-----Mensagem Original----- De: Waldir Martins <[EMAIL PROTECTED]> Para: Attac <[EMAIL PROTECTED]>; Enviada em: Quarta-feira, 27 de Junho de 2001 20:47 Assunto: Controle de softwares -ameaca de censura e monopolio Este assunto interessa a todos nós, que usamos a rede para divulgar fatos que normalmente seriam excluidos do noticiário da grande midia. Estaríamos automaticamente submetidos a todo tipo de censura. W. Martins JB - Quinta-feira, 21 de Junho de 2001 A ameaça que vem de Haia Richard Stallman Os europeus se opuseram energicamente à tentativa de introdução de patentes de software na Europa - e a rechaçaram. O acordo originalmente proposto, que agora entrou em negociação, ameaça submeter os desenvolvedores de software da Europa e de outros países às patentes de software dos Estados Unidos e a outras leis prejudiciais à atividade. O problema não afeta apenas programadores: autores de toda espécie enfrentariam novos perigos. Até as leis de censura vigentes em vários países poderiam ter seu efeito globalizado. O chamado Tratado de Haia não fala, na verdade, especificamente sobre patentes, direitos autorais ou censura, mas envolve tudo isso. É um tratado sobre jurisdição, e sobre como um país deve lidar com as decisões da Justiça de outro país. A idéia básica tem um fundo de racionalidade: se alguém bate no seu carro na França ou quebra um contrato com sua empresa francesa, por exemplo, você pode processá-lo na França, e então transferir o julgamento para um tribunal do país em que essa pessoa more (ou onde tenha bens, no caso de uma empresa), para execução. O tratado se torna um problema quando é aplicado à distribuição de informação - porque a informação agora viaja para todos os países. (A internet é um modo, mas não o único modo.) A conseqüência é que você poderia ser processado pela informação distribuída em qualquer país signatário, e a sentença seria executada por seu próprio país. Por exemplo, se você lançasse um software (livre ou não) na Alemanha e as pessoas o usassem nos Estados Unidos, você poderia ser processado por infringir a absurda lei de software americana. Aliás, essa parte não depende do Tratado de Hague - poderia acontecer mesmo agora. Mas atualmente, estando a salvo na Alemanha, você poderia ignorar o julgamento nos Estados Unidos, e o detentor da patente sabe disso. Sob o Tratado de Haia, um tribunal alemão seria convocado a executar contra você a sentença ditada pelo juiz americano. As patentes de software de qualquer país signatário se aplicariam a todos os países signatários. Não basta manter as patentes de software fora da Europa, se as americanas, japonesas ou egípcias chegarem lá. Mas a lei de patentes não é a única área da lei que pode causar prejuízo se for globalizado o Tratado de Haia. Suponhamos que você publique uma declaração criticando uma figura pública. Se alguma cópia for lida na Inglaterra, esta figura pública pode processar você com base na rígida lei britânica antidifamação. As leis de seu país podem ser benevolentes quanto ao seu direito de criticar figuras públicas, mas com o novo tratado elas não mais poderão protegê-lo. Ou imaginemos que você publique anúncio comparando seus preços aos do seu concorrente. Se for lido na Alemanha, onde anúncios comparativos são ilegais, você pode ser processado lá, e a sentença imposta a você onde quer que você esteja. Suponhamos ainda que você publique uma paródia. Se for lida na Coréia, você pode ser processado lá, porque a Coréia não reconhece o direito à paródia, peça literária humorística que imita pessoas ou situações. O mesmo se aplica a idéias políticas proibidas por determinados governos. Há pouco tempo o Yahoo foi processado na França por hospedar nos Estados Unidos sites de leilão de objetos nazistas. Depois que a Justiça francesa sentenciou o portal a bloquear os sites, o Yahoo americano recorreu à Justiça dos Estados Unidos para que o braço americano da empresa não precise acatar a decisão em território americano. Espanta saber que dissidentes chineses no exílio se ofereceram para depor em favor do Yahoo. O nazismo não é a única posição política cuja expressão é proibida em alguns lugares. Criticar o governo chinês é proibido também - na China. Se a sentença de um tribunal francês contra o nazismo é executada nos Estados Unidos ou em seu país, talvez a sentença de um tribunal chinês contra dissidentes o seja também. (Esta pode ser a explicação para o fato de que a China decidiu participar das negociações do Tratado de Haia.) O governo chinês pode facilmente adaptar suas leis de censura de forma a adequá-las ao tratado: basta conceder a indivíduos e a órgãos governamentais o direito de processar publicações dissidentes. A China não é o único país que proíbe críticas ao governo. Na Austrália, a Prefeitura de Victoria está na Justiça para tentar proibir a venda de um livro chamado Victoria police corruption, disponível na internet - o que não aconteceria se vigorasse o tratado. Enquanto isso, obras contra o Islã têm enfrentando crescente censura no Egito, também participante das negociações do tratado. Os americanos podem se socorrer da Primeira Emenda [que garante a liberdade de expressão]para escapar de julgamentos no estrangeiro, já que o tratado permite que as justiças locais ignorem sentenças estrangeiras quando são ''manifestamente incompatíveis com as políticas públicas vigentes''. Um critério subjetivo, que dependerá de cada juiz. É improvável que esse critério ajude quando se tratar de sentenças sobre copyright, marcas registradas ou patentes de software, mas pode funcionar em julgamentos sobre censura. Entretanto, nem isso funcionaria se o julgamento se tratasse de publicação na internet, porque o seu provedor ou tem bens em outros países ou se comunica com o mundo através de provedores maiores, que os têm. Um julgamento contra seu site, de censura ou de qualquer outra natureza, poderia ser executado contra seu provedor, ou contra o provedor do seu provedor em qualquer país em que ele tenha bens - e que não disponha de uma constituição que garanta direitos e onde a liberdade de expressão não usufrua do alto status que tem nos EUA. Seu provedor vai fechar seu site. O Tratado de Haia globaliza os pretextos para processos, mas não a proteção das liberdades civis. Um processo contra seu provedor parece coisa distante? Pois já aconteceu. Quando a multinacional Danone anunciou planos para fechar algumas fábricas na França, Olivier Malnuit abriu o site {jeboycottedanone.com} (eu boicoto a Danone) em protesto. A Danone processou não só Malnuit, como também seu provedor e até o registrar (empresa que registra nomes de domínio, ou seja, os endereços da internet) por ''falsificação de mercadoria'', e em abril desde ano obteve sentença que proíbe Malnuit de mencionar a palavra Danone no nome de domínio do site e em textos nas páginas. Resultado: com medo, o registrar cancelou o domínio antes mesmo de a Justiça liberar a sentença. Se o tratado estivesse em vigor, Malnuit sequer poderia levar seu protesto para fora da França, como fazem os dissidentes chineses que hospedam seus sites em provedores fora da China - a empresa poderia ir atrás do provedor do provedor de Malnuit. Mesmo esse artigo que você está lendo agora poderia ser vetado. Os efeitos potenciais do tratado não estão limitados às leis existentes. Quando 50 países sabem que julgamentos em seus tribunais podem ser executados na América do Norte, na Europa e na Ásia, é grande a tentação de aprovar leis só para este objetivo. Suponhamos, por exemplo, que a Microsoft almejasse poder impor direitos autorais sobre linguagens de programação e protocolos de redes. Eles poderiam procurar um país pequeno, pobre, e prometer gastar US$ 50 milhões por ano, durante 20 anos, em troca da aprovação de uma lei dizendo que usar linguagens ou protocolos da Microsoft constitui violação de copyright. Eles certamente encontrariam países dispostos a aceitar a oferta. Assim, quando você desenvolvesse um programa parecido, a empresa poderia processá-lo neste país, e vencer. Daí, a sentença seria executada contra você em seu país. Isso parece pouco plausível? Em 2000, a Cisco pressionou o Liechtenstein, pequeno país europeu, a legalizar patentes de software. E um lobista da IBM ameaçou vários governos europeus com o cancelamento de investimentos se não apoiassem patentes de software. O representante do Departamento de Comércio dos EUA forçou a Jordânia, no Oriente Médio, a admitir patentes matemáticas. Um encontro de organizações de consumiadores {www.tacd.org} recomendou, em maio, que patentes, copyrights e marcas registradas (propriedade intelectual) fossem excluídas do tratado, porque as leis a respeito variam muito entre os países. É uma boa recomendação, mas resolve apenas parte do problema. Patentes e extensões bizarras de copyright são apenas duas das muitas desculpas usadas para proibir publicações em certos países. Para resolver o problema de vez, todos os casos referentes à legalidade de distribuição ou de transmissão de informação deveriam ser excluídos do tratado, e a jurisdição valeria apenas nos países em que o distribuidor ou transmissor operassem. Na Europa, a oposição às patentes de software continua ativa contra o tratado: veja em www.noepatents.org/hague. Nos EUA, o Consumer Project for Technology assume a liderança desta luta: veja em www.cptech.org/ecom/jurisdiction/hague.html. Devemos manter governo e público a par dos desdobramentos diplomáticos e possíveis perigos deste tratado. * Richard Stallman é fundador do projeto GNU e presidente da Free Software Foundation.; Copyright 2001 Richard Stallman PARA SAIR: enviar mensagem vazia para [EMAIL PROTECTED] Arquivo de mensagens etc. no sítio da lista: http://groups.yahoo.com/group/attacorg Para enviar mensagem, enderece-a no seu correio eletrônico para [EMAIL PROTECTED] ou use a linha Post do sítio da lista. É recomendável ir até o sítio da lista e apertar o quadro "Conversion Wizard", fornecendo os dados requeridos pelo Yahoo. Por razões de segurança, os anexos (attachments) não entrarão e a lista está sob moderação, o que pode retardar a entrada das mensagens. Seu uso do Yahoo! Groups é sujeito às regras descritas em: http://docs.yahoo.com/info/terms/ __________________________________________________ Pagina, Jornal e Forum do Voto Eletronico http://www.votoseguro.org __________________________________________________