Cara ou coroa?

C.A.
Pré sal ou biocombustível?
Josué Maranhão - 15/09/2009


BOSTON - Afinal, não parece restar qualquer dúvida quanto à veracidade do 
aforismo "Deus é brasileiro". Deve ser mesmo, tantas as oportunidades que tem 
propiciado ao Brasil para se tornar uma potência econômica invejável. 

A descoberta das imensas jazidas de petróleo em águas profundas, o Pré Sal, 
como ficaram conhecidas, tão badaladas, atiçaram o ufanismo e o otimismo do 
presidente Lula. 

O anúncio das regras legais que se pretende impor para a exploração das jazidas 
foi recheado de declarações bombásticas do presidente, como "Novo dia da 
independência do Brasil", ou "Presente de Deus", ou "Passaporte para o futuro". 

Ninguém tem dúvidas de que, se confirmados os resultados das pesquisas, terá o 
Brasil a grande oportunidade para um salto espetacular em termos econômicos, 
transformando-se de país ainda importador, em um dos maiores produtores e 
exportadores de petróleo. 

O grande risco, como ressaltou a revista The Economist, será o governo resolver 
gastar de imediato, ao contrário de poupar,  o dinheiro que o Pré Sal deverá 
produzir. 

O "Presente de Deus", de que falou o presidente, certamente somente estará 
completo se o pacote for recheado com uma alta dose de bom senso. Inclusive e 
principalmente para evitar os gastos imediatos.  Seria bom que  a constituição 
da nova estatal, a Petrosal não seja mais um oportunidade para o aparelhamento 
do lulo-petismo, tornando-se um imenso cabide de emprego.  

Há, ainda, o risco do desbaratamento dos novos recursos. Por conta disso, não 
sem motivos, a The Economist alertou: 

- "Qualquer um que esteja acompanhando os recentes escândalos de corrupção no 
Congresso brasileiro sabe que os legisladores do país são capazes deste tipo de 
desastre".  

Além de toda a euforia em torno do Pré Sal, há uma contradição sobre a política 
governamental relativa aos recursos energéticos.

Enquanto agora tudo gira em torno das reservas de petróleo, há não muito tempo 
a "menina dos olhos" do presidente Lula era o biocombustível. Notadamente o 
etanol derivado da cana de açúcar. 

Tanto assim que, em julho de 2007, em discurso na sede da União Européia, em 
Bruxelas, o presidente enfatizou que o biocombustível seria a redenção do 
Brasil e uma grande perspectiva para o mundo inteiro. 

Na ocasião deixou claro - ante os reclamos dos ambientalistas espalhados pelo 
mundo inteiro - que a produção de biocombustível no Brasil não aumentaria o 
desmatamento, nem apresentaria qualquer ameaça à produção de alimentos. 

Desmatamento e carência de alimentos eram as duas grandes preocupações dos 
líderes mundiais. Mas, de todas as formas, o presidente Lula sempre destacou 
que a plantação de cana não se expandiria de forma a prejudicar o plantio de 
gêneros alimentícios. Haveria terra abundante. 

No entanto, nos próximo dias, possivelmente ainda nesta semana, o governo vai 
anunciar (certamente sem muito alarde) a proibição da expansão de plantações - 
inclusive de cana de açúcar - em uma área de 4,6 milhões de quilômetros 
quadrados - o que significa mais da metade do território nacional - além de 
ficarem preservadas as regiões onde exista vegetação nativa. 

Tudo isso será apelidado de "Selo Verde". 

Ficam no ar, no entanto, as perguntas: 

- Afinal, a expansão do plantio de cana de açúcar provocaria, ou não, o 
desmatamento e ameaçaria a produção de gêneros alimentícios? 

- Sendo verdadeiras as afirmativas do presidente Lula, quando apregoava as 
maravilhas do plantio de cana e a produção do biocombustível, por que agora o 
governo vai preservar área tão grande, permitindo, somente, a plantação de 
gêneros alimentícios? 

Certamente, com a divulgação espetaculosa do "Selo Verde", o governo também vai 
explicar ao mundo se há ou não contradição entre o que o presidente proclamava 
e a rigorosa proibição a ser imposta agora. 




   
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