Gente, vale a pena ler este texto preparado pelo Renato Kloss.

Al Gore x George Bush: Um ano depois…



      A recontagem dos votos na Flórida que levaram George W. Bush à
Casa Branca terminou. Foi encomendada pelos
maiores veículos de imprensa norte-americanos – nomes de grife como “New
York Times”, “Washington Post”, “Wall Street
Journal”, CNN, etc. – e empreendida pela Organização Nacional de
Pesquisa, NORC, um portento grupo estatístico filiado à
Universidade de Chicago.

      E a decisão das melhores grifes da imprensa dos EUA foi não
divulgar os resultados.

      “A publicação está adiada indefinidamente” explicou ao “Globe and
Mail” canadense Catherine Mathis,
vice-presidente de Comunicação Corporativa do “Times”. “Quando as coisas
se acalmarem, tenho certeza que estes
resultados virão a público. Mas não será nas próximas semanas”, reiterou
Steven Goldstein, que ocupa o mesmo cargo no
“Wall Street Journal”.

      Em comum todos explicam que a guerra mudou as prioridades. Todos
os recursos das redações – de financeiros a
humanos – estão dedicados à cobertura de antraz, Afeganistão e da
política em Washington. Tocar na questão da legitimidade
da presidência, hoje, pode disparar uma crise que não cabe ao momento.
Além do mais, a análise dos dados levantados pela
NORC tomaria tempo e gente demais.

      Ao “Daily Telegraph”, de Londres, Julie Antelman da NORC questiona
a decisão. “Eles estão prontos, poderiam fazer
as contas e conseguir resultados em uma semana de trabalho”. Os dados
estão todos tabulados e requerem apenas um
programa de computador que repasse a planilha e feche a conta. O
programa, diz a NORC, já existe.

      Com os números levantados dependendo de uma conta elementar, a
dúvida em pauta é por que não fazer – ou se não
já foi feito. Ou seja, se o resultado pode atrapalhar demais neste
momento e a desculpa da falta de recursos e só, afinal, uma
desculpa, então é porque George W. Bush está ocupando a cadeira que
pertence a outro.

      O consórcio de imprensa, quando se reuniu em janeiro para disparar
a recontagem dos votos, imaginava 3 resultados
possíveis:

      Cenário 1- George Bush ganhou mesmo, não há o que se discutir.

      Cenário 2 - a coisa de fato era muito confusa e não dava para
cravar ao certo um vencedor.

      Cenário 3 - Al Gore venceu por uma pequena margem, uma pena, mas
um lapso exeqüível dado o erro estatístico.

O consórcio descobriu estupefato que na recontagem Gore vencera o pleito
com toda certeza. Mesmo após deixar de lado as
cédulas problemáticas e esquecendo as mal marcadas, Gore havia vencido.
Embora os números precisos ainda não estejam
disponíveis, um jornalista do “New York Times” que estava envolvido no
projeto disse a uma companheira que Gore havia
vencido por uma margem suficiente “para criar grandes problemas para a
presidência Bush se isso vier a público”.

      O parágrafo vem da reportagem de David Podvin, um repórter
freelancer que mantém na Internet o site independente
MakeThemAccountable.com.

       Podvin cita ainda outro depoimento em off, este de um executivo
de uma das empresas que contrataram a pesquisa.
Segundo o jornalista, “informações anteriores desta fonte provaram-se
corretas”. Al Gore, pois, é o quadragésimo terceiro
presidente dos EUA.

       As dúvidas suscitadas pelas eleições do ano 2000 na Flórida
viraram assunto de livros, provaram-se traumáticas e
ainda não se resolveram. Em todo o país, Albert Gore recebeu cento e
tantos mil votos a mais que seu oponente, o então
governador do Texas. Mas, nos EUA, eleições são indiretas. Cada Estado
decide-se por um candidato e nomeia eleitores
para o Colégio Eleitoral. A vitória por votos únicos não garante – como
não garantiu – a Casa Branca.

      As 25 cadeiras no Colégio da Flórida é que decidiram. E,
estatisticamente, o voto no Estado mais ao sul dos EUA
terminou empatado, um resultado tão próximo que os parcos 180 mil
sufrágios considerados inválidos seriam bem mais que
suficientes para desempatar.

      Nos States vota-se através de um sistema de cartões perfurados
mecanicamente. O eleitor coloca o cartão numa base,
dobra uma alavanca na marca certa e o perfura. Os cartões são, então,
jogados numa máquina de contagem não muito
diferente das que tabulavam a loteria esportiva em Pindorama faz uns 10
anos. E assim foi feito. Só que buracos parcialmente
feitos, ou com o papelzinho ainda pendurado, cédulas corrigidas a mão,
todos estes casos são passíveis de serem recusados
pelas máquinas contadoras quais fossem nulos.

      A descentralização das decisões contribuiu ainda mais para a
balbúrdia. Cada um dos 67 condados da Flórida tinha
comitê eleitoral próprio que tomava decisões independentes. Após o
fatídico 7 de novembro eleitoral, uns decidiram iniciar a
recontagem manual, outros decidiram mais adiante, cada qual optando por
critérios próprios. Papelzinho pendurado preso por
3 cantos valia voto aqui, preso por um canto não valia acolá.

      As questões que beiravam ao ridículo foram parar na Justiça. A
Suprema Corte da Flórida decidiu que valia o bom
senso. O processo enrolou-se. Katherine Harris, uma republicana que
assessorava o governador Jeb Bush – irmão de George
W. Bush – tinha o poder constitucional de oficializar resultados, e com
toda a relutância e a cada momento atrapalhava um
pouco mais o processo.

      Quando bateu na Suprema Corte do país, os supremes decidiram que
mais importante que a recontagem era o prazo
em 12 de dezembro. Prazo passado, valia pois o último resultado
oficializado por Harris. George Bush levou a presidência por
537 votos, no momento em que as recontagens parciais mas jamais
oficializadas indicavam a diferença aproximando-se das
dezenas.

       Vai fazer um ano que aconteceu a eleição norte-americana para a
Casa Branca e o mundo hoje é outro -
politicamente em quase tudo distinto do que era nesta época em 2000. Os
números que estão nas mãos dos grandes jornais
norte-americanos não são oficiais e jamais mudarão o resultado oficial
do pleito.

      No entanto, se Gore tiver ganho por uma margem grande, então
estarão em xeque instituições que vão da Suprema
Corte à eleição, passando pelo Colégio Eleitoral e toda a forma como se
sustenta a democracia no país.

      Isso, decerto, desconcentraria os EUA num momento em que
concentração é fundamental. Talvez de fato, no azo em
que o país foi atacado, não seja responsável publicar esse tipo de
informação – se é que tenha sido isso mesmo. É uma
polêmica delicada entre jornalistas, mas de maneira alguma sem critério.
Afinal, na mesma Flórida, enquanto discutia-se o voto
cédula a cédula, um jovem estudante árabe tinha aulas para pilotar
avião. Chamava-se Mohammad Atta. E ocasionou um baita
prejuízo. Uma perda irreparável.

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