Por tilte de computador, não seguiu o texto que pretendia passar para a
lista. Passo de novo. (da lista guerreirosanticorruptosdobrasilnovo).

Mensaje: 1
  Fecha: Sat, 24 Feb 2001 03:33:53 -0300
     De: "Paulo Bacellar" <[EMAIL PROTECTED]>
 Asunto: Luiz Francisco, você nunca estará sozinho!

(Um abraço, Comandante!  Eu não peço que você comente isso, muito menos
que agradeça. Deixe que o seu silêncio me faça pensar que acertei, pois
então não só você ficará sem motivos para pensar que está sozinho.)

1. - Trinta anos mais tarde, o guerrilheiro empunha a ética em vez da
metralha, aproveitando-se da própria lei na sua caminhada ética; e
torna-se, assim, procurador da República

             Por meses e meses, o Brasil habituou-se a ouvir dois nomes
pronunciados juntos um do outro: Luiz Francisco de Souza e Guilherme
Schelb - isto era tantas vezes repetido na imprensa, que quase ficou
parecendo uma só pessoa. Aonde quer que fossem, dois jovens procuradores
atuavam como guerreiros do Bem, geralmente em lutas em que os dois
juntos mais pareciam um Davi enfrentando o gigante Golias. E o povo
brasileiro, carente de grandes heróis e de grandes exemplos, por isso
acostumado a contentar-se com as suas glórias futebolísticas ou
musicais, quando não do tênis, do boxe ou da fórmula um, tinha enfim
alguém que se mostrava com o perfil de um grande libertador, de um
grande ético, como na frase que Sartre dedicou a Che Guevara - o "homem
mais cabal do nosso tempo". E ele/s mostrava/m-se como sendo a
reconstrução em novos moldes, adaptados a tempos de relativa paz, do
modelo que homens como Lamarca e Marighella assumiram com uma pitada de
falta de juízo. Trinta anos mais tarde, o guerrilheiro empunha a lei em
vez da metralha, fazendo porém estragos profundos nas hostes do Mal.
             Difícil será imaginar-se quanta armadilha e quanto canto de
sereia terá preparado a "política oficial" para atrair e subjugar Luiz
Francisco e Guilherme Schelb! Qualquer preço a pagar seria bom, qualquer
cargo a oferecer seria banal - que o importante era anular esse erro,
tapar esse buraco, eliminar esse exemplo! Pois eram erro e buraco a
existência de uma dupla de homens acima de todos os preços, indiferentes
a todas as honrarias e que sobretudo não viam a sua própria profissão
como "carreira" (que isso é bom para carreiristas), mas como missão.
             Consta que Luiz Francisco teve um passado religioso e assim
seria mais fácil entender-se que essa religiosidade no sentido sério do
termo continuava atuando, fazendo com que ele mais se parecesse com um
monge budista ou um frade de dedicação absoluta e voto de pobreza, em
vez de exibir a aparência e a estrutura mental de um jovem e bem
sucedido advogado. Porque um jovem e bem sucedido advogado, o normal é
que goste de bons carros, bons restaurantes, prazeres requintados e em
contrapartida terá que arcar com todas essas despesas e então aprende
também a sentir que a quantidade de dinheiro que ganhe dá a exata medida
do seu valor... Ora, justamente essa é a regra fundamental que Luiz
Francisco infringe. Ele de fato não pertence a esse mundo em que se
locomovem os políticos e os seus parentes todos, incluídos os analistas
políticos (é ver-se o texto de Dora Kramer no JB de hoje). Porque outros
são os valores espirituais e outra a valorização daquilo que é meramente
material. Os políticos e aparentados têm um modo de fazer as coisas que
significa um código muito bem estruturado em função desses seus valores
e desses seus propósitos (o de agradar, o de ser promovido, o de
conquistar sempre mais poder seja à custa do que for). Segundo esse
código, até um ACM, que pertence a esse mundo de corpo inteiro, deve ser
malhado, quando parece pôr à frente umas certas variantes que não é
"politicamente correto" ter em conta. Então, se até um ACM distoa desse
mundo só porque numa fase da sua vida resolveu deixar que a sua emoção
falasse mais alto, o que não dirão os fiéis apóstolos desse código,
contra alguém que não por emoção nem apenas numa fase da vida, mas desde
o começo, fez questão de afirmar a sua diferença e o conseqüente
desprezo por essas normas da boa-convivência entre os eleitos do reino?

2. - Deve-se ter que pôr a hipótese de Guilherme Schelb ter chegado ao
seu limite e dispor-se agora a vender a alma ao diabo?

          Talvez que Guilherme Schelb acompanhasse Luiz Francisco por
convicção e grandeza, mas ao mesmo tempo com certas dúvidas e
relutâncias. Talvez que dentro dele algo esperasse por um pretexto para
passar a seguir um caminho mais normal ou, se preferirem, menos anormal.
E esse pretexto terá chegado bem a calhar quando se deu a divulgação da
conversa com ACM - que obviamente não interessa quem divulgou, mas sim o
teor do divulgado. Luiz Francisco, se é que o fez, superou-se mais uma
vez em retidão e coragem. Pois o comportamento ético perfeito, em
relação à tal conversa, era certamente o de a gravar e divulgar. Mas
isso implicava assumir um forte risco, pois agora, à cantilena do
costume, poderiam acrescentar um novo argumento falacioso: o de que
seria incorreto, tanto no plano ético como no funcional, a revelação do
que era "desabafado" entre quatro paredes pelo senador. Puro absurdo. É
que se deve gravar e divulgar uma conversa que sirva para o bem do povo.
Mesmo que a conversa seja com a nossa mãe.
             Note-se que, por coincidência feliz, não só no plano ético
a divulgação da conversa foi a escolha perfeita. Também no pragmático,
esse que os políticos costumam saber apreciar (e que apesar de tudo a
Dora Kramer de hoje pareceu conseguir perceber). Porque uma coisa era
surpreender um ACM em momento de aparente desabafo, em que plantava
acusações e sempre poderia desresponsabilizar-se delas e ignorá-las. E
outra bem diversa era fazer com que saísse tudo numa revista, assim
nascendo um fato a tornar-se rapidamente indesmentível. Só é pena que o
preço a pagar, por Luiz Francisco, seja a grande tristeza de se saber
incompreendido por Guilherme Schelb. Mas talvez que milhões de
brasileiros comecem enfim a perceber que no panorama das alternativas de
poder vai surgindo alguém com outros valores, um Democrata a sério. E
não se exclua o caso de o próprio Guilherme Schelb ainda vir a
reconsiderar.
             Um abraço do Paulo Bacellar

P.S.: No dia 11 de novembro passado, o grande Luiz Francisco, esse
Procurador da República cuja coragem e integridade são a expressão da
mais nobre ética pessoal, escreveu e-mail manifestando solidariedade à
nossa amiga Dra. Armanda, em cujo título dizia que "se um membro sofre,
o corpo sofre". Propunha ele que todo procurador contribuísse com uma
parcela para pagar a descarada sentença em que Armanda foi condenada a
indenizar o falconídeo pelo "crime" de estar receptiva, tanto na sua
sensibilidade pessoal como na consciência dos seus deveres funcionais,
às desgraças de dois adolescentes e uma mãe que apenas querem ver a
história escrita com verdade (aquela história em que os pais assumem os
seus filhos, em vez de fugir apavorados e escudar-se nos cargos e
parentescos para se negar ao prometido exame de DNA).
Parece ser agora chegado o momento de muita gente retribuir a LFS a
mesma frase, pois a força pessoal nunca é isenta de mil fraquezas, e é
certamente horrível quando se tem que concluir que os nossos melhores
companheiros de jornada parecem ter chegado ao fim das suas forças e da
sua caminhada.




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