é um instrumento para a preservação das instituições políticas do Estado, não para combater delinqüentes comuns. A boa cautela, de acordo com a máxima popularmente atribuída ao marechal Floriano Peixoto, é a de "confiar, desconfiando". Não é a primeira vez, embora esperemos que seja a última, em que se montam farsas, com objetivos liberticidas. O fato de que bandidos comuns possam ter alvejado a sede do governo municipal, com toda a sua gravidade, é menos importante do que o pretexto para o remédio extremo do estado de sítio, porque, apesar do eufemismo constitucional, é disso que se trata. Com o passar dos dias se torna menos provável a vitória do candidato do Governo à Presidência da República. Ocorre que o grupo governante fará tudo o que puder para impedir a vitória da oposição, como, aliás tem feito, não em defesa de princípios ideológicos ou doutrinários, mas porque tem medo de ser chamado a prestar contas dos seus atos. Todas as vezes que um governo tem medo de ser chamado aos tribunais, apela para a montagem de farsas semelhantes. Neste mesmo espaço prevíamos a montagem de planos que visam a assustar a população e a justificar os golpes de Estado. A técnica é sempre a mesma. Busca-se sempre um inimigo propício, e quando não há fantasmas ideológicos zanzando por aí, o narcotráfico pode ser um bom sucedâneo. Em 1937, Getúlio se valeu do Plano Cohen. Naquele momento, os integralistas achavam que, esmagados os comunistas, poderiam eleger (e possivelmente elegeriam) Plínio Salgado para a chefia do governo e, assim, eliminar as forças políticas tradicionais, que se dividiam entre Armando de Salles Oliveira e José Américo. Por isso, um deles, o então capitão e futuro golpista de 1964, Olímpio Mourão Filho, elaborou o falso plano. Getúlio soube aproveitar-se do episódio e usá-lo para sensibilizar as correntes profissionais das Forças Armadas e desfechar o golpe continuísta. Com o fim de impedir a substituição de Médici por um militar mais moderado (Geisel), planejaram-se atos brutais de terrorismo, como a explosão (abortada) dos depósitos de gás combustível do Rio de Janeiro. Houve, ainda, com o propósito de obstruir a transição democrática, o frustrado atentado do Rio Centro. Estamos em outro momento semelhante. César Maia não é um homem sério. Ele se notabilizou pelos chamados "factóides", ou seja, pseudo-fatos, "fatos" falsos, criados com objetivos políticos. Quem pode afirmar, com honestidade, que o tiroteio contra a Prefeitura do Rio, alta madrugada, e sem testemunhas, não tenha sido mais um de seus "factóides"? Mesmo que não tenha sido assim, o que César Maia deseja é favorecer o seu candidato - isso se não estiver mancomunado em projetos ainda mais graves. O fato é que o assunto dominará o Congresso nas próximas horas, e dificultará o cumprimento da pauta legislativa. ______________________________________________________________ O texto acima e' de inteira e exclusiva responsabilidade de seu autor, conforme identificado no campo "remetente", e nao representa necessariamente o ponto de vista do Forum do Voto-E O Forum do Voto-E visa debater a confibilidade dos sistemas eleitorais informatizados, em especial o brasileiro, e dos sistemas de assinatura digital e infraestrutura de chaves publicas. __________________________________________________ Pagina, Jornal e Forum do Voto Eletronico http://www.votoseguro.org __________________________________________________