Japão cria vasos sanitários com ar-condicionado

James Brooke
The New York Times
Em Nara (Japão)

A guerra dos banheiros no Japão começou em fevereiro, quando os engenheiros Matsushita introduziram assentos de privada equipados com eletrodos. Os assentos enviam leve descarga elétrica às nádegas do usuário, tirando uma medida digital da quantidade de gordura do corpo.

Nada impressionados, engenheiros de uma empresa rival, Inax, contra-atacaram em abril. Lançaram um assento que brilha no escuro e levanta a tampa quando detecta a presença de um ser humano, com sensor de luz infravermelha. Quando em uso, o vaso toca seis diferentes trilhas, incluindo piar de pássaros, água correndo, sinos de vento ou harpa tradicional japonesa.

Em uma casa japonesa, "o único lugar em que se pode ficar sozinho e sentar em silêncio, em geral, é o banheiro", disse Masahiro Iguchi, diretor de marketing da Inax.

Talvez isso explique os ferozes investimentos em pesquisa japonesa na área. A nação é famosa por ser viciada em novidades eletrônicas de todas variedades. Claramente, o vício se estende ao banheiro.

Outro fator são as pesquisas demográficas. Elas indicam que população do Japão começará a decair, junto com o número de casas, até o final da década. Pode-se fazer dinheiro exportando privadas para países com culturas sanitárias comparativamente primitivas, como China e Vietnã. No entanto, para aumentar as vendas no Japão, será necessário acrescentar características exóticas aos produtos.

Em maio, Matsushita, por exemplo, lançou um trono de US$ 3 mil (cerca de R$ 12 mil) que recebe o usuário não só levantando a tampa, mas também ligando saídas de ar -quente no inverno, frio no verão. Hiroyuki Matsui, engenheiro chefe da empresa, mostrando um desses Cadillacs dos vasos sanitários, disse, "É possível baixar a temperatura do banheiro em 7o C, em 30 segundos".

Em junho, a gigante de vasos sanitários do Japão, Toto, lançou o WellyouII, que mede os níveis de açúcar do usuário fazendo uma coleta com uma pequena colher e um braço mecânico retrátil.

O banheiro do futuro, quer seja um centro médico caseiro ou um espaço de meditação zen, provavelmente surgirá de laboratórios como os da Matsushita Electric Industrial Co. As oficinas são tão secretas e competitivas que o repórter e o fotógrafo não conseguiram permissão para entrar.

Americanos deveriam se preparar melhor para essa simples escolha do século 20: Abaixar ou não a descarga. Os usuários do vaso Matsushita podem programá-lo para pré-aquecer ou pré-esfriar o banheiro em horários determinados. Para proprietários que não são tão regulares, esse vaso sanitário permite que os usuários ajustem a temperatura e a pressão do chuveiro de água usado para lavar e massagear as nádegas, característica muito popular no Japão.

Esguichos de privada, que algumas vezes confundem os estrangeiros com resultados desastrosos, hoje são encontrados em quase metade das residências japonesas, mais do que computadores pessoais.

Para alguns, este é um sinal de uma nação que se tornou perigosamente mimada. Eles temem que os jovens japoneses do futuro, sentados em tronos de ar-condicionado, sonhando, não poderão competir com seus vizinhos, que simplesmente se agacham. Dentre eles, as abelhas trabalhadoras da China industrial e os soldados espartanos da Coréia do Norte.

Hideki Nishioka, 90, professor aposentado que dirige a Associação Japonesa de Banheiro, um grupo privado, diz que sempre recomenda que novas escolas no Japão tenham "ao menos, um ou dois vasos antigos, de agachar".

No entanto, esse tipo de vaso está se tornando relíquia. Em breve, haverá vasos sanitários que falam. Equipados com microchips, esses modelos saudarão cada usuário com uma mensagem personalizada, talvez uma palavra gravada de estímulo da mãe, ou professora primária. E, logo, as pessoas poderão dar comandos verbais simples aos seus vasos sanitários.

"O sensor de voz estará no mercado em dois anos", estimou Ryosuke Hayashi, gerente de engenharia de produtos da Toto, que detém 60% do mercado do Japão. "Realmente, não é difícil fazer a máquina responder à voz humana. Se você disser 'Quero água quente', ou 'quero mais pressão na água', a máquina responderá automaticamente"; ou 'abre-te sésamo' e a tampa se levantará.

Para resolver uma questão perene, Toto vende um vaso sanitário desodorizante, que "neutraliza odores quimicamente" . Inax vende ladrilhos para banheiros "que absorvem odores".

No entanto, em um país com os dados demográficos da Flórida, o verdadeiro crescimento virá de vasos sanitários médicos, ligados à Internet. "Talvez você considere um vaso apenas um vaso, mas nós gostaríamos de fazer dele um centro de saúde doméstico", disse Matsui, o engenheiro da Matsushita, em uma palestra em Nara, perto de Osaka. "Vamos instalar aparelhos para medir peso, gordura, pressão sanguínea, batimento cardíaco, açúcar na urina, albumina e sangue na urina".

Os resultados seriam enviados do vaso para um médico, por um telefone celular com capacidade de Internet, instalado no vaso.

Pelo monitoramento à distância, os médicos poderiam acompanhar o bem estar físico de uma pessoa inválida ou idosa.

"Teremos isso nos próximos cinco anos, mais ou menos", disse Harry Terai, diretor de pesquisa da Matsushita.

Com os asilos de idosos praticamente lotados no Japão, o número de pessoas recebendo cuidado médico em suas casas está crescendo rapidamente, pulando em quase um quarto somente no ano passado.

"No Japão, a maior parte das pessoas vêem o médico apenas depois de ficarem doentes", disse Hironori Yamazaki, engenheiro da Toto. "Com um olho em nossas mudanças demográficas, estamos preparando um vaso que permita descobrir doenças mais cedo".

Alguns defensores de liberdade civil, entretanto, estão tendo pesadelos com "vasos inteligentes". Imaginam as máquinas enlouquecendo e enviando informações altamente privadas para endereços a esmo. Outros temem um cenário estilo Big Brother, com os computadores monitorando milhões de movimentos intestinais, avaliando, dia e noite, quem está constipado, quem não está comendo suas ervilhas e quem está bebendo demais.

"Presumo que os relatórios que saírem de meu banheiro terão o mesmo grau de proteção que os de um exame médico", disse Lawrence Repeta, diretor da União de Liberdades Civis do Japão. "Investigadores policiais verão nisso uma ótima forma de descobrir quais pessoas utilizam substâncias ilegais".


Tradução: Deborah Weinberg

Responder a