IBERÊ TINHA ME MOSTRADO ESSE ARTIGO ONTEM NA APUB -
ASSOCIAÇÃO DOS PROFESSORES UNIVERSITÁRIOS DA BAHIA. VOU CONTAR PARA ÊLE QUE O
ARTIGO DELE JÁ ESTÁ NA LISTA DO VOTO SEGURO.
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Sent: Monday, February 18, 2002 1:45
PM
Subject: [VotoEletronico] Fw: FORD na
Bahia
----- Original Message -----
Sent: Monday, February 18, 2002 11:29
AM
Subject: Fw: FORD na Bahia
----- Original Message
----- From: "Jane Maria Vilas Boas" <[EMAIL PROTECTED]> Amig@s, vocês se lembram quando o Olívio Dutra, governador petista do RS
resolveu não ceder às condições da Ford para se instalar no Estado e levou
muita gente a criticá-lo por "tirar empregos" dos gaúchos e atrapalhar a
industrialização gaudéria? então, quem ficou com os aparentes louros foi o
então Senador ACM que levou, no colo, a Ford para a
Bahia.
O artigo abaixo conta o capítulo seguinte dessa
história. Vale a pena saber o que aconteceu com a Ford e a Bahia depois
disso. Quem tiver contatos eletrônicos no RS, por favor passe o artigo. Acho
que o Olívio merece um pedido de desculpas públicas da imprensa local e
nacional, da oposição local, enfim de todos que não entenderam sua coragem
naquele momento. Jane
A Ford na Bahia, um exemplo de neocolonização e
subserviência.
"Povo que não tem virtudes termina por
ser escravo"
Prof. Iberê Luiz Nodari
Eu sou professor do Curso
de Engenharia Mecânica da Universidade Federal da Bahia.
Contando com a vinda
da Ford começamos logo a fazer projetos de reestruturação do curso com foco na
área automotiva, não era só a Ford, vinham mais 32 sistemistas. Hoje o
desencanto é geral, já com a fabrica produzindo, verifica-se uma espetacular
obra de predação ao estado.
Mesmo com a procura
insistente por parte de alguns professores deslumbrados, até hoje não existe
qualquer relação, ou mesmo proposta, da Ford ou das sistemistas, com Escola
Politécnica, que é a escola que reúne os cursos de engenharia na Universidade
Federal da Bahia. A medida que vamos conhecendo melhor o empreendimento e as
relações da montadora com a comunidade vamos percebendo, até com surpresa, a
postura absolutamente avarenta, senhorial e assimétrica.
É só "venha a
nós o vosso reino" ou, seguindo a doutrina de Kennedy, "Não perguntes
jamais o que a Ford pode fazer pela Bahia, mas sim o que a Bahia pode
fazer pela Ford"
Todo o universo, empresa mais fornecedoras, não
absorveu mais que 20 engenheiros formados aqui na Bahia, a maioria vem de
fora. Os salários são baixos, estão na faixa de R$ 1.500,00 a R$ 2.5000,00 com
um nível mínimo de assistência. A fábrica está localizada no complexo
industrial de Camaçarí que abriga o Pólo Petroquímico, distante cerca de 55 km
de Salvador. Pois a Ford não oferece nenhum tipo de transporte aos seus
funcionários, ao contrário das outras empresas petroquímicas do complexo que
transportam os seus trabalhadores, conforme é, aliás, tradição nas relações de
trabalho em industrias que tem alguma distância do centro urbano. A Ford, o
que fez em relação a esta prática? Foi exigir que a prefeitura de Camaçari,
cidade que dista 7km. do distrito industrial do Pólo, construísse uma
ciclovia, de Camaçari até a fábrica.
Os empregos foram
criados, em grande parte, no exterior. Por exemplo, a sistemista responsável
pela pintura, uma empresa americana, trouxe todos os funcionários de nível, do
México e dos Estados Unidos e pelo jeito que este pessoal está comprando
residências, e trazendo a família, vieram para ficar, pelo menos, por algum
tempo. Para os baianos restaram as vagas de emprego primário muito mal
remuneradas, média de 500,00 reais quando as mesmas funções, em São Paulo,
valem de 1.200,00 a 1500,00, no pólo petroquímico a média de funções
equivalentes é de 760, 00 reais (e sem transporte, de Salvador, ou
mesmo Camaçari, até a fábrica).
As facilidades criadas para estimular a
instalação da montadora mostram uma singular lição de subserviência e levaram
a algumas concessões que são absolutamente escandalosas. A Ford exigiu, e
obteve (aliás ganhou tudo o que quis, deve estar arrependida de não haver
pedido mais) um contrato de financiamento de capital de giro no qual o Estado
Tupiniquim, vejam só!
Compromete-se a financiar um montante
equivalente a 12% do faturamento bruto da empresa, oriundo das operações com
produtos nacionais ou IMPORTADOS comercializados na Bahia. (é por isto que o
pátio da empresa, estrategicamente escondido aos acessos normais da fábrica,
está repleto de automóveis Ford Focus e camionetes Ranger vindos da Argentina,
antes desembarcados em São Paulo que alem de ser o centro consumidor fica
muito mais perto da procedência)
Aqui vai um comentário; Apesar desta operação estar
travestida de financiamento de capital de giro, na prática ela representa um
incentivo fiscal, uma vez que o financiamento corresponderá ao total do ICMS
devido, com prazo para pagamento de 22 anos, sendo que sobre este valor não
incidirão juros e correção monetária e ainda poderá ser liquidado
antecipadamente com descontos nunca concedidos em nosso sistema financeiro. É
um exemplo de renuncia fiscal jamais visto. Pode parecer, mas os números não
estão errados, foram obtidos através de um relatório interno do Tribunal de
Contas do Estado (TCE). É uma facilidade tão imoral que não
prevê qualquer correção, mesmo com o pagamento em 22 anos, após o qual se fará
no valor histórico e com a possibilidade de desconto que pode alcançar a
totalidade do débito.
Que nome pode se dar a isto que não seja "doação".
O que não está no contrato mas deve constar no acordo é o compromisso das
espetaculares obras de infra estrutura, exigidas, ao capricho, pela Ford.
Para construir o porto exclusivo da Ford, o
estado da Bahia está pagando R$ 31 milhões á construtora Norberto
Odebrecht. terá uma área de estacionamento com capacidade de 6000 veículos mas
nem aí serão criados empregos porque a empresa que vai administrar o porto e
operar os equipamentos é norte-americana, a Crowley, emprego nacional só para
a mulher do cafezinho e para o vigilante.
A malha viária, no entorno da fábrica, foi
reconstruída segundo a exigência, de tal forma que as estradas que dela fazem
parte, são hoje as mais perfeitas do país. A terraplenagem da fábrica, os
acessos e o resto da infraestrutura também foram doados pelo
Estado.
Para atender a todas as imposições da
montadora, incluindo o empréstimo, outra doação! conseguir financiar o
compromisso, e honrar o acordo de vassalagem, o Governo da Bahia desviou o seu
orçamento diminuindo flagrantemente o investimento social. A Educação e a
Saúde encontram-se em um verdadeiro caos na Bahia (é proibido reprovar nas
escolas estaduais, mesmo os alunos que não comparecem as provas passam de ano.
O estado não pode arcar com o custo de reprovação).
Mas agora vem o pior, pasmem! A região
metropolitana de Salvador que já era recordista nacional de desemprego, teve,
segundo relatório do DIEESE e também do IBGE, o índice de desemprego aumentado
no ano passado, enquanto no mesmo período o desemprego na região metropolitana
de Porto Alegre diminuiu! E vejam que ironia! Através do mesmo relatório,
declara, que uma das causas deste rebaixamento, foi o crescimento da industria
de substituição de produtos importados.
Se o Governo tivesse aplicado um terço do que
deu a Ford para o desenvolvimento de uma industria nacional, a Gurgel, por
ex., eu não tenho duvida que em cinco ou seis anos o Brasil estaria exportando
automóveis desenvolvidos com tecnologia endógena.
É quixotesco? Quem foi que desenvolveu a tecnologia
do motor 1000 ? Hoje a maior revolução na industria automotiva
nacional.
Há trinta e seis anos, a Coréia era um Paraguai
em relação ao Brasil (que este exemplo sirva de estímulo ao nosso simpático
vizinho).Quem não tem idéia do que é a Coréia hoje poderá conhece-la através
das transmissões da Copa do Mundo. Tem Ford na Coréia? Mas tem fábrica Coreana
nos Estados Unidos.
Ao escrever este artigo duas frases me vem a
lembrança que retratam o emblema desta contradição, uma eu
encontrei em entrevista do Ministro da Educação, Paulo Renato Souza, à revista
Exame quando ele declara.... não ser mais
necessário realizar grandes investimentos em desenvolvimento de tecnologia
pois esta já esta pronta lá fora, basta traze-la para o
Brasil......, a outra eu busquei na letra do
hino do Rio Grande, prega o seguinte: "Povo que
não tem virtudes, termina por ser escravo"
Salvador, 02
de fevereiro de 2002 Prof. Iberê Luiz Nodari Departamento de Engenharia
Mecânica, Escola Politécnica Universidade Federal da
Bahia[EMAIL PROTECTED]
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