Aproxima-se o desfecho

*Adriano Benayon

Enquanto a população brasileira assiste ao festival de fraudes, mentiras e contradições de dois senadores, acelera-se a degringolada da economia e das condições sociais. A mídia acrescenta ao seu cardápio de assuntos de polícia um caso especial, a violação de votações secretas do Senado.

Estamos diante do descalabro da energia no Brasil, o país mais bem dotado em recursos naturais energéticos, a começar pela biomassa. Tem relação com esse descalabro o fato de a economia estar agora afundando mais do que já afundou nos últimos 20 anos. Os juros crescentes das dívidas interna e externa absorvem quase todos os recursos não subtraídos ao País pela pilhagem principal. Esta é a transferência ao exterior pelas empresas transnacionais dos desmesurados lucros, não contabilizados, de suas operações no mercado interno e de comércio exterior. O que quer que se proponha para atenuar o genocídio em marcha é barrado pelo FMI /Banco Mundial. Estes esfregam na cara de seus subalternos no Estado brasileiro a "necessidade" de, ao contrário, cortar mais fundo os minguados dinheiros destinados a despesas sociais e a investimentos inadiáveis. "As metas do déficit público o exigem".

Muito grave também é, por exemplo, o imbróglio do presidente do Senado com a SUDAM, mas tudo isso não passa de aperitivo diante da tentativa de criar-se a CPI da corrupção. Temerosos dessa perspectiva, jornalistas teleguiados e redes de televisão advertem que o Congresso e o Executivo estão paralisados pela crise política, e, assim, se inviabilizariam os planos de desenvolvimento (sic). Na mesma linha de sofismas e mentiras, os arautos do massacre atribuem ao crescimento (sic) da economia o colapso da energia elétrica - a ser enfrentado com racionamento e multas abusivas. Não há crescimento real por habitante. No cálculo do produto interno bruto (PIB) real não é descontada toda a inflação das cifras do PIB a preços correntes. O aumento no uso de eletricidade corresponde ao incremento populacional e à gasta por indústrias eletro-intensivas, para produzir metais e exportá-los a preços ínfimos.

A crise energética é um reflexo da destruição econômica e social causada pelo modelo econômico governado por mega-transnacionais mundiais. A privatização, um dos dogmas do modelo, liquidou a propriedade brasileira sobre incalculáveis patrimônios em todas as áreas básicas, inclusive, geradoras e distribuidoras de energia. As privatizações deram lucros somente a transnacionais estrangeiras, como a estatal francesa que controla a Light. Esta aumentou as tarifas em 108%. Isso num País em que os salários não acompanham a inflação, e onde funcionários públicos não têm reajuste há sete anos. E que é dos investimentos privados prometidos por propagandistas, remunerados ou não? Estes não informaram o público das razões pelas quais o Estado ficou sem recursos, um dos pretextos para privatizar, em troca de praticamente nada. Ei-las:1) as transnacionais remetem para fora do País a parte do leão do que nele arrecadam e não pagam impostos diretos, porque as remessas são "despesas" que fazem sumir o lucro real; 2) tampouco pagam impostos indiretos, pois estes tocam aos usuários e consumidores; 3) o grosso das receitas públicas é gasto no pagamento de juros das dívidas interna e externa, geradas pelas transferências feitas pelas transnacionais.

As taxas de juros sobem à medida que as dívidas crescem. A externa expande-se com o déficit da conta corrente com o exterior, decorrente das transferências e dos juros. Além disso, como os preços do comércio externo são manipulados, as importações de bens e serviços ficam cada vez mais caras em dólares, e mais ainda em reais, já desvalorizados para 2,2 por 1, e em queda livre. Já as exportações brasileiras caem sempre de preço, tanto de produtos primários como de manufaturados, quer tradicionais, quer intensivos de tecnologia. Resultado: com ou sem desvalorizações, aumenta o déficit de transações correntes, já perto dos US$ 30 bilhões/ano. A dívida externa crescerá até o limite da insolvência, e levará à moratória, pois:

- o déficit das transações não é mais compensado por "investimentos" diretos;

- vencem prestações do principal;

          - as reservas são poucas. O "equilíbrio" do balanço de pagamentos por meio dos "investimentos" diretos é perverso, já que eles são o agente das transferências ao exterior. Recorrer a eles é agravar a doença a pretexto de controlá-la. É igual à dependência dos toxicômanos. Mas até esse "equilíbrio" acabou. Tendo destruído a economia brasileira e causado a dívida externa, os "investidores" diretos agora recuam. Ademais, já abocanharam quase tudo de vulto no Brasil, "investindo" quantias irrisórias. Precisam, pois, de ainda menos para arrematar o restante do final de feira em que transformaram o Brasil. A crise mundial e seu interesse para nós são temas para outro artigo.

 

* O autor é Doutor em Economia, Un. Hamburgo, Alemanha, autor de "Globalização versus Desenvolvimento" <[EMAIL PROTECTED]>

07/052001

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