Publicado em 18 de junho de 2001, no jornal O Povo,  do Ceará.
  http://www.opovo.com.br/200106/18/politica/18PO1701.asp

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                       Voto secreto e inviolável? Nem tanto

                       Viviane Lima
                       da Redação

                       Com a fraude no painel do Senado e a aproximação das 
eleições 2002,
                       uma discussão torna-se chave para assegurar a 
democracia no Brasil:
                       se as urnas eletrônicas são realmente invioláveis. 
Especialistas em
                       segurança de dados garantem que o sistema pode ser 
fraudado. O TSE
                       não admite a vulnerabilidade, mas já prevê medidas 
para dar mais
                       segurança ao processo.

                       Cinco anos depois de terem sido adotadas nas 
eleições do Brasil, as
                       urnas eletrônicas parecem não ter mais mistério para 
nenhum brasileiro.
                       Quem não se lembra das ``máquinas de votar'' 
chegando em aldeias
                       indígenas e nos lugares mais ermos nas últimas 
eleições municipais? As
                       velhas cédulas de papel foram aposentadas, só 
entrando em cena
                       quando a tecnologia falha. A urna de pano e as 
intermináveis horas
                       para a apuração dos votos agora fazem parte do 
passado. E tudo,
                       garantem os técnicos do Tribunal Superior Eleitoral 
(TSE), sem o menor
                       risco de fraudes. Afinal, o voto é secreto e 
inviolável. Certo? Nem
                       tanto.

                       A violação no painel do Senado, que segundo laudo da 
Universidade de
                       Campinas (Unicamp) apresenta 18 possibilidades de 
ser fraudado,
                       trouxe a público a discussão sobre a segurança do 
sistema eletrônico
                       de votação. Mas a polêmica não vem de agora. Desde 
1996, quando foi
                       realizada a primeira eleição informatizada no 
Brasil, um grupo de
                       especialistas em segurança de dados estuda falhas no 
sistema.

                       O engenheiro Amílcar Brunazo Filho, formado pela 
Escola Politécnica da
                       Universidade de São Paulo (USP) e especialista em 
segurança de dados,
                       atesta que ``qualquer programador de sistemas com 
conhecimentos de
                       programas poderia introduzir na urna eletrônica um 
programa viciado,
                       capaz de alterar os resultados eleitorais''. Ele 
fundou o grupo Fórum do
                       Voto Eletrônico, que agrega uma legião de 
especialistas que comungam
                       com ele a mesma convicção.

                       Para Brunazo, o quadro ainda é mais grave porque o 
TSE não permite
                       aos partidos fazerem auditoria no programa completo 
da urna
                       eletrônica. Desobedecendo a lei 9.504, o TSE só 
autoriza, uma semana
                       antes da eleição, a auditagem do disquete de teste, 
sob a justificativa
                       que o sigilo de alguns programas é um dos 
compromissos assumidos pelo
                       órgão no contrato com os fabricantes das máquinas. 
``O que me
                       garante que eles vão instalar o programa que foi 
auditado? O auditor é
                       quem decide o que vai auditar. E não o TSE que diz o 
que vai ser
                       auditado. Auditoria limitada não existe'', defende 
Brunazo.

                       Mais preocupante ainda é que, com a urna eletrônica, 
é impossível
                       recontar os votos em caso de reclamação de algum 
candidato, já que a
                       máquina só apresenta a soma total e os números 
eleitorais dos
                       votantes. ``Não há como o eleitor conferir se o voto 
computado pela
                       urna seja aquele que apareceu na tela'', diz Brunazo.

                       A aura de inviolabilidade que se criou em torno da 
urna eletrônica
                       parece que só conseguiu convencer mesmo os leigos. O 
engenheiro
                       mineiro Márcio Coelho Teixeira, autor de um dos 
protótipos da IBM
                       oferecidos pelo TRE-MG em 1996, assegura: ``Não 
existe sistema 100%
                       seguro. Qualquer sistema que envolve eletrônica, 
hardware e software
                       é passível de ser violável''.

                       Colocando os tecnicismos de lado, a razão da 
vulnerabilidade da urna
                       eletrônica é lógica: se o ser humano é falível e foi 
ele quem criou essas
                       máquinas, elas também podem ser. Brunazo confirma a 
tese e faz um
                       alerta: ``Nas eleições passadas podem ter ocorrido 
fraudes que hoje
                       não se pode provar porque não foram feitas 
auditorias nas urnas. Se
                       nada for feito, nada pode garantir que as próximas 
eleições (2002)
                       estejam livres de fraudes'', conclui. Brunazo e 
Teixeira fazem parte da
                       Lista de Especialistas Eleitorais da Organização das 
Nações Unidas
                       (ONU).



                       TSE pede inspeção de técnicos da Unicamp

                       Até bem pouco tempo, contestar a segurança do 
sistema das urnas
                       eletrônicas era o mesmo que deixar às claras 
interesses políticos
                       contrariados. O Tribunal Superior Eleitoral e, 
conseqüentemente, os
                       Tribunais Regionais Eleitorais (TREs), refutavam 
qualquer denúncia de
                       fraudes depois que o sistema foi adotado nas 
eleições. Mas eis que a
                       confirmação da violação do painel do Senado mudou 
todo o cenário.

                       O recém-empossado presidente do TSE, ministro Nelson 
Jobim, já
                       anunciou a adoção de duas medidas emergenciais para 
tentar abrandar
                       a polêmica: inspeção do sistema do voto eletrônico 
por técnicos da
                       Unicamp, assim como foi feito no caso do painel; e a 
permissão de
                       auditagem dos programas (ainda parte deles) das 
urnas pelos partidos
                       no mesmo dia da eleição de 2002. Hoje essa auditoria 
é feita uma
                       semana antes.

                       Apesar da mudança de comportamento do TSE, o 
secretário de
                       informática do TRE Ceará, José Bezerra de Morais, 
contesta a tese de
                       que a auditoria parcial em alguns programas do 
sistema não permite aos
                       partidos políticos descobrir falhas. Segundo ele, 
uma auditagem em
                       torno do computador, como hoje é feita, pode 
detectar qualquer erro.
                       "A auditagem no dia da eleição vai reforçar que 
fraudes não venham a
                       acontecer", garante.

                       "Eu não estou dizendo que não possa haver fraude. Em 
informática
                       você pode fazer qualquer coisa. Mas a simples 
auditoria em torno do
                       computador detectaria no ato'', diz. Morais é 
ex-auditor do Banco do
                       Nordeste e defendeu a tese de Mestrado na PUC do 
Rio, Auditoria de
                       Sistemas "através" do computador. (VL)



                       Site debate violabilidade

                       O engenheiro Amílcar Brunazo Filho nunca conseguiu 
esquecer o dia em
                       que ele votou pela primeira vez na urna eletrônica, 
nas eleições de
                       1996, em Santos, São Paulo. Não que ele tenha ficado 
impressionado
                       com a tecnologia do sistema eletrônico de votação. 
Até porque, como
                       engenheiro especializado em segurança de dados, 
Brunazo já estava
                       mais do que acostumado com os avanços da era da 
informática. A
                       razão para a eternização daquele momento em sua 
memória era outra.

                       Depois de perceber que o mesário digitava o número 
do título de eleitor
                       para liberar a urna a cada voto, Brunazo - que na 
ocasião tinha uma
                       empresa de informática especializada em segurança de 
sistemas -
                       notou a fragilidade do sistema. ``A identificação do 
eleitor e o voto
                       ficavam registrados na mesma máquina. Isso deixava 
claro que o
                       princípio da não identificação do eleitor poderia 
ser quebrado".

                       Intrigado, Brunazo começou a conversar com amigos da 
sua área
                       profissional sobre o assunto e descobriu, para a sua 
surpresa, que
                       muitos deles tinham a mesma suspeita. Foi o pontapé 
para a criação,
                       em 1997, do site "Fórum do Voto Eletrônico"
                       (http://www.votoseguro.gov). Hoje, a página congrega 
mais de 200
                       visitantes assíduos e reúne trabalhos de 
especialistas sobre a
                       violabilidade da urna eletrônica.

                       O jornalista responsável pela divulgação do site, 
Osvaldo Maneschy,
                       explica que o fórum não possui caráter político 
partidário.
                       "Primeiramente, era um site exclusivamente técnico, 
depois ele foi
                       congregando profissionais de todas as áreas'', 
explica. (VL)



                       Projetos propõem mudanças

                       Da teoria à prática. Depois de dois anos discutindo 
as fragilidade do
                       sistema eletrônico de votação, os participantes do 
Fórum Eletrônico
                       conseguiram convencer um senador, Roberto Requião 
(PMDB), a propor
                       um projeto que determina que os votos das urnas 
sejam impressos. A
                       matéria também prevê que 3% das urnas sejam recontados.

                       No ano passado, a votação do projeto foi adiada por 
três vezes. Neste
                       ano, quando tudo parecia estar acertado para que a 
matéria fosse
                       votada, foi criada, por interferência do ministro 
Nelson Jobim, a
                       Subcomissão do Voto Eletrônico (SVE) com o objetivo 
de recolher
                       sugestões e propostas para aprimorar a votação 
eletrônica, o que pode
                       atrapalhar a aprovação do projeto de Requião.

                       A principal preocupação dos defensores da mudança do 
sistema
                       eletrônico é votar o projeto até outubro, prazo 
final para que as
                       mudanças possam ser válidas para as próximas eleições.

                       Na Câmara, tramitam dois projetos, de autoria de 
José Dirceu (PT-SP) e
                       Jorge Bittar (PT-RJ), que objetivam modificar a 
legislação referente à
                       urna eletrônica: um propõe a criação também de uma 
comissão, e o
                       outro prevê que os partidos políticos possam 
acompanhar e fiscalizar
                       todas as etapas do processo de votação. (VL)



                       Fraude quase tira vitória Brizola em 82

                       Desculpa de perdedor. Essa é a pecha a qual estão 
sujeitos os partidos
                       políticos que ousam contestar os resultados das 
eleições, depois da
                       adoção das urnas eletrônicas no sistema eleitoral 
brasileiro. Mas foi
                       exatamente por ter colocado a boca no mundo que o 
candidato do PDT
                       ao governo do Rio de Janeiro, em 1982, Leonel 
Brizola, não perdeu a
                       eleição ganha nas urnas para o seu adversário 
Moreira Franco.

                       No primeiro ano em que foram usados computadores na 
totalização de
                       eleição no Brasil, a empresa Proconsult foi 
contratada pelo Tribunal
                       Regional Eleitoral do Rio para fazer o somatório 
final dos mapas
                       produzidos manualmente pelas juntas eleitorais. 
Usando um programa de
                       computador viciado, a Proconsult conseguia desviar 
os votos dados a
                       Brizola para nulos e brancos.

                       Ao ser informado da fraude em andamento, Brizola 
convocou o Jornal
                       do Brasil, que somou manualmente os boletins do TRE, 
e descobriu,
                       antes que a apuração da eleição fosse concluída, que 
havia uma
                       diferença entre o resultado dos boletins e o que 
estava sendo
                       computado pela Proconsult.

                       Brizola chegou a acusar na época, em uma entrevista 
na TV Globo, que
                       a própria emissora tinha participação na tentativa 
de fraude. Depois da
                       repercussão nacional e internacional sobre a 
denúncia, os votos do
                       pedetista começaram a aparecer na contagem e ele foi 
eleito
                       governador do Rio.

                       Já calejado, o PDT entrou com um mandado de 
segurança, em
                       setembro do ano passado, junto ao Tribunal Superior 
Eleitoral (TSE)
                       requisitando que, nas eleições municipais de 2000, 
todos os programas
                       do sistema da urna eletrônica fossem 
disponibilizados para a auditoria
                       dos técnicos dos partidos políticos. Atualmente, 
parte dos programas
                       estariam protegidos por "direito autoral" e não 
podem ser auditados. O
                       partido queria que as urnas fossem impugnadas até 
que o processo
                       eletrônico se tornasse mais transparente.

                       Somente em março deste ano, depois de seis meses 
aguardando a
                       resposta, o PDT foi comunicado pelo TSE que o pedido 
de impugnação
                       das urnas foi negado em função da "perda do objeto". 
Afinal, as
                       eleições já tinham passado, quem foi eleito, 
fraudulentamente ou não,
                       já estava no cargo, e nada mais poderia ser feito. (VL)



                       POLÊMICAS

                       1 - Os dados de eleitores e candidatos são gravados 
em cartões de
                       memória e depois carregados nas urnas.

                       RISCO: alguém poderia carregar dados falsos, como 
títulos eleitorais
                       ``fantasmas'', ou trocar os números de candidatos 
para desviar votos.

                       PROTEÇÃO: o TSE utiliza um código próprio de 
criptografia (que
                       codifica os dados digitais) elaborado por equipes 
isoladas em várias
                       empresas diferentes.


                       2 - Depois de carregar os dados da urna, um técnico 
insere nela um
                       novo cartão de memória e um disquete comum, onde 
será gravado o
                       resultado da votação da seção. A urna é então 
lacrada e guardada em
                       um local com proteção policial.

                       RISCO: se furar o bloqueio policial, o fraudador 
poderia tentar instalar
                       na urna pronta um novo cartão de memória.

                       PROTEÇÃO: segundo o TSE, as urnas são programadas 
para impedir a
                       instalação de qualquer nova instrução depois de 
prontas para o uso.

                       DÚVIDA: especialistas dizem que o programa utilizado 
nas urnas nunca
                       foi avaliado por técnicos de fora do TSE. O programa 
que os partidos
                       auditam é um exemplar de teste.


                       3 - No dia da eleição, o eleitor se identifica e o 
mesário digita o número
                       de seu título para liberar a urna. O TSE pode, com 
isso, contabilizar o
                       número de eleitores

                       DÚVIDA: Especialistas dizem que ao digitar o número 
do título no
                       mesmo aparelho em que é registrado o voto levanta 
dúvidas sobre a
                       manutenção do sigilo do voto.

                       PROTEÇÃO: O TSE diz que a identificação e o voto são 
gravados em
                       áreas diferentes do disco.


                       4 - O eleitor digita o número de seu candidato na 
urna eletrônica. Na
                       tela, aparecem a fotografia, nome e número do 
candidato. O botão
                       ``confirma'' grava os dados no disquete. Ao final da 
eleição, cada
                       seção emite boletim de urna em cinco vias.

                       RISCO: Caso haja qualquer dúvida quanto à 
totalização dos votos, a
                       falta de um comprovante de cada voto impede a 
recontagem.


                       5 - O disquete e o boletim de urna são levados para 
uma central de
                       totalização no município. Os dados são transmitidos 
pela rede para o
                       TRE.

                       RISCO: alguém poderia tentar trocar o disquete que 
contém o
                       resultado da votação.

                       PROTEÇÃO: cada disquete tem uma ``identidade'', 
verificada pelo
                       computador da Justiça Eleitoral. Essa identificação 
é secreta e feita em
                       código. Se o disquete dor inutilizado, pode-se 
checar o resultado da
                       seção pelo boletim de urna.


                       6 - Nos TREs, os votos são consolidados e enviados 
para o TSE pela
                       rede da Justiça Eleitoral, como pela Internet.

                       RISCO: um hacker poderia enviar dados falsos aos 
TREs ou alterar
                       resultados já enviados . Além disso, piratas 
poderiam tentar "derrubar" a
                       rede.

                       PROTEÇÃO: os computadores da Justiça Eleitoral só 
aceita informações
                       no código criado por seus técnicos. Contra os 
ataques, o TSE
                       contratou barreiras anti-hackers de várias empresas 
diferentes.

                       Fonte: Folha de São Paulo


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Pagina, Jornal e Forum do Voto Eletronico
       http://www.votoseguro.org
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