Salvador Dali tinha razão ao elegê-la como um dos temas favoritos e recorrentes da sua pintura: a COMIDA é realmente uma obsessão para a maioria das pessoas. Mas enquanto os quadros de Dali com pães, queijos, ovos estrelados e outros alimentos não passam de quadros, apenas sujeitos ao escrutínio do nosso olhar, quando esta febre gastronómica passa para a arquitectura as coisas podem tornar-se preocupantes. Não nos imaginamos a viver dentro de um queijo gruyère ou a trabalhar dentro de um barril de cerveja. Mas essa arquitectura com formas gastronómicas existe, e muita dela nos EUA, construída maioritariamente nas décadas 20' e 30'. Mas entremos... A empresa Longaberger, de Newark, faz cestos para piqueniques e, assim, pareceu natural ao seu fundador Dave Longaberger que o edifício-sede tivesse a forma de um cesto. Foi construído em 1997 e é uma réplica exacta dos produtos da empresa, só que cento e sessenta vezes maior. Mas a moda de dar formas gastronómicas aos edifícios é bem mais antiga. Em 1931 um fazendeiro de Flandres, estado de Nova Iorque, de nome Martin Maurer resolveu edificar este espécime para publicitar o seu negócio de... não vão adivinhar qual era! (Foto: National Park Service). Este edifício em forma de bule de chá do filme da Branca de Neve e os sete anões é mais antigo ainda do que o anterior - 1922. É uma estação de serviço e encerra uma história curiosa. Por essa altura um enorme caso de corrupção ensombrou o governo americano. O motivo foi um campo de petróleo chamado "Teapot Dome", cujo nome derivava de um rochedo em forma de bule de chá aí existente. Assim, vender combustíveis num edifício com esta forma deveria ter sido um rasgo comercial de génio naquela época. (Foto: National Park Service). A década de 20' foi fértil em bules, como se pode ver neste exemplar de 1927 situado junto da autoestrada Lincoln, na Pensilvânia. O crescimento da rede de estradas e do parque automóvel americano levou a que os proprietários de restaurantes procurassem uma arquitectura muito expressiva para os seus edifícios. (Foto: Jeff Kubina.) Se há um local nos EUA onde todos os exageros são possíveis e desejáveis esse local é Los Angeles, Califórnia. Esta lanchonete de hotdogs, carinhosamente chamada "tail's pup", data de 1945 e é um dos ícones da cidade. (Foto: Alan Taylor). Nesta altura já estamos fartos de tanta comida e precisamos de beber algo. Também se arranja. Este gigantesco barril de cerveja foi construído por William Donahey em 1926 a pedido da sua esposa, como residência de Verão. Sendo cartunista, Donahey revelou aqui um grande sentido de humor, mas talvez a senhora não tenha achado tanta graça assim. (Foto: Kris Weaver). As intenções de quem construiu estas garrafas gigantes são, pelo menos, saudáveis: "Beba leite!" é a mensagem. A primeira foi construída pela Benewah Dairy Company em 1935 (Foto: National Park Service) e a segunda, situada em Boston, em 1930. E terminamos com água. O reservatório de Luling, uma pequena localidade do Texas, tem a forma de uma melancia, o que, dadas as características aquapotentes do referido vegetal, nos parece adequado. A torre foi erigida durante o festival da Melancia de 1954, um evento anual que tornou famosa a povoação. (Foto: Andre Cornelius). Já o reservatório de uma antiga fábrica, a W.E. Caldwell Company, foi erigido em 1940. No entanto a mística é tal que possui um clube de fãs e um festival em sua honra. Americanos... Apoie o obvious - não se esqueça de comentar este artigo Artigos relacionados: - Carl Warner - a natureza dos alimentos - Construções com latas - Viagens #18: acerca do número 3 - Dan Alexandru #2: esculturas com comida