PRECE À
MATURIDADE
" Pai,
agora que não estou mais no tempo de alimentar ilusões, aguça meus
sentidos para que eu perceba a beleza das realizações.
Agora que as
opções foram feitas e tantas portas se fecharam em definitivo, dá-me
aceitação para que as renúncias não sejam um fardo pesado
demais.
Agora que a soma dos erros derrubou os jovens da onipotência,
não me tires a pretensão de continuar tentando acertar.
Agora que
tantos desenganos, tantas incompreensões, repetiram lições de ceticismo,
conserva minha boa fé e minha disponibilidade frente às
criaturas.
Agora que as forças de meu corpo começam a falhar, alerta
meu espírito; livra-me do comodismo, redobra minha vontade.
Agora que
já aprendi a precariedade de todas as coisas, as limitações de todas as
lutas, as proporções de nossa pequenez, afasta-me do desânimo.
Agora
que já alcancei o ponto de perspectiva que me dá a exata visão do pouco
que sei, livra-me da defesa fácil de colocar viseiras e ajuda-me a
envelhecer com a abertura dos corajosos, dos que suportam revisões até a
hora da morte.
Agora que aumenta o círculo das crianças que me amam e
esperam alguma coisa de mim, dá-me um pouco de sabedoria, ensina-me a
palavra certa, inspira-me o gesto exato, norteia minha atitude.
Agora
que perdi a abençoada cegueira da juventude e só posso amar de olhos
abertos, redobra minha compreensão, ajuda-me a superar as mágoas,
protege-me da amargura.
Deus, Pai, concede-me a graça de não cair na
desilusão, de não chorar o passado, de continuar disponível, de não
perder o ânimo, de envelhecer jovem, de chegar à morte pleno de reservas
de amor ".
(Autor desconhecido)