Faz um tempo que eu não escrevo aqui na lista e resolvi botar o papo em
dia tudo de uma vez...
Estou tendo uma experiência bem interessante com a implementação do
Recicla Digital na associação arco-íris, lá no Morro Doce. Eu fiquei
matutando muita coisa, desde o gincanão e as oficinas que fomos fazendo.
Uma das coisas que eu sempre pensei para o Recicla era a de ir criando
autonomia em todos os sentidos.
Não adiantava a gente capacitar uma galera para resolver as máquinas se
a gente não mostrasse como conseguir os equipamentos.
Comecei a ver que a galera mais tech fica mordida quando as políticas de
inclusão só desejam transformar o cara num usuário, replicando o modelo
de participação popular previsto pela democracia formal, onde o nego só
vota e trabalha para pagar impostos (eu também fico mordido com isso).
Mas a comunidade, por outro lado, só quer o feijão com arroz, isso é,
quer que a máquina funcione, que seja fácil, que resolva o assunto sem
muitas complicações.
Daí eu fiquei pensando que a coisa toda poderia ser passada numa
metodologia que fosse atendendo a problemas pontuais (que é uma sacada
do Movimento em relação às frentes de ação - que se formam para resolver
conflitos pontuais), isso é, se não temos computadores, como fazemos
para conseguir. Se temos computadores, como fazemos para consertar? Se
estão funcionando, como fazemos para instalar um sistema operacional
gratuito e feito em mutirão? Se funcionam isoladas, como as conectamos e
como fazemos para que cheguem mais longe?
Então chegamos lá no Morro e trocamos uma idéia com o pessoal da Arco
Íris, que estava querendo armar uma sala de informática a quatro anos.
Falamos do projeto e pedimos uma sala, para realizar a oficina aos
sábados. Fizemos um cartaz, colamos no bairro e marcamos uma inscrição.
Apareceram oito pessoas.
Eu e o Róbson levamos umas máquinas da sede e lá já tinham mais duas,
que tinham sido doadas pelo pessoal que estava fazendo a oficina.
Fizemos um relaxamento (para aumentar o nivel de atenção), uma
experiência guiada (para colocar a galera em contato com a própria
imaginação), explicamos que a idéia de fazer uma sala de informática ali
teria que ser viabilizada por todo mundo e depois fomos para a primeira
parte, que era a de explicar os cuidados com o manejo das peças e em
seguida uma montagem e desmontagem do equipamento.
Conversamos sobre o que poderia ser feito para arranjar mais máquinas,
as pessoas se dividiram em funções (um tem uma towner e poderia buscar
as máquinas, a outra ia ver no trabalho e na faculdade se descolava
doações, outro se dispôs a aprender a fazer um cartaz, etc) e marcamos
um encontro para o outro sábado. No sábado seguinte, se combinaram de
quem ia colar os cartazes e distribuir os panfletos. Quando poderiam
buscar as máquinas e etc...
Quando os computadores chegarem, vamos para a oficina de triagem e
depois para instalação do SO (vou levar Slack, RedHat, Debian e por
último o Ubuntu - que é o mais baba). No final a coisa vai para rede e
internet, com a proposta de que o link que chega para a associação seja
compartilhado entre essas maquininhas.
Já temos uma idéia de armar um Estúdio Livre por lá, para agitar uma
rádio no bairro (ou com antena ou com corneta). Estamos fazendo oficinas
de edição de audio (o Robson fez a oficina de webradio do PCVB e está
repassando o conhecimento lá no Morro).
Com as máquinas rodando, vamos armar outra revistinha do recicla,
mostrando como a coisa foi feita e chamando mais pessoas para
participar, usando as máquinas de forma criativa (metareciclando
sempre!). E aí seguimos o trabalho nesse bairro.
Em suma: no final do filme, existe uma galera habilitada a resolver
todas as etapas e uma postura de compartilhar o que se aprendeu. Existe
um parque de máquinas funcionando. Existe uma demanda para essas
máquinas (ou várias). E podemos investir energia em outras coisas.
Essa foi a pesquisa que eu venho fazendo nesse um ano e que agora eu
partilho com vocês.
Abraço
Djair
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