>Date: Fri, 01 Dec 2000 19:27:43 -0200
>To: Amilcar Brunazo Filho <[EMAIL PROTECTED]>
>From: Michael Stanton <[EMAIL PROTECTED]>
>Subject: mais um jornalista
>
>Amílcar
>
>Esta coluna saiu no Jornal do Brasil em agosto, mas devo tê-la perdido. 
>Descobri pois foi republicado pelo Observat'rio da Imprensa. Caso não 
>saiba, Fritz Utzeri é o Chefe da Redação do JB. A URl do obervatório é:
>http://www.observatoriodaimprensa.com.br/aspas/ent05092000a.htm#aspas13
>Abraços
>                 Michael
>
>
>DESCONFIANÇAS
>           Fritz Utzeri
>
>           "Zé e a ‘mudernidade’", copyright Jornal do Brasil, 27/8/00
>
>           "José Silveira é da velha geração do JB, ainda da Rio
>           Branco. Sabe tudo de jornal. Escreve manifestando uma
>           desconfiança que já me ocorreu. Trata-se das urnas
>           eletrônicas. Elas nos são vendidas como o supra-sumo
>           da modernidade e totalmente à prova de fraudes. Será?
>           Estranho, outro dia ainda vi eleições na Alemanha e
>           todos votavam no papel. Atrasados esses alemães...
>           Como jornalista, da velha escola do Zé (ainda era um
>           foca e ele já dava aulas de profissionalismo), aprendi
>           que uma das primeiras características de um jornalista
>           deve ser a desconfiança. Principalmente a desconfiança
>           nas autoridades. Quanto maior o figurão, mais
>           desconfiado fico. Sempre posso estar sendo usado, sei
>           lá, e me assustam a reverência e a aproximação de
>           alguns coleguinhas com o poder.
>
>           Vou pedir licença ao Luiz Orlando e roubar a carta que
>           era dele e dar a palavra ao Zé
>           <[EMAIL PROTECTED]>: ‘Passada a
>           festejada eleição do México, em que a direita explícita
>           afastou do poder o ultimamente corrupto PRI, sem que
>           sejam lembrados seus inegáveis méritos passados;
>           passada a eleição no Peru, em que Fujimori derrotou em
>           dois turnos as ‘viúvas’ do escritor Vargas Llosa, sendo
>           portanto dadas como fraudadas, com histéricos pedidos
>           de intervenção; passada a eleição de De la Rúa, que
>           devolveu o poder à cosmopolita Buenos Aires e, para o
>           interior da Argentina o provinciano e nada santo Carlos
>           Meném; passada a eleição no Uruguai, onde os dois
>           partidos, adversários históricos juntaram-se para evitar
>           no segundo turno, a vitória do candidato de esquerda;
>           passada a eleição na Venezuela, cujo vencedor sempre
>           teve o nome precedido na imprensa pelo título de
>           ‘ex-golpista’ e passadas as eleições, também nos
>           últimos meses, na Espanha, na França, em Israel, em
>           Portugal e na Alemanha, tenho notado que todas foram
>           feitas com voto escrito em papel e depositado em urna
>           (de madeira, vidro ou lona). A todas elas acompanhei
>           pela CNN. Todas têm apuração rápida e só no Peru
>           levantaram-se suspeitas de fraude, muito antes do ato
>           eleitoral.
>
>           Para mim, que convivo com altas taxas de desemprego e
>           com tantos excluídos, soa estranha a aquisição das urnas
>           eletrônicas, um equipamento tão sofisticado. Não são os
>           milhares de urnas e totalizadores para mais de 5.000
>           municípios (quantas sessões eleitorais terão São Paulo e
>           outras capitais?) que têm utilidade de apenas um dia, no
>           máximo a cada dois anos, sabendo-se de nossas
>           carências escolares e hospitalares. Esse equipamento
>           será manipulado por um eleitorado com alto índice de
>           analfabetismo, residente em brejos onde a eletricidade
>           ainda é desconhecida. Não apenas no Amazonas e no
>           Pará, mas até mesmo no extremo Sul.
>
>           Por não ter nenhum jurista disponível e por ouvir falar
>           na ‘independência dos poderes’, não sei se os benditos
>           braços do Ministério Público alcançam a Justiça
>           Eleitoral. Todavia penso que o tema, pelo menos,
>           merece uma reflexão, mesmo para saber se nesse
>           arroubo mudernista, além de um dispêndio que nem os
>           Estados Unidos se dão ao luxo, não passou por perto
>           algum Nicolau... Ou se a própria eleição não começa a
>           ser decidida em favor de quem estiver mais calçado nas
>           benditas pesquisas indutoras do eleitorado, boa parte
>           dele inimputável ante a Justiça comum.
>
>           O ‘efeito Proconsult’, quando tentaram garfar, no Rio, a
>           eleição de Leonel Brizola há alguns anos, ainda está
>           vivo na memória de muita gente: um ‘desvio técnico’
>           instalado nos totalizadores do TRE. E agora? Como se
>           fará uma recontagem se essa eleição eletrônica não
>           deixa rastros?’
>
>           A pergunta é boa. É preciso ser totalmente confiante na
>           autoridade para votar eletronicamente. E eu não sou. A
>           vantagem da fraude eletrônica é que não deixa rastros.
>           Basta um fator randômico qualquer introduzido na
>           programação e pronto. Silveira mesmo lembra do
>           ‘diferencial delta’ que quase rouba o primeiro mandato
>           de Brizola como governador do Rio. A trama foi
>           desmanchada pela Rádio e pelo JORNAL DO BRASIL e
>           até hoje o engenheiro desconfia de urna eletrônica (e tem
>           motivos de sobra). Lembro da estranheza que me causou,
>           na primeira eleição de Collor, a passagem de Francisco
>           Rezek direto do TSE para o Ministério. Não estou
>           afirmando nada, mas que num país sério soaria
>           esquisito, ah, isso soaria. É a tal história da mulher de
>           César...
>
>           Acho que a urna eletrônica deveria emitir um recibo
>           registrando o voto que seria, a seguir, depositado pelo
>           próprio eleitor numa urna comum. Assim, para efeitos de
>           contagem, teríamos a máquina e just in case,
>           disporíamos da urna lacrada para o tira-teima,
>           recontagens e confirmação do resultado. O eleitor ao
>           optar por ‘Machado de Assis’ receberia o recibo de seu
>           voto e chiaria se aparecesse ‘Olavo Bilac’ no papel.
>           Senão como reclamar? Como fiscalizar? Eu, na boa
>           companhia de Zé Silveira, estou desconfiado."


__________________________________________________
Pagina, Jornal e Forum do Voto Eletronico
       http://www.votoseguro.org
__________________________________________________

Responder a