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Egito: duas faces da reação, o Exército de El-Sissi e a Irmandade Muçulmana
de Morsi
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quinta-feira, Agosto 15, 2013 - 16:15
Serge Goulart
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O exército egípcio está massacrando a Irmandade Muçulmana que por sua vez
organiza provocações e massacra cristãos e incendeia igrejas cooptas. Os
dois buscam estrangular a revolução começada em 25 de Janeiro que derrubou
Mubarak e que, em 30 de junho, se aprofundou derrubando Morsi.

Nesse dia, com uma mobilização de massas sem precedente na história, como
diz a Resolução da Corrente Marxista Internacional (CMI) sobre a situação
internacional, *“Com 17 milhões de pessoas nas ruas determinadas a derrubar
Morsi, a cúpula do exército, que representa a coluna vertebral do Estado
egípcio, interviu removendo Morsi para evitar a derrubada de todo o regime”.
*

E mais adiante:* “**A situação é de impasse e nenhum dos lados pode
reclamar vitória total. É isto que permite ao exército se elevar acima da
sociedade e se apresentar como o árbitro supremo da Nação, embora, na
realidade, o poder real estivesse nas ruas. A confiança expressada por
algumas pessoas no papel do exército demonstra extrema ingenuidade. O
Bonapartismo representa um sério risco para a Revolução Egípcia. Esta
ingenuidade será extirpada da consciência das massas pela dura escola da
vida”.*

O exército reagiu ao movimento antecipando-se e buscou manipular o
sentimento popular como se estivesse a seu favor. O general Al-Sissi pediu
um “mandato” ao povo nas ruas para agir em seu nome: *“Peço a todos os
egípcios honestos e de confiança que saiam à rua na sexta-feira”, *disse
Sissi na declaração transmitida ao vivo pela televisão estatal. “*Porquê
saírem? Para me darem um mandato e uma ordem para que eu possa confrontar a
violência e o potencial terrorismo"**.* O mesmo exército assassino que
sustentou a ditadura de Mubarak agora pretendia “representar o povo”.

O incrível é que os dirigentes jovens e desorientados do Tamerod
(Rebelião), a oposição burguesa como El-Baradei, e a maioria dos dirigentes
das três centrais sindicais imediatamente se alinharam com os generais e se
incorporaram ao governo. O presidente da nova e principal Central Sindical,
a Federação Egípcia dos Sindicatos Independentes (EFITU), Kamal Abu Aita,
declarou: *“Os trabalhadores, que eram campeões em greve durante o regime
deposto, devem tornar-se agora os campeões da produção*!”. E imediatamente
assumiu o cargo de Ministro do Trabalho do governo nomeado pelos generais.

 Honra seja feita a Fatma Ramadam, da Executiva da EFITU, que combateu a
capitulação com uma declaração onde se lê:*“**Foi-nos pedido hoje
[sexta-feira 26 de Julho] para sairmos [às ruas] dando assim, cobertura, à
festa assassina de Al-Sissi. Descobrimos que as três federações sindicais
estão de acordo: a estatal Federação Sindical Egípcia (ETUF), o Congresso
Trabalhista Democrático Egípcio (EDLC) e a **Federação Egípcia dos
Sindicatos Independentes (**EFITU), **de cujo comité executivo sou membro.*

*Debati o assunto com os membros do comité executivo da EFITU a fim de
convence-los a não fazer uma declaração pública apelando aos seus membros e
ao povo egípcio a que saíssem às ruas no dia 26 de Julho, confirmando [com
essa declaração], que o exército, a polícia e o povo constituem uma
unidade, uma só mão – como diz a declaração. Fiz parte da minoria,
conquistando quatro outras vozes contra nove. Assim, as três federações
sindicais fizeram apelo aos trabalhadores para que se juntassem às
manifestações, com o pretexto de combater o terrorismo.*

*... A Irmandade Muçulmana cometeu crimes pelos quais deve ser
responsabilizada e levada a julgamento, da mesma maneira que a polícia, bem
como os oficiais e os soldados que apoiam o regime de Mubarak devem ser
considerados responsáveis e perseguidos pelos seus crimes. Não se deixem
enganar substituindo uma ditadura religiosa por uma ditadura militar.”*

O exército egípcio agindo desta forma busca se elevar acima das classes e
representar o “interesse geral do povo”. Mas, isso não existe. O que existe
são classes em luta e os generais de Mubarak, assim como a Irmandade
Muçulmana fazem parte da classe burguesa de milionários que dominam o Egito
e massacram e exploram seus trabalhadores. A ultrarreacionária Irmandade
Muçulmana conclama a insurreição para restabelecer Morsi no poder e o
exército utiliza a provocação para desatar uma onda de violência, de
massacres e de sangue sem precedentes.

Em um só dia mais de 500 mortos e milhares de feridos. As forças de
repressão atiram para matar durante toda a quarta-feira sangrenta, 14 de
agosto de 2013. A violência é tamanha que El-Baradei toma distância e se
demite da vice-presidência denunciando a sanguinária repressão. Governos
imperialistas cínicos de todo o mundo apressam-se a condenar a violência e
apontar o caminho do “diálogo”. Eles sabem que ninguém pode prever onde vai
parar esta situação mas em nenhum caso será “boa para os negócios”.

O objetivo da Irmandade Muçulmana é restabelecer Morsi na presidência para
enterrar a revolução egípcia ou levar o país à guerra civil prolongada. O
objetivo do exército é estabelecer o terror sangrento e desmontar a
revolução aterrorizando todo o povo. Um precedente é conhecido. Na Argélia,
em 1991, a FIS, um partido islâmico ganhou o primeiro turno das eleições
presidenciais. O exército interviu, cancelou as eleições, ilegalizou a FIS
e colocou seus dirigentes na cadeia e perseguiu seus apoiadores. O
resultado foi mergulhar o país numa guerra que custou 250 mil mortos e
quase destruiu o país e sua economia.

O fator decisivo para a queda de Mubarak foi a entrada em cena dos
trabalhadores da região do Canal de Suez que eram proibidos de ter
sindicato e trabalhavam como escravos para as multinacionais de todo o
mundo ali instaladas.  Isso não mudou com Morsi e a Irmandade Muçulmana.
Pelo contrário, além de manter tudo como estava o governo Morsi organizava
verdadeiras provocações, repressão e assassinato de trabalhadores em luta.
Foi isso, junto com a revolta da maioria do povo que se sentia fraudada e
atacada pelos dirigentes islamistas que detonou as mobilizações que
colocaram 17 milhões nas ruas e derrubaram Morsi. E é exatamente a mesma
situação que o exército pretende manter.

É uma situação terrível de todas as maneiras. Mas, que é agravada
imensamente pelo fato de que não há um partido revolucionário marxista no
Egito capaz de abrir uma saída para as massas que só pode ser contra o
exército contrarrevolucionário e contra a arquirreacionária Irmandade
Muçulmana.

Mas, a luta de classes é mais forte que os aparatos e é o mundo material,
concreto, que move a roda da história. A luta de classes continua e os
trabalhadores do Egito se reagruparão com seus dirigentes mais lúcidos, com
aqueles que preservarem a independência de classe e abrirem a perspectiva
de luta pelo socialismo, para enterrar de vez o regime da propriedade
privada dos meios de produção, neste extraordinário país.

Após o primeiro choque a reação começará nos sindicatos e na juventude. Sem
que se possa prever ritmos e prazos, uma coisa é certa nesta potente
revolução. A ditadura imunda será derrubada pela terceira onda da revolução
egípcia e junto com ela será varrida definitivamente o lixo político e
social chamado Irmandade Muçulmana.

**************

A seguir reproduzo o capítulo sobre Egito da Resolução sobre a Situação
Internacional adotada pelo Comitê Executivo Internacional da CMI, em
24/07/2013. o texto integral está em
http://www.marxismo.org.br/?q=content/resolucao-da-cmi-sobre-situacao-atualegito-brasil-turquia-terremotos-da-revolucao-mundial

*“A Segunda Revolução Egípcia*

* Períodos de aguda luta de classes irão se alternar com períodos de
cansaço, apatia, calmarias e até mesmo de reação. Mas estes períodos serão
apenas o prelúdio para novas e até mesmo mais tempestuosos
desenvolvimentos. A Revolução Egípcia mostra isto com clareza. *

* No Egito, depois de meses de desilusão e cansaço, 17 milhões de pessoas
tomaram as ruas em um levantamento popular sem precedentes. Sem nenhum
partido, nenhuma organização ou liderança, elas conseguiram em apenas
alguns poucos dias derrubar o odiado governo de Morsi. Com 17 milhões de
pessoas nas ruas determinadas a derrubar Morsi, a cúpula do exército, que
representa a coluna vertebral do Estado egípcio, interviu removendo Morsi
para evitar a derrubada de todo o regime.  *

*Os meios de comunicação ocidentais tentaram caracterizar isto como um
golpe. Mas um golpe de Estado é, por definição, um movimento de uma pequena
minoria que conspira para tomar o poder à revelia do povo. Aqui o povo
revolucionário estava nas ruas e era a verdadeira força motriz por trás dos
acontecimentos. *

*Em cada genuína revolução é o movimento elementar das massas que
proporciona a força motriz. No entanto, ao contrário dos anarquistas, os
marxistas não cultuam a espontaneidade, que tem seus pontos fortes, mas
também suas fraquezas. Devemos entender as limitações da espontaneidade.*

*No Egito, as massas poderiam ter tomado o poder no final de junho. De
fato, elas tinham o poder em suas mãos, mas não estavam cientes disto. Esta
situação tem algumas semelhanças a Fevereiro de 1917 na Rússia. Lênin
afirmou que a única razão por que os trabalhadores não tomaram o poder
então nada tinha a ver com as condições objetivas, mas foi devido ao fator
subjetivo:*

*“Por que não tomaram o poder? Steklov diz: por este e por aquele motivo.
Isto é um absurdo. O fato é que o proletariado não está organizado e não
tem suficiente consciência de classe. Deve-se admitir isto: a força
material está nas mãos do proletariado, mas a burguesia acabou se revelando
mais preparada e mais consciente. É um fato monstruoso e deve ser franca e
abertamente admitido e o povo deve ser informado de que não tomaram o poder
porque estava desorganizado e não consciente o suficiente.” (Lênin, Obras,
vol. 36, p. 437, ênfase nossa).*

*Os trabalhadores e os jovens egípcios estão aprendendo rápido na escola da
Revolução. É por isso que a revolta de junho foi muito mais ampla, mais
profunda, mais rápida e mais consciente do que a Primeira Revolução que
ocorreu há dois anos e meio. Mas eles ainda não têm a experiência
necessária e a teoria revolucionária que permitiriam à Revolução alcançar
uma vitória rápida e relativamente indolor.*

*A situação é de impasse e nenhum dos lados pode reclamar vitória total. É
isto que permite ao exército se elevar acima da sociedade e se apresentar
como o árbitro supremo da Nação, embora, na realidade, o poder real
estivesse nas ruas. A confiança expressada por algumas pessoas no papel do
exército demonstra extrema ingenuidade. O Bonapartismo representa um sério
risco para a Revolução Egípcia. Esta ingenuidade será extirpada da
consciência das massas pela dura escola da vida.*

*Os abertamente contrarrevolucionários da Irmandade Muçulmana foram
expulsos do poder, mas devido aos limites de sua natureza puramente
espontânea (isto é, desorganizada), a Revolução falhou em tomar o poder.
Por um lado, os islâmicos reacionários estão organizando uma rebelião
contrarrevolucionária que ameaça mergulhar o país em guerra civil. Por
outro, os elementos burgueses, os generais e os imperialistas estão
manobrando para roubar das massas a vitória que elas ganharam com seu
sangue.*

*A Revolução foi forte o suficiente para alcançar o objetivo imediato: a
derrubada de Morsi e da Irmandade Muçulmana. Mas não foi forte o suficiente
para evitar que os frutos de sua vitória fossem roubados pelos generais e
pela burguesia. Ela terá que passar através de uma outra dura escola, a fim
de se elevar ao nível necessário para mudar o curso da história.*

*A Revolução capacita as pessoas a aprender rápido. Se há dois anos
existisse no Egito um partido equivalente ao Partido Bolchevique de Lênin e
Trotsky, mesmo com apenas os oito mil militantes que este tinha em
Fevereiro de 1917, toda a situação seria inteiramente diferente. Mas tal
partido não existia. Ele terá que ser construído no calor dos
acontecimentos.*

*Os estrategistas do Capital ficaram seriamente alarmados com esses
desenvolvimentos. Deixando de lado todos os elementos não essenciais e
acidentais, estes movimentos foram inspirados e dirigidos pelas mesmas
coisas. O que temos aqui é um fenômeno internacional: a tendência para um
movimento revolucionário mundial. Estamos vendo desenvolvimentos similares
começando na Europa”.*


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