Porque #semUbuntu e não #semOutras?


A campanha #semUbuntu foi criada no fim de 2014 com o objetivo de pressionar o 
FLISOL - Festival Latino Americano de Instalação de Software Livre a instalar 
Software Livre. Sim você leu direito. Por mais incongruente que possa parecer, 
a maioria dos voluntários que fazem do FLISOL o maior evento de Software Livre 
do Mundo, andam instalando muito mais softwares não livres do que eles mesmos 
imaginam. Isso porque o Ubuntu traz consigo, embutido, diversos softwares não 
livres. E o Ubuntu era, disparado, o campeão de instalações no FLISOL.

A campanha foi um sucesso, contando inclusive com o apoio explícito do 
Coordenador Geral do FLISOL Brasil, Thiago Paixão. Diversas cidades aderiram a 
um FLISOL 100% #semUbuntu e se recusaram a distribuir essa versão pouco livre 
do GNU/Linux. Outras optaram por não serem tão disciplinadas, mas mantiveram 
uma distância prudencial dela e outras, por desvio ideológico, optaram por 
continuar disseminando software não livre dizendo aos iniciantes que é sim 
livre.

A reação por parte da maior e mais apaixonada comunidade de Software Livre era 
esperada, afinal de contas a maioria dos seus participantes se importam muito 
pouco com o Software Livre em si. Trata-se de um grupo de novos e velhos 
usuários que estão mais focados no pragmatismo do bom funcionamento dos 
programas na plataforma escolhida. Assim, argumentos como "eu só quero que 
funcione bem" e "tem é que ser bonito e estável" são apresentados como 
fundamentos para justificar os softwares não livres embutidos no Ubuntu. 
Tolinhos.

O que surpreendeu foi a casta de ativistas mais experientes, que um dia foram 
arraigados defensores da liberdade do usuário e que foram dilatando sua 
complacência com os argumentos mercadológicos do Open Source, reagindo como 
retrógrados e reacionários, chegando ao ponto de apelar ao famigerado argumento 
da "Liberdade de Escolha". Esse tema eu tratei com detalhes neste outro artigo: 
Liberdade de Escolha é o GNU!

O outro argumento é o de tentar colocar o Ubuntu em pé de igualdade com as 
demais distribuições. Deixemos claro que Ubuntu não está no patamar do Fedora, 
openSuse, Debian, Arch e Gentoo. Essas últimas são distribuições comunitárias 
com mais ou menos aporte financeiro de empresas, mas não são distribuições 
comerciais. Ubuntu deve ser tratada como uma distribuição comercial, como a 
RedHat e SUSE. Não há comunidade de desenvolvedores fazendo as releases. A 
Canonical tem uma equipe de marketing excelente e conseguiu se fazer passar por 
uma distribuição com apelo social quando, na verdade, é uma empresa buscando 
ser rentável. E antes que este argumento seja taxado de anti capitalista me 
permitam esclarecer: o problema não está em ser uma empresa querendo ganhar 
grana, o problema é se fazer passar por algo que não é.

Então manter um kernel recheado de softwares não livres e mais alguns programas 
não livres no Ubuntu, é uma decisão comercial. Evitar confrontos com os 
fabricantes de notebooks e computadores do mundo, aceitar os drivers 
privativos, fazer acordos para repassar as pesquisas feitas no desktop para 
empresas terceiras, enviar cópias de CD's gratuitamente para o mundo todo, 
fazer parcerias com a Microsoft e financiar grupos de fãs, são decisões 
estritamente comerciais. E por isso, devem ser tratadas com o distanciamento 
inerente a um negócio. Propaganda enganosa é crime, ao menos no Brasil.

E quanto as distribuições comunitárias - Fedora, openSuse, Debian, Arch, 
Gentoo, etc? Essas, em maior ou menor grau, distribuem ou facilitam demais a 
instalação e execução dos firmwares/drivers/blobs e muitos outros softwares não 
livres e, por mais que se faça força para justificar, elas estão incorrendo no 
mesmo erro: distribuindo software não livre e dizendo que são Softwares Livres 
quando não são 100% Livres. Mas a razão não é comercial, é puro desvio 
ideológico. Lentamente essas distribuições foram cedendo aos encantos da 
complacência e do "comportamento de manada", fosse para não perder sua fatia de 
usuários, fosse para garantir compatibilidade com os últimos recursos 
oferecidos pelas novas gerações de processadores e placas aceleradoras de 
vídeo, fosse pela compatibilidade com os fabricantes das placas wifi, fosse 
pelo comodismo e displicência em ter que vasculhar, depurar e separar os 
softwares não livres, fosse pelo trabalhão que dá para limpar um kernel dos 
seus drivers não livres.

É claro que a critica às comunidades de desenvolvedores das demais 
distribuições tem que ser mantida, mas o tom é de apelo. Por favor relembrem os 
motivos que os levaram a iniciar seus projetos. Por favor coloquem a liberdade 
do software e de seus usuários em primeiro lugar. Por favor parem de distribuir 
softwares não livres. Por favor retomem a militância revolucionária do Software 
Livre. Por favor não facilitem a instalação de softwares não livres. Por favor 
não confundam seus usuários fazendo-os acreditar que a compatibilidade com o 
hardware redime o uso de softwares não livres. Por favor reconstruam suas 
comunidades e estabeleçam como meta serem 100% livres.

Se você é um usuário, entusiasta ou desenvolvedor de uma dessas distribuições, 
cobre, faça, mobilize no sentido de limpar os softwares não livres. É a sua 
indignação que fará o rumo ser mudado na direção certa. E se não houver reação, 
então pode ser a deixa perfeita para trocar seu "linux" por uma distribuição 
GNU.

A única força capaz de reverter o entreguismo do kernel linux, exercendo 
pressão sobre os fabricantes de hardware, é uma ação conjunta e coordenada de 
todas as distribuições comunitárias se negando a distribuir softwares não 
livres e explicando a todos os motivos.

Nesse momento a campanha #maisGNU terá suplantado a #semUbuntu e nós todos, 
juntos, teremos vencido.

Saudações Livres!

http://www.anahuac.eu/porque-semubuntu-e-nao-semoutras/


-- 
Anahuac de Paula Gil

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