Agência Estado Domingo, 03 de dezembro de 2000 - 01h49 Cardoso diz que há “trama” contra a Abin Brasília - O ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Alberto Cardoso, está convencido de que há "uma trama, uma onda de denúncias" contra a Agência Brasileira de Inteligência (Abin), para "desmoralizar" o órgão. Cardoso teme que, por causa da falta de controle, informações da Abin tornem-se instrumento de poder antes de chegar ao destinatário, que é o presidente da República. "O conhecimento lá produzido não pertence à Abin, mas ao Estado. Tem potencial de tranformar-se em instrumento de poder que só pode ser exercido pelo presidente", diz o general. "Se há vazamentos, é apropriação indébita de propriedade do Estado, é instrumento de poder, de poder espúrio da destruição, antes de chegar ao seu destinatário, ou paralelamente", acrescenta Cardoso, afirmando ainda que isso é a "maior preocupação" dele. Sem fazer referências a nomes, o ministro admite que a trama pode estar partindo de pessoas da organização. Entretanto, ressalta que não há nenhuma prova disso. "A Abin não é filha do SNI (o extinto Serviço Nacional de Informações)", assegurou, defendendo a instituição que, na opinião dele, tem uma só questão a ser corrigida: a falha no controle sobre os documentos produzidos. "A Abin não está fora de controle." Muito abatido pela necessidade de afastar da direção da Abin o coronel Ariel de Cunto, um amigo de 48 anos, Cardoso disse não acreditar que o objetivo principal das denúncias seja atingi-lo e obrigá-lo a pedir demissão do cargo. "Seria muita pretensão achar que eu sou o alvo. Estou convencido de que há uma trama para denegrir a imagem da Abin", afirmou. "Caso as denúncias surtam o efeito da desmoralização, jogamos por água abaixo todo um trabalho de quatro anos e oito meses de criação de um serviço democrático." Para justificar o que diz, Cardoso lembra que não há, no mundo, serviço de inteligência onde seus funcionários, até mesmo os agentes - chamados agora de analistas -, são contratados por concurso público. Além disso, de acordo com ele, a Abin tem controle externo, não leva em conta ideologia política de seu pessoal, não favorece grupos políticos e não admite a existência de inimigos internos. A saída de De Cunto foi o segundo golpe direto sofrido por Cardoso desde que foi para o Palácio do Planalto, no início do governo do presidente Fernando Henrique Cardoso. A proximidade entre o general e Fernando Henrique provocou ciúmes em diversos setores, particularmente nas Forças Armadas e na Polícia Federal (PF). Ele não vê motivos para deixar o cargo, enquanto continuar contando com a confiança do presidente, mas ressalva que o posto está sempre à disposição. Mas é inegável que esse episódio abriu mais uma brecha para os ataques de adversários, ampliando a vulnerabilidade dele. Cardoso afirma que a "única denúncia" fundamentada que surgiu contra a Abin foi a da nomeação para um cargo de chefia do tenente da reserva do Exército Carlos Alberto Del Menezzi, que integra a lista de torturadores denunciada pelo grupo Tortura Nunca Mais. "Isso foi imediatamente corrigido", afirma o general, assegurando que, em 30 dias, estará concluída a sindicância aberta na agência para saber se Menezzi participou mesmo de torturas. Sem desejar conjecturar sobre que medidas poderão ser tomadas contra ele, o ministro elogiou o trabalho do militar, como analista de informações, além de considerá-lo um funcionário sério, correto e discreto. "Tenho esgoelado-me para dizer que as denúncias são falsas", afirmou Cardoso, referindo-se a seis acusações contra a Abin que vão desde o grampo dos telefones da sede do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), em 1998, até a investigação de atividades do governador de Minas Gerais, Itamar Franco (sem partido), e do filho primogênito do presidente, Paulo Henrique Cardoso. "Isso é igual ‘Bolero de Ravel’, que desencadeou uma onda de suicídios", comparou. O ministro sabe, no entanto, de onde partem as "plantações" e reconhece que muitas são de dentro da agência. Mas também está convencido de que será muito difícil provar qualquer coisa contra alguém. Segundo ele, hoje, a Abin não usa os antigos documentos do SNI , dos quais afirma ter "absoluto controle". Édson Luiz e Tânia Monteiro PAULO GUSTAVO SAMPAIO ANDRADE Teresina - Piaui E-mail --> [EMAIL PROTECTED] Jus Navigandi --> http://www.jus.com.br __________________________________________________ Pagina, Jornal e Forum do Voto Eletronico http://www.votoseguro.org __________________________________________________
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Paulo Gustavo Sampaio Andrade Sun, 03 Dec 2000 07:13:41 -0800
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