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*O efêmero passa. A informação fica*

JÚLIO MARIANI
JORNALISTA

O império americano


        Os votos da Flórida que mais criaram problema na eleição
presidencial americana foram aqueles que apresentavam "chads grávidos".
Chad, palavra que não aparece em qualquer dicionário, é no caso o pedacinho
de papel que sai da cédula depois de perfurada. Quando o eleitor tenta votar
e não usa força suficiente apenas estufa o chad, deixando-o "grávido". Os
advogados republicanos, que não tinham interesse na recontagem, naturalmente
complicaram um pouco mais o problema levantando a tese de que cada chad
grávido não representaria necessariamente um voto, porque o eleitor poderia
ter desistido da escolha antes de finalizar o processo.

        E se os votos em alguns condados dos EUA são registrados num cartão
por meio de perfurações, presume-se que a apuração seja feita com aparelhos
similares aos antigos realejos, que "liam" cartões perfurados para tocar a
música desejada. Quem visitou o estande francês na última Feira do Livro
teve oportunidade de ver em funcionamento um desses engenhosos e
encantadores aparelhos, ainda encontráveis em cidades européias e
americanas.

        Como a História e a natureza nos ensinam que tudo que nasce morre e
que tudo o que sobe desce, tentamos, ainda que inconscientemente,
identificar o sinal que apontará o início do fim do império americano. Será
um novo e arrasador crack da Bolsa? Será uma eleição duvidosa como esta de
George W. Bush? Será Alan Greenspan pedindo asilo à China Comunista?

        Pode ser muita coisa, mas acreditem que o primitivismo americano no
episódio da eleição é enganoso. E não apenas porque sejam os maiores
produtores mundiais de aparelhos de alta tecnologia, mas porque sabem
preservar alguns métodos e produtos antigos com extraordinária acuidade. São
inclusive reconhecidos por possuírem uma desenvolvida indústria da
nostalgia. Quem percorrer com atenção as livrarias de Nova York encontrará
centenas de reedições de livros marcantes para a população leitora
norte-americana. E não se trata apenas da novas edições de livros antigos,
mas de réplicas idênticas às que marcaram época: as mesmas capas, o mesmo
tipo de letra, as mesmas ilustrações e - pasmem - o mesmo papel, ainda que
seja um papel que deixou de ser fabricado em quantidades industriais.

        E você também poderá encontrar, nas lojas especializadas, réplicas
dos brinquedos de lata ou de madeira que fizeram a alegria de quem foi
criança no início do século. Até mesmo guloseimas e cosméticos que fizeram
sucesso nos anos 30, 40 ou 50 podem ser adquiridos em embalagens exatamente
iguais às da época. Goma arábica e cola de peixe ou de pele de coelho,
segundo os entendidos melhores do que as colas químicas para alguns usos,
seguem disponíveis nas ferragens. É claro que toda essa preservação recoloca
mais alguns milhões de dólares em circulação na economia.

        Feita tal ressalva, vale reafirmar que, no caso do modelo eleitoral
e dos sistemas de votação, os americanos foram conservadores demais e se
deram mal, pois nos dias de hoje é difícil engolir um presidente eleito com
300 mil votos a menos do que o adversário.



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