Ufologia e FC (4.6.2005)
Braulio Tavares
Como leitor e escritor de ficção científica, muitas vezes me vejo diante de
perguntas bem intencionadas mas que demonstram uma confusão muito freqüente
na cabeça das pessoas. Chega alguém e me diz: "Por que você acredita em
discos voadores?" Muita gente confunde a ficção científica com a Ufologia,
o estudo dos objetos voadores não identificados. Existe um certo
parentesco, concordo; mas são duas coisas tão diferentes quanto escrever
romances policiais e pertencer à Polícia Civil.
A ficção científica é a literatura que explora as situações produzidas por
inovações científicas e tecnológicas. Aborda uma ilimitada variedade de
temas e situações, dentre as quais a existência de civilizações alienígenas
que espionam a terra é apenas uma percentagem mínima. Não custa lembrar que
a FC é uma Literatura, um tipo de narrativa essencialmente literário. Foi a
literatura, e não o cinema ou a TV, quem criou e desenvolveu todos estes
temas. O fato do cinema ser hoje o rosto mais visível da FC é mais uma
dessas ironias da História. A literatura de FC (infelizmente pouco
traduzida no Brasil) é incomparavelmente mais rica, mais profunda e mais
variada do que esse samba-de-uma-nota-só que são os seriados tipo ³Guerra
nas Estrelas², ³Jornada nas Estrelas² etc.
A Ufologia, por outro lado, não é literatura. Ela se propõe ser uma
ciência, ou pelo menos uma atividade de pesquisa e análise de fenômenos que
tem a ver com a ciência. Na verdade, a Ufologia de hoje já se divide em
duas vertentes: a Ufologia Científica, que tem muito a ver com a astronomia,
a astronáutica e o jornalismo investigativo, e a Ufologia Mística, que é uma
espécie de religião informal com extraterrestres no lugar de anjos e de
demônios.
Curiosamente, nenhum dos dois grupos (Ufologia e FC) gosta de ser confundido
com o outro. Os ufólogos afirmam estar trabalhando com assuntos sérios,
reais, fatos importantes para o destino da Humanidade, e não querem ser
confundidos com o pessoal da FC, que está apenas inventando histórias
fictícias sobre situações imaginárias. Já o pessoal da FC considera que
está fazendo literatura, praticando uma forma de arte, sem outro objetivo
senão o objetivo artístico, e que deve ser julgada artisticamente. Para
estas pessoas, um romance sobre discos voadores é um objeto sério e real,
mesmo que um disco voador não seja.
As pessoas que escrevem sobre alienígenas em geral não estão preocupadas em
saber se eles existem ou não: querem apenas explorar as possibilidades
narrativas que essa hipótese oferece. Quem escreve livros sobre vampiros,
fantasmas, sereias, saci-pererê, centauros e outras criaturas semelhantes
também não acredita em sua existência no mundo real, mas precisa de sua
existência no mundo da narrativa. A diferença entre a FC e a Ufologia é que
a FC cria histórias imaginárias sobre seres cuja existência é irrelevante, e
a Ufologia busca provar ou desmentir, de forma factual, a existência desses
seres.
[As partes desta mensagem que não continham texto foram removidas]
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