Urna eletrônica é vulnerável, confirma reportagem do JB
 
        Entrevistado pela repórter Tina Braga, do Jornal do Brasil (08/03/2001), o engenheiro Amílcar Brunazo Filho
confirmou as suspeitas levantadas pelo presidente nacional do PDT, Leonel Brizola, quanto à vulnerabilidade do
sistema de votação eletrônica. Moderador do Fórum do Voto Eletrônico na Internet, uma entidade que debate a
questão há alguns anos, ele referiu-se inclusive ao painel eletrônico do Senado Federal afirmando nas poucas vezes
que esteve lá pôde "constatar que os funcionários não cuidam de suas senhas: um revela a senha para o outro''.
Bruzano esteve em Florianópolis, no início de março, participando do "9° simpósio de computação tolerante a falhas'',
que reuniu durante três dias especialistas da área. Veja a entrevista que o engenheiro concedeu ao JB:
 
JB - A segurança do voto eletrônico no Senado pode ser considerada de risco?
 
Bruzano - Pode, assim como qualquer programa de computador, principalmente quando se tem acesso aos programas-fontes,
como é o caso do Senado. Nas poucas vezes em que estive lá, constatei a falta de cultura de segurança de informática. Os
funcionários não têm cuidado com as senhas. Um sabe a senha do outro. O painel eletrônico é controlado por computadores
que não estão ligados à rede e ficam em salas à parte. A vulnerabilidade geral do sistema do Senado é fato. Todo voto
eletrônico deve ser considerado como de alto risco de fraude.
 
JB - De quem é a responsabilidade pela fiscalização das votações eletrônicas no Senado?
 
Bruzano - Acho que o sistema de eleição tem de ser transparente e os partidos têm o direito de fiscalizá-lo e conferi-lo. No
Senado, a questão fica mais complicada, apesar de ser um sistema menor. O problema é que um programa de computador
sempre pode ser modificado. Ele precisa ser protegido para impedir qualquer alteração. Este trabalho deve ser realizado por
uma empresa e autenticado por outra - e ambas têm de ser 100% independentes. Por exemplo: agora foram contratados
técnicos da Unicamp para fazer auditoria no painel. Mas a Unicamp é estatal. Seu reitor apóia o presidente Fernando Henrique
Cardoso e ele é ligado ao PSDB. Quando falo em independência, esta tem que ser total. Não pode uma empresa estatal
controlar outra estatal.
 
JB - Como o senhor analisa a suspeita de violação no painel eletrônico do Senado?
 
Bruzano - Considero que o painel do Senado tem o mesmo problema da urna eletrônica usada nas eleições: a identificação e
o voto do eleitor são postos na mesma máquina. As duas informações ficam disponíveis na memória do computador. Isso é
mau. Um mesmo programa não deveria vincular ambas informações. Se realmente houve a violação, ela foi feita por técnicos
da casa.
 
JB - O voto eletrônico deve ser acompanhado do impresso?
 
Bruzano - O senador que tiver o comprovante de seu voto pode usá-lo para negociatas. Creio que, para garantir a lisura do
processo, o Senado deveria adotar a cédula. Afinal, são apenas 80 votos.

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